quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Crítica - O Hobbit - Uma Jornada Inesperada

Por Alex Constantino



Numa toca no chão vivia um hobbit...
Com essa clássica introdução inicia-se o livro escrito por J. R. R. Tolkien em 1937 e que pretendia servir apenas para entreter seu filhos com um conto infantil de fantasia, mas que alcançou sucesso imediato quando foi publicado. Sua história serviria posteriormente como prelúdio para a conhecidíssima saga do Senhor dos Anéis, se tornando um dos universos imaginários mais influentes de nossa geração.
E tudo começou nessa toca. “Não  uma toca desagradável, suja e úmida, cheia de restos de minhocas e com cheiro de lodo, tampouco uma toca seca, vazia e arenosa, sem nada em que sentar ou o que comer: era a toca de um hobbit, e isso quer dizer conforto”.
Era a casa de Bilbo Bolseiro, um hobbit pacato e sem ambições cuja ideia de aventura significava ir até sua despensa ou adega. Isso até o dia em que o mago Gandalf surgiu em sua porta em companhia de 13 anões e o incluiu numa comitiva cuja jornada significava ir até a Montanha Solitária recuperar o reino perdido dos anões e de quebra roubar o tesouro do terrível dragão Smaug, o Magnífico. Sem contar a descoberta de um certo anel que traria grandes consequência ao destino da Terra Média.
A nova incursão de Peter Jackson nesse universo guarda o mesmo clima da trilogia anterior, mas tem uma abordagem sensivelmente diferente em relação ao respeito ao material de origem. Se em O Senhor dos Anéis havia uma preocupação em ser muito fiel à saga literária, onde cada filme representava um volume escrito, desta vez, para justificar a extensão de um livro curto numa trilogia cinematográfica, incluiu-se muito conteúdo de outras fontes ou que era brevemente mencionado na história.
E os elementos extras da trama, ainda que se trata do primeiro capítulo da nova trilogia, já demonstram a preocupação em realizar a ligação com a série que narra os eventos posteriores.
Mesmo que a história seja diferente da original para acomodar sua ligação com o Senhor dos Anéis, nota-se um profundo respeito ao material-base. O cenário, a caracterização das raças e dos personagens da Terra Média novamente é o grande destaque. Quem esperava ansiosamente ver anões em ação não se decepcionará, principalmente no longo prólogo que foi incluído para explicar como o reino anão caiu ante o ataque de Smaug, este só vislumbrado de relance para não estragar a surpresa do próximo capítulo, convenientemente intitulado O Hobbit: A Desolação de Smaug.
Apesar do tom ser mais leve para acompanhar o fato de que se trata de uma história infantil, é possível perceber uma grande similitude visual. O que é louvável levando-se em conta que os efeitos especiais deste filme são mais avançados do que aqueles utilizados há dez anos.
Contribui para isso as várias aparições especiais que automaticamente remetem à trilogia anterior e mantém um senso de continuidade, ainda que se trate de um prelúdio.
O diretor repete alguns de seus vícios, como por exemplo a coreografia impossível das cenas de ação que beiram, às vezes, o cartunesco, mas que em se tratando da Terra Média, e principalmente d’O Hobbit, se torna quase uma qualidade da película.
O fato da história sofrer um pouco com o ritmo desigual de seus atos, a falta de um melhor estabelecimento da força antagônica ou a indisfarçável ocorrência de um deus ex machina para resolver o conflito final não permitem que tratemos o filme como uma obra-prima. Porém, nada impede que fiquemos maravilhados com a grande protagonista da história, que assim como nos livros de Tolkien, é a própria Terra Média.

Direção: Peter Jackson
Roteiro: Fran Walsh, Phillipa Boyens,  Guillermo Del Toro e Peter Jackson
Elenco: Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, Ken Stott,  Grahan McTavish, William Kircher, James Nesbitt, Stephen Hunter, Dean O’Gorman, Aidan Turner, John Callen, Peter Hambleton, Jed Brophy, Mark Hadlow, Adam Brown, Ian Holm, Hugo Weaving, Cate Blanchett, Andy Serkis, Sylverter McCoy e outros.
Direção de Fotografia: Andrew Lesnie
Edição: Jabez Olssen
Trilha Sonora: Howard Shore
Duração: 169 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Aventura/Fantasia
Previsão de Lançamento: 14 de Dezembro de 2012



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Crítica - Paris-Manhattan

Por Alex Constantino



Desde que a farmacêutica Alice (Alice Taglioni), em sua adolescência, viu um filme de Woody Allen pela primeira vez, se tornou obcecada pelo trabalho e pela figura dele. Ela mantém um pôster gigante em seu quarto, vive citando frases de seus filmes e costuma oferecer como tratamento a seus clientes DVDs das obras do cineasta nova-iorquino.
E assim como a protagonista, Paris-Manhattan está impregnado pela obra de Allen. Estão presentes elementos mais sutis como o próprio tom e estilo. Mas há também referências mais explícitas, apresentando-se uma personagem experimentando uma crise existencial, onde o  próprio cineasta vem ao auxílio da protagonista através de frequentes diálogos com o pôster em que ele despeja fartas doses de citações de seus filmes.
Isso não quer dizer que o filme não faça uso das maiores convenções do gênero, principalmente em relação ao encontro de Alice com seu potencial parceiro romântico Victor (Patrick Bruel) em circunstâncias incomuns e cômicas. E nesse encontro há ainda o recorrente estranhamento inicial entre o casal e o aparente choque de personalidades e crenças.
Portanto, não espere originalidade em relação à história porque já é possível antever a solução ao suposto dilema de Alice em escolher entre o ranzinza e feio Victor ou o simpático e boa-pinta Vincente (Yannic Soulier). E o título do filme, de certa maneira se justifica entre essa escolha entre o primeiro (Paris) ou o segundo (Manhattan).
De certa forma, mesmo que muito calcado na obra de Allen, um certo frescor advém do tempero francês, onde mesmo seguindo uma estrutura hollywoodiana, há diálogos e ações menos pudicos.

Direção: Sophie Lellouche
Roteiro: Sophie Lellouche
Elenco: Alice Taglioni, Patrick Bruel, Marine Delterme, Louis-Do de Lencquesaing, Michel Aumont, Marie Christine, Yannick Soulier Adam e outros.
Diretor de Fotografia: Laurent Machuel
Edição: Monica Coleman
Trilha Sonora: Jean-Michel Bernard
Duração: 77 min
País: França
Ano: 2012
Gênero: Comédia Romântica
Previsão de Lançamento: 11 de janeiro de 2013

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Crítica - A Origem dos Guardiões

Por Alex Constantino



Na nova animação da Dreamworks, North/Papai Noel (Alec Baldwin), Bunny/Coelho da Páscoa (Hugh Jackman), Tooth/Fada dos Dentes (Isla Fisher) e Sandy/Sandman (mais conhecido no Brasil como João Pestana) foram escolhidos pelo Homem da Lua como guardiões e cada um deles é responsável, à sua maneira, por proteger todas as crianças. Em retribuição, seu poder provém da crença que cada uma delas alimenta sobre eles.
Porém, Pitch/Bicho-Papão (Jude Law) pretende retomar o poder que possuía na idade média, quando todas as crianças acreditavam em sua existência e o temiam. Para isso ele coloca em ação um plano engenhoso para destruir a crença nos guardiões enquanto amplia seu exército de pesadelos. É a maior ameaça que os guardiões já enfrentaram e para auxiliá-los o Homem da Lua nomeia um novo guardião, Jack Frost (Chris Pine), que pode ser decisivo na batalha, desde que primeiro se reconcilie com seu passado encontrando suas memórias perdidas e descubra seu verdadeiro cerne.
A partir daí acompanhamos um aventura épica, bem mais focada em agradar o público infantil já que foram deixadas de lado as costumeiras referências adultas que se fazem nas animações recentes para também agradar os marmanjos. E diante da temática, faz bastante sentido porque a história lida com ícones infantis que, assim como no filme, resistem em nosso mundo exatamente pela crença alimentada pelas crianças.
Isso não quer dizer que não seja agradável aos adultos, uma vez que remete a um elemento nostálgico e também existe todo o encanto de proporcionar essa fantasia aos pequenos.
Além disso, o grande destaque vai para a direção de arte com um belo design dos personagens - em especial do Sandman - e soluções inspiradas de cenários, como a fábrica do Noel, a toca do Coelho ou o castelo da Fada.
Por outro lado, a animação é excessivamente vertiginosa, o que não casa muito bem com o 3D que pede uma profundidade de campo maior e parcimônia nas mudanças abruptas de foco. Ao contrário, o filme investe, muitas vezes sem qualquer justificativa, em movimentar a câmera freneticamente como na cena inicial em que Jackie Frost aparece esquiando no gelo, sendo que isso não acrescenta nada, ao contrário, prejudicada bastante.
Na sessão foi possível logo no começo ouvir uma criança reclamando para a mãe que já estava enjoada e creio que não será raro que isso se repita.
Além disso, apesar da originalidade de utilizar as figuras infantis como um grupo contra um inimigo que é também do universo das crianças, o roteiro é bastante previsível e é possível antecipar acontecimentos e o próprio final com alguma facilidade.
Nada, porém, que prejudique seu público principal de se divertir com a história e de se identificar com as crianças do filme.

Direção: Peter Ramsey
Roteiro: David Lindsay-Abaire
Elenco: Hugh Jackman, Alec Baldwin, Isla Fisher, Jude Law, Chris Pine, Dakota Goyo, Khamani Griffin, Kamil McFadden e outros.
Diretor de Arte: Max Boas
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 97 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Aventura (Animação)
Previsão de Lançamento: 30 de novembro de 2012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Crítica -O Homem da Máfia

Por Alex Constantino



O terceiro filme de Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford) abre com Frankie (Scoot McNairy) caminhando enquanto ouvimos trechos de um discurso de Obama, entrecortado com as inserções abruptas dos créditos iniciais, sempre anunciadas por um incômodo barulho.
Ao encontrar com Russel (Ben Mendelsohn) somos levados ao grande prólogo que mostra o assalto cometido pelos dois à uma casa de carteado administrada por Markie (Ray Liotta).
Frankie acabou de sair da prisão e sua situação econômica está precária, portanto, não tem como recusar a proposta do Esquilo (Vincent Curatola) que narra a história de como Markie roubou a próprio esquema de jogatina e conseguiu sair ileso. Como ele passou a se gabar de seu feito, um novo assalto ao local faria com que todas as suspeitas recaíssem sobre o administrador da casa e, com a punição dele, os verdadeiros assaltantes não seriam descobertos.
Parecia o plano perfeito, mas ainda que o roubo tenha sido bem sucedido, a participação do chapado Russell já prenunciava problemas. E é aí que entra Jackie (Brad Pitt), o responsável pela máfia do jogo em aplicar a lei do crime local e restabelecer a ordem.
Durante um período que corresponde ao final do segundo mandato de Bush e a eleição de Obama, acompanhamos Jackie na execução de seu serviço de localizar e dar cabo dos responsáveis pelo assalto.
Vários diálogos dos candidatos, assim como de Bush sobre a grande crise econômica que explodiu naquele país, fazem intromissões durante a história e, por vezes, se sobrepõem ao que está acontecendo em cena.
Ao apresentar os reflexos no mundo do crime de todos esses males que assolam os EUA o diretor cria uma alegoria para o mundo dos negócios, a política e a economia norte-americana.
A máfia é um grande negócio e é representada com uma estrutura corporativa. Uma empresa que sente o impacto da crise econômica ainda que se desenvolva à margem da lei.
Mais do que um filme de máfia ou uma história de crime, é um drama centrado nos personagens que dentro de seu universo demonstram que a crise vitima a todos. E a escolha do cenário desolado de New Orleans, destruído pelo desastre natural que assolou aquela cidade, exterioriza a própria desolação econômica e política do país.
O filme derrapa um pouco a partir da metade onde a mensagem implícita e alegórica cede lugar a um discurso cada vez mais explícito, chegando a soar panfletário na cena final.
No entanto, a  grande performance do elenco, capitaneado por Pitt, eleva o interessante trabalho de direção com cenas de violência brutal e sem redenção. Existem também cenas de humor negro como toda a sequência do “envio” da carga canina roubada a ser desovada na Flórida.
Ambos os momentos se complementam para ilustrar o cenário geral onde até os inclementes não passam de vítimas da grande inclemência do vilanesco sistema econômico mundial.

Direção: Andrew Dominik
Roteiro: Andrew Dominik
Elenco: Brad Pitt, Ray Liotta, Richard Jenkins, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn, James Gandolfini, Vincent Curatola, Trevor Long, Max Casella e outros.
Diretor de Fotografia: Greig Fraser
Edição: John Paul Horstmann e Brian A. Kates
Duração: 97 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 30 de novembro de 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Crítica - As Palavras

Por Alex Constantino



Bradley Cooper parece ter tomado gosto de personificar uma figura artística de talento discutível que se vale de outros subterfúgios para ganhar algum reconhecimento.
Não, não é uma crítica à qualidade da sua atuação, embora, estranhamente, faça algum sentido entendida dessa forma.
O que chama a atenção é seu interesse em reprisar o papel de um escritor atormentado pela constatação de que não possui as qualidades necessárias para viver de sua escrita, mas que acaba topando com uma solução externa que lhe permite viver seu sonho por um breve período até se transformar no pesadelo de conviver com sua farsa.
Em Sem Limites o auxílio vinha através de uma droga experimental que permitia ao personagem usar 100% de seu cérebro e, magicamente, transformar toda a informação coletada em conhecimento, uma habilidade que despertou o interesse em utilizá-lo como ferramenta para fazer bilhões no mundo corporativo.
Em As Palavras, Rory Jansen (Bradley Cooper) consegue a incrível façanha de ser laureado como um escrito promissor já em seu primeiro romance. Ele desfruta do sucesso comercial e de crítica, mas há um problema: o livro não foi escrito por ele.
E a situação fica mais complicada quando a única pessoa que sabe de seu engodo vem ao seu encontro: o verdadeiro autor.
Num drama apresentado em camadas acompanhamos a própria vida de Rory, antes e depois do sucesso, assim como a história contada em seu livro que é repetida e ampliada pelo velho sem nome (Jeremy Irons) que revela que se trata de seu próprio passado.
Enquanto isso, ambas as histórias, na verdade, fazem parte de um livro que é narrado por Clay Hammond (Dennis Quaid).
Confuso? Nem tanto. E esse resumo faz parecer que a história é mais refinada do que ela realmente é. Não se enganem, é um drama linear que intercala cenas dos três eixos narrativos e que tenta estabelecer alguma relação entre eles.
Houve a preocupação em distinguir visualmente cada uma das histórias, em especial aquela que se passa durante o período da 2ª Guerra Mundial, usando uma granularidade diferente e a indefectível saturação da cor para remeter a algo envelhecido.
Porém, não se pode dizer que haja qualquer surpresa ou originalidade visual ou narrativa. Não há nada que incomode (muito), mas também há pouco com o que se encantar, a não ser a ótima atuação de Irons.
Existe até uma moral embutida que repercute negativamente no personagem interna e externamente, eis que fica se remoendo em remorso enquanto sua relação afetiva com Dora (Zoe Saldana) é estremecida.  Apesar disso, está longe de ser um filme impactante, assim como a suposta grande revelação final.

Direção: Brian Klugman e Lee Sternthal
Roteiro: Brian Klugman e Lee Sternthal
Elenco: Bradley Cooper, Zoe Saldana, Dennis Quaid, Olivia Wilde, Jeremy Irons, John Hannah, J.K. Simmons, Ron Rifkin, Ben Barnes, Nora Arnezeder, Zeljko Ivanek e outros.
Diretor de Fotografia: Antonio Calvache
Edição: Leslie Jones
Trilha Sonora: Marcelo Zarvos
Duração: 97 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 23 de novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crítica - Marcados para Morrer

Por Alex Constantino



Novamente o diretor David Ayer (Tempos de ViolênciaOs Reis da Rua) dá vazão ao seu fascínio pelo Departamento de Polícia de Los Angeles e coloca no centro da história Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) e Mike Zavala (Michael Peña), dois policiais da LAPD.
Desta vez, acompanhamos a dupla lidando com a rotina de patrulha num dos setores mais violentos da cidade, enquanto conhecemos um pouco sobre a vida de cada um deles.
A violência que encaram fica maior quando são marcados para morrer por um grande cartel mexicano por terem prejudicado algumas de suas operações.
Para acentuar essa violência o diretor opta por um tom mais realista, frequentemente se utilizando de imagens captadas por câmeras de vigilância, como aquelas instaladas nas patrulhas para registrar a abordagem dos policiais.  Utiliza, inclusive, pequenas câmeras instaladas nos protagonistas, pois Brian pretende gravar uma espécie de documentário registrando seu trabalho para a obtenção de créditos num curso de cinema, tudo para conseguir sua admissão na escola de Direito.
Assim, o que poderia ser uma ótima ferramenta de caracterização do personagem soa mais como uma justificativa esfarrapada do diretor para levar adiante seu interesse num pretenso registro realista.
E a adoração de Ayer pela polícia de Los Angeles o leva à sua fetichização, mostrando-a praticamente como uma ordem de cavaleiros em meio ao caos que domina a cidade. Já nos créditos iniciais ele inicia com  uma recitação do código de conduta de sua cavalaria e, se em Os Reis da Rua o mal estava entranhado no próprio departamento, desta vez vemos figuras altivas, imponentes e acima de qualquer suspeita.
Ao mesmo tempo, o diretor tenta humanizar seus homens da lei, mostrando um pouco da rotina privada de seus protagonistas, enquanto aproveita isso para intensificar o laço de simpatia que estabelecem com o público.
A dinâmica estabelecida pelos atores que interpretam os protagonistas é a grande qualidade da película, mas a insistência do diretor pelo registro documental acaba enfraquecendo a história, onde inclui cenas sem qualquer propósito benéfico para a trama, tudo para levar adiante seu projeto estético.
E com isso, não só atrapalha o ritmo como comete erros ingênuos, apresentando cenas com informações expositivas e desnecessárias, uma vez que são redundantes com o que já foi mostrado.  Não existe justificativa para mostrar a imagem de uma câmera noturna na fronteira com o México só para flagrar a conversa do chefão do cartel encomendando a morte dos protagonistas. Já tinha ficado muito óbvio anterormente que ao prejudicarem os negócios da organização, mesmo que acidentalmente, seu destino era inevitável.
É o mesmo que ocorre na inclusão da cena de conversa com um membro de outra gangue que os avisa  sobre rumores de que estão marcados para morrer.
Isso sem contar com a boba cena do sargento que numa festa faz um discurso a um bando de jovens soldados e, ao contar sua história, antecipa o desfecho da trama, tornando-a, já a partir da metade da película, muito previsível.
É estranho que um diretor que é também um roteirista experiente no ofício, faça escolhas que revelam certa insegurança. Ou talvez seja fraqueza ao permitir a ingerência de interesses mais comerciais, incluindo um epílogo para amenizar o clima deixado pelo final.
No fim, o que seria um retrato da dura rotina da polícia e poderia valorizar seu trabalho, parece mais uma imagem com fartas doses de retocagem no photoshop e, portanto, repleta de desconfiança.

Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Anna Kendrick, Natalie Martinez, David Harbour, Frank Grillo, America Ferrera, Cody Horn e outros.
Diretor de Fotografia: Roman Vasyanov
Edição: Dody Dorn
Trilha Sonora: David Sardy
Duração: 109 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 09 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Crítica - Argo

Por Alex Constantino



Em 1979, eclodiu no Irã uma revolução popular que culminou com o retorno ao país do aiatolá Ruhollah al-Khomeini após a fuga para os EUA do Xá da Pérsia, Reza Pahlevi, um implacável ditador que havia reinado desde 1953 com o apoio político-militar do Ocidente.
A vitória do povo sobre o exército do Xá, que era municiado e treinado pelos EUA, inflamou os brios nacionalistas e como o movimento foi orquestrado pelos fundamentalistas, isso marcou o renascimento do fundamentalismo islâmico  em toda a região.
A multidão furiosa, imbuída de confiança, ocupou os ruas de Teerã exigindo a extradição de Pahlevi para que fosse realizado o acerto de contas. Com isso, a embaixada dos Estados Unidos foi invadida por revolucionários iranianos e muitos funcionários norte-americanos foram feitos reféns para servirem como moeda de troca.
Porém, seis deles conseguiram escapar e se refugiaram clandestinamente na residência oficial do embaixador canadense. Suas vidas estavam em risco, assim como de seus anfitriões, pois não podiam contar com a “segurança” dos cativos diante da exposição mundial de sua condição,  que impedia que fossem alvo de atos de barbárie.
Marcando uma corrida contra o tempo e diante das condições precárias do caso, um agente especialista da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), foi convocado para resolver a situação, elaborando um plano ousado: criar um falso projeto cinematográfico canadense (que dá nome ao filme) e, com o pretexto de realizar uma pesquisa de locações, aproveitar o engodo para retirar os refugiados como parte da equipe da filmagem.
E com base nesse pano de fundo histórico, Ben Affleck, que também dirige a película, apresenta um drama muito bem orquestrado, que mantém uma fidelidade muito grande com sua contraparte verídica. É o que ele faz questão de mostrar nos créditos finais, como uma maneira de convencer o espectador de que a história  foi real e que a menção de que se baseia em fatos verídicos não é somente uma ferramenta de marketing do filme, como usualmente ocorre.
Obviamente, foram utilizados alguns artifícios narrativos para aumentar a dramaticidade e o interesse pela história, mas chama a atenção o cuidado tomado para que a obra, narrativa e visualmente, fosse a mais fiel possível.
O próprio estilo adotado tenta emular a época em que a história se passa, com direito a detalhes como a tipografia  dos créditos iniciais e o próprio logo da Warner Bros, estúdio que patrocinou a realização do filme.
Isso em relação à parte da trama que mostra os refugiados, já que a outra porção dela, que se concentra em mostrar a criação do engodo com o uso de profissionais da indústria do cinema, possui um tom cômico que destoa bastante da outra metade, ainda que apresente um humor inteligente e sarcástico em relação à própria Hollywood, humor este capitaneado pelas atuações competentes de John Goodman e Alan Arkin.  Aliás, merecem destaque as demais atuações com a película recheada de astros da TV apresentando que conseguem render melhor quando bem dirigidos.
Apesar disso, Ben Affleck se mostra um diretor seguro, que em grande parte do tempo oferece uma narrativa inventiva e competente, ainda que haja alguns exageros do roteiro, como ocorre no clímax com a desnecessária inclusão de uma complicação em relação às passagens áreas, como se toda o desenrolar da trama já não fosse angustiante o bastante sem esse elemento equivocado.
Esse novo trabalho deixa evidente do porquê que a Warner Bros tem abrigado com boa vontade e entusiasmo os projetos do jovem cineasta e vem cogitando fortemente colocar nas mãos de Affleck projetos comerciais muito importantes do estúdio com o vindouro filme da Liga da Justiça. Especulações à parte, ele que já foi o Superman em Hollywoodland e o Demolidor no cinema demonstra mais uma vez que é muito mais forte quando está despido de sua fantasia de ator.

Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Craston, Alan Arkin, John Goodman, Victor Garber, Tate Donovan, Clea Duvall, Scoot McNairy, Rory Cochrane, Christopher Denham, Kerry Bishé, Kyle Chandler, Chris Messina, Zeljko Ivanek, Titus Welliver e outros.
Diretor de Fotografia: Rodrigo Pietro
Edição: William Goldenberg
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Duração: 120 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 9 de novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Crítica - Histeria

Por Alex Constantino



Na Londres vitoriana, o jovem Dr. Mortimer Granville (Hugh Dancy) tenta sem sucesso estabelecer uma carreira médica, mas encontra resistência de seus pares mais velhos por defender práticas tidas como absurdas, como sua insistência na existência de germes e preocupação com a higiene no ambiente hospitalar para eliminá-los.
Depois de passar por todas as casas de saúde londrinas, ele acaba sendo contratado pelo Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Price) para auxiliá-lo em sua próspera clínica dedicada a diagnosticar e  tratar a histeria, segundo ele um mal que aflige  muitas mulheres e demanda um tratamento pouco ortodoxo.
Enquanto assistente residente na clínica do Dr. Dalrymple, Mortimer conhece a encantadora Emily (Felicity Jones) e a libertária Charlotte (Maggie Gyllenhaal).
A partir de então acompanhamos o protagonista, junto com seu irmão adotivo, o dândi Edmund (Rupert Everett),  desenvolvendo um apetrecho sexual que se tornaria muito conhecido dali em diante.
Nos créditos iniciais e no trailer do filme existe uma preocupação em destacar que a trama se baseia em fatos reais e tudo leva a crer que seremos apresentados a uma narrativa divertida que contaria a história da criação do vibrador.
Porém, mais chocados do que as mulheres que no fim do séc. XIX experimentaram aquela estranha novidade, somos enganados porque se trata de uma comédia romântica sem qualquer originalidade, já que o tema mais interessante, diferente do que foi prometido, é desenvolvido apenas de maneira tangencial à trama principal.
Nos deparamos com todos os clichês do gênero como a personalidade desajustada de um dos protagonistas, o estranhamento inicial entre o par romântico e a revelação final quanto ao sentimento entre eles. Isso tudo mostrado sem qualquer criatividade ou inventividade.
O filme é bem simpático e como fonte de entretenimento tem lá seu valor, mas como não explora o tema mais promissor em prol de oferecer mais do mesmo, fica-se com a impressão de que uma oportunidade potencial foi perdida.
Do mesmo modo, questões históricas interessantes (direito a voto, estudo, etc) são abordadas de maneira superficial, mais para demonstrar as idiossincrasias que tornam Charlotte uma figura peculiar no universo do filme do que destaca-las como conquistas feministas importantes. O que, no final das contas, acaba diminuindo sua relevância.
As damas vitorianas que experimentaram a novidade saíram positivamente surpreendidas, já o filme não causou a satisfação que prometia.

Direção: Tanya Weler
Roteiro: Stephen Dyer e Jonah Lisa Dyer
Elenco: Hugh Dancy, Maggie Gyllenhaal, Jonathan Pryce, Felicity Jones, Rupert Everett,  Asheley Jensen, Sheridan Smith, Gemma Jones, Malcolm Rennie, Kim Criswell e outros.
Diretor de Fotografia: Sean Bobbitt
Edição: Jon Gregory
Trilha Sonora: Gast Waltzing
Duração: 100 min
País: Reino Unido/França/Alemanha/Luxemburgo
Ano: 2012
Gênero: Comédia Romântica
Previsão de Lançamento: 9 de novembro de 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Crítica - Magic Mike

Por Alex Constantino




Baseado levemente na história do próprio Channing Tatum antes de ser alçado ao estrelato, no filme ele interpreta Mike, o grande astro de uma casa de strip-tease, que apresenta a Adam (Alex Pettyfer) o mundo da dança sensual masculina, uma alternativa tentadora para um jovem sem perspectivas obter dinheiro, festas e mulheres.
Por detrás dessa fachada se esconde um personagem em conflito com sua profissão e a superficialidade que seu estereótipo carrega. Ciente de que sua mágica é finita ele se encontra em busca de mais substância em sua vida pessoal e profissional.
E daí soa estranha a escolha do diretor Steven Soderbergh para apresentar essa história, uma vez que é bem conhecido por privilegiar o estilo em detrimento da substância, tudo o que o protagonista tenta refutar ao longo da trama que acompanhamos.
Portanto, prepare-se para uma enxurrada de contra-plongée (enquadramento que mostra o personagem/objeto de baixo para cima)  durante os números, tudo para deixar clara a visão idealizada que as mulheres tem dos stripers, assim como a posição dominância que exercem em seu público.
Sem contar que evidencia sua posição como objeto de desejo, como um vaso ou escultura em exposição num pedestal.
O filme é quase uma reprodução dos próprios espetáculos de strip-tease masculinos, ou melhor, da visão estereotipada deles, em que sobra empenho no visual dos números e há pouco esforço em fornecer qualquer sustância, afinal essa só se justifica como uma desculpa esfarrapada para a fetichização de alguns estereótipos profissionais (e além de bombeiros e soldados, temos até mesmo um Ken).
Existe um esforço bem intencionado de conferir maior profundidade à trama, investindo na apresentação de uma atividade e interesse romântico para dar a oportunidade de “redenção” ao protagonista, enquanto se busca demonstrar os supostos excessos desse meio.
Porém, a única coisa que vemos é o reforço de um conceito estereotipado e que entra em contradição com os próprios fatos em que se baseia, já que a própria história de Tatum, de certa maneira, nos lembra que existe aí algum preconceito.
E o filme ao invés de repeli-lo o envolve pela cintura e faz com ele um número de sexo encenado. Afinal, para Hollywood, assim como nas casas de strip-tease o que importa é voltar para a coxia com a cueca recheada de trocados

Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Reid Carolin
Elenco: Channing Tatum, Alex Pettyfer, Matthew McConaughey, Olivia Munn, Cody Horn, Reid Carolin, Joe Manganiello, Matt Bomer, Adam Rodriguez, Kevin Nash, Gabriel Iglesias  e outros.
Diretor de Fotografia: Steven Soderbergh (como Peter Andrews)
Edição: Steven Soderbergh (como Mary Ann Bernard)
Duração: 110 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 02 de novembro de 2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica - Além das Montanhas

Por Alex Constantino




O diretor romeno Cristian Mungiu, assim como fez no excelente 4 meses, 3 semanas e 2 dias,  trata novamente em Além das Montanhas da relação entre duas amigas que tem os limites de sua amizade testados quando se veem envolvidas numa situação extrema em decorrência do contexto opressor em que vivem.
Desta vez, com base em fatos verídicos, o filme conta a história de Alina (Cristina Flutur) que retorna à sua terra natal para reencontrar sua grande amiga de infância  Voichita (Cosmina Stratan), com quem cresceu num orfanato. Seu plano de leva-la para a Alemanha é frustrado pela resistência da jovem em abandonar o modesto convento romeno em que vive, onde as freiras seguem com devoção o regime estrito de vida imposto pela visão rígida e particular de fé de seu líder católico ortodoxo.
Nas palavras do diretor, o filme é sobre o amor e o livre-arbítrio: principalmente sobre como o amor pode converter os conceitos de bom e mau em algo bem relativo.
E por isso não há a personificação do mal em qualquer personagem,  sendo que todos, intrinsicamente, são pessoas boas, onde os atos de vilania são praticados em nome da fé e com uma convicção absoluta de que atendem a uma boa causa.
Todos os personagens são vítimas das circunstâncias e da própria apatia, ignorância e subserviência com que se apegam  à instituição religiosa representada no filme, usando sua conduta inerte como mecanismo de sobrevivência  em consequência de uma sucessão de agruras a que foram submetidos .
Há uma despersonalização em que, quanto mais arraigada  a crença naquela instituição e modo de vida, mais apagada se torna a individualidade. E aí temos todas as freiras em hábitos negros num cenário asséptico e sempre se manifestando em murmúrios coletivos. O líder, como a figura mais entranhada institucionalmente, é o que está mais degrado, tendo lhe sido tolhido até mesmo o maior sinal de individualidade, eis que no filme é chamado apenas de Padre; sua função não seu nome.
E não deixa de ter razão o diretor quando afirma que Além das montanhas é também sobre certa maneira de experimentar a religião, onde há uma opção equivocada na quantidade de atenção dispensada pelos que têm fé no esforço de seguir hábitos e regras de uma religião ao invés da dedicação à essência e sabedoria dela no dia-a-dia de suas vidas.
O roteiro é muito bem construído e a opção por planos longos valoriza sua proposta, nos recompensando com a entrega dos atores, que submetidos à cenas externas em condições extremas e repletas de exigências físicas, conseguem  transmitir todas as ideias acima sem ter que recorrer a muletas ou diálogos expositivos.
Não à toa que as intérpretes das duas amigas dividiram o prêmio de melhor atriz em Cannes neste ano, assim como o roteiro saiu premiado do festival. Por essa razão também que foi a escolha oficial da Romênia para representa-la na seleção dos filmes estrangeiros a concorrer ao Oscar 2013.
O filme não tem previsão de estreia no circuito comercial nacional, mas consta na programação da Mostra Internacional de Cinema que está ocorrendo e é uma opção imperdível.
ATUALIZAÇÃO: A Califórnia Filmes acabou de divulgar que o filme estreará no dia 14 de dezembro de 2012. Fiquem atentos, pois é uma oportunidade de assistir essa grande obra.

Direção: Cristian Mungiu
Roteiro: Cristian Mungiu e Tatiana Niculescu
Elenco: Cosmina Stratan, Cristina Flutur, Valeriu Andriuta, Dana Tapalaga, Catalina Harabagiu, Gina Tandura, Vica Agache, Nora Covali, Dionisie Vitcu, Ionut Ghinea, Liliana Mocanu, Doru Ana e outros.
Diretor de Fotografia: Oleg Mutu
Edição: Mircea Olteanu
Duração: 150 min
País: Romênia, Bélgica e França
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 14 de dezembro de 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crítica - 007 - Operação Skyfall

Por Alex Constantino



No ano em que a franquia cinematográfica inspirada na obra do escritor Ian Fleming  completa seu 50º aniversário, é lançado seu 23º filme, mais uma vez contando com Daniel Craig como o agente inglês.
No 3º capítulo dessa nova encarnação do personagem, é deixada de lado a continuidade estabelecida nos 2 filmes anteriores e acompanhamos o fatídico desfecho de uma missão de James Bond, que é dado como morto e, em consequência de seu fracasso, é revelada a identidade de vários agentes secretos do MI6 espalhados pelo mundo.
Concomitantemente,  a sede do serviço secreto inglês sofre um atentado e M (Judi Dench) vê sua posição ameaçada pela ingerência de Mallory (Ralph Fiennes), o novo presidente da Comissão de Inteligência e Segurança.
Com o MI6 sob ameaça externa e interna, M só pode contar com Bond, que retornando dos mortos, pretende auxiliá-la contra o misterioso Silva (Javier Bardem), um vilão do passado da chefe da agência que voltou para assombrá-la.
E com essa premissa, Operação Skyfall marca um certo distanciamento do tom “realista” que havia sido estabelecido nos capítulos anteriores dessa nova versão.
Se nos 2 filmes anteriores tínhamos um homem mais real numa situação mais real, agora vemos o retorno do personagem a um terreno mais fantasioso, mais próximo das histórias do Bond apresentadas anteriormente.
Por isso, as motivações e ações do vilão são mais cartunescas, assim como sua caracterização, que nas palavras de seu intérprete, possui uma mistura de perversidade e afetação.
Ele é tão afetado quanto seu próprio plano de vingança pessoal, que faz uso malsucedido de uma quantidade inimaginável de recursos e planejamento, sendo que haveria opções menos dispendiosas e muito mais simples e efetivas.
Visualmente a história é muito bem apresentada e as cenas de ação continuam bem realizadas, mas é um show de pirotecnia que se desenrola na superfície de um pires.
A reintrodução de alguns personagens e elementos clássicos não é lá muito inspirada, aparecendo mais como um afago aos fãs, como a apresentação do passado do protagonista e de sua relação com M, realizada de maneira formulaica e muito superficial.
É o que ocorre também com a simpática aparição do Aston Martin DB5 onde, toda vez que o veículo entra em ação, temos o retorno de uma trilha clássica.
Assim, para quem tinha gostado da versão mais realista pode ficar um pouco decepcionado, mas ainda continua sendo uma fonte divertida de entretenimento e um prato cheio para quem adora os personagens extravagantes que povoam as películas antigas.
Ah, e para os fãs da cantora Adele tem sua canção gravada especialmente para o filme e que embala os créditos iniciais.  Aliás, créditos estes que parecem um verdadeiro videoclipe da música e que é um resumo estilizado de toda a história que está prestes a ser assistida.

Direção: Sam Mendes
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade e John Logan
Elenco: Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Ben Whishaw, Helen Mccrory, Bérénice Marlohe, Albert Finney e outros.
Diretor de Fotografia: Roger Deakins
Edição: Stuart Baird
Trilha Sonora: Thomas Newman
Duração: 143 min
País: Reino Unido/USA
Ano: 2012
Gênero: Ação
Previsão de Lançamento: 26 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crítica - Os Candidatos

Por Alex Constantino



O congressista Cam Brady (Will Ferrell) está concorrendo ao quinto mandato consecutivo para representar seu distrito na Carolina do Norte. Porém, uma grande gafe pública, às vésperas da eleição, pode atrapalhar sua candidatura e, principalmente, os interesses dos poderosos irmãos Motch (John Lithgow e Dan Aykroyd) que pretendem transformar o distrito em sua central de manufatura chinesa com mão-de-obra barata e, desta vez, sem o inconveniente dos custos com frete para transportar mercadorias da China.
Assim,  os inescrupulosos lobistas escolhem Marty Huggins (Zach Galifianakis), o inocente diretor do Centro de Turismo local, para representar seus interesses e, com a ajuda de Tim Wattley (Dylan McDermott), seu arrojado gerente de campanha, inicia-se uma acirrada disputa em que os candidatos mergulham cada vez mais fundo nas baixarias que fazem parte do circo político.
O diretor Jay Roach (Entrando numa Fria, série Austin Powers) que já havia criticado o sistema político americano através dos dramas da HBO “Recount” e “Game Change”, desta vez, resolveu abordar o tema sobre o nível ético das campanhas eleitorais sob um viés cômico, que o permitiu confrontar a questão de forma direta, ainda que elevando situações corriqueiras que presenciamos no espetáculo eleitoral a um  alto nível de absurdo.
Segundo os produtores a intenção era apresentar uma crítica que não se foca nos políticos e, sim, no processo, destacando o fato de que muitas das campanhas tem pouca relação com os partidos, problemas ou ideologias,  e mais com gastar, brigar e vencer.
Apesar disso, soa estranho que a intenção seja se concentrar na situação, mas tenham exagerado na dose de absurdo na caracterização dos personagens, ainda mais ao colocar Will Ferrell e Zach Galifianakis para interpretar seus tipos costumeiros.
Sim, está ficando repetitivo mencionar que os comediantes estão se especializando em representar um mesmo personagem em todos os seus filmes, assim como comentado em relação a Vizinhos Imediatos de 3º Grau e Hotel Transilvânia. Bem, esta falta de originalidade repete no texto a própria falta de versatilidade dos comediantes americanos.
E é interessante como isso compromete o discurso proposto pelo filme, pois assim como na maioria das comédias e comediantes provenientes do Saturday Night Live, há uma transferência para  a grande tela do mesmo humor precário e esquemático.
Basta constatar que a história foi criada a partir de uma ideia do produtor Adam McKay, conhecido pelo programa humorístico mencionado acima, onde colaborou com Ferrell durante anos, escrevendo muitas das esquetes para Will como George Bush e para Darrell Hammond como Bill Clinton.
Portanto, é uma colagem de esquetes fantasiadas bem porcamente com farrapos de uma trama para dar a impressão de conter uma história.
Não que o filme não tenha situações engraçadas, principalmente porque sabendo antecipadamente da classificação que o filme obteria, não houve a preocupação de restringir o limite das piadas.
E a graça está também no fato de que, apesar dos absurdos, nós conseguimos identificar uma boa parte do que se encontra ali com sua contraparte nas campanhas eleitorais reais, ainda que isso seja mais mérito do espectador ao fazer essa relação do que uma qualidade do filme.
Porém, pensando melhor,  para nós brasileiros, fica difícil nos impressionarmos com a comédia, porque temos uma rica tradição cômica na política nacional. Os slogans absurdos dos candidatos do filme soam pálidos e sem graça quando lembramos do conhecido bordão: “rouba mas faz”.
Vamos valorizar o horário político: o pior da política e o melhor da comédia nacional. O absurdo da vida real, oferecido ao povo de graça e com classificação livre. Isso sim é arrojado.

Direção: Jay Roach
Roteiro: Chris Henchy e Shawn Harwell
Elenco: Will Ferrell, Zach Galifianakis, Jason Sudeikis, Dylan McDermott, Katherine LaNasa, Sarah Baker, John Lithgow, Dan Aykroyd, Brian Cox, Karen Maruyama  e outros.
Diretor de Fotografia: Jim Denault
Edição: Craig Alpert e Jon Poll
Trilha Sonora: Theodore Shapiro
Duração: 85 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Previsão de Lançamento: 19 de outubro de 2012