quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crítica - Marcados para Morrer

Por Alex Constantino



Novamente o diretor David Ayer (Tempos de ViolênciaOs Reis da Rua) dá vazão ao seu fascínio pelo Departamento de Polícia de Los Angeles e coloca no centro da história Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) e Mike Zavala (Michael Peña), dois policiais da LAPD.
Desta vez, acompanhamos a dupla lidando com a rotina de patrulha num dos setores mais violentos da cidade, enquanto conhecemos um pouco sobre a vida de cada um deles.
A violência que encaram fica maior quando são marcados para morrer por um grande cartel mexicano por terem prejudicado algumas de suas operações.
Para acentuar essa violência o diretor opta por um tom mais realista, frequentemente se utilizando de imagens captadas por câmeras de vigilância, como aquelas instaladas nas patrulhas para registrar a abordagem dos policiais.  Utiliza, inclusive, pequenas câmeras instaladas nos protagonistas, pois Brian pretende gravar uma espécie de documentário registrando seu trabalho para a obtenção de créditos num curso de cinema, tudo para conseguir sua admissão na escola de Direito.
Assim, o que poderia ser uma ótima ferramenta de caracterização do personagem soa mais como uma justificativa esfarrapada do diretor para levar adiante seu interesse num pretenso registro realista.
E a adoração de Ayer pela polícia de Los Angeles o leva à sua fetichização, mostrando-a praticamente como uma ordem de cavaleiros em meio ao caos que domina a cidade. Já nos créditos iniciais ele inicia com  uma recitação do código de conduta de sua cavalaria e, se em Os Reis da Rua o mal estava entranhado no próprio departamento, desta vez vemos figuras altivas, imponentes e acima de qualquer suspeita.
Ao mesmo tempo, o diretor tenta humanizar seus homens da lei, mostrando um pouco da rotina privada de seus protagonistas, enquanto aproveita isso para intensificar o laço de simpatia que estabelecem com o público.
A dinâmica estabelecida pelos atores que interpretam os protagonistas é a grande qualidade da película, mas a insistência do diretor pelo registro documental acaba enfraquecendo a história, onde inclui cenas sem qualquer propósito benéfico para a trama, tudo para levar adiante seu projeto estético.
E com isso, não só atrapalha o ritmo como comete erros ingênuos, apresentando cenas com informações expositivas e desnecessárias, uma vez que são redundantes com o que já foi mostrado.  Não existe justificativa para mostrar a imagem de uma câmera noturna na fronteira com o México só para flagrar a conversa do chefão do cartel encomendando a morte dos protagonistas. Já tinha ficado muito óbvio anterormente que ao prejudicarem os negócios da organização, mesmo que acidentalmente, seu destino era inevitável.
É o mesmo que ocorre na inclusão da cena de conversa com um membro de outra gangue que os avisa  sobre rumores de que estão marcados para morrer.
Isso sem contar com a boba cena do sargento que numa festa faz um discurso a um bando de jovens soldados e, ao contar sua história, antecipa o desfecho da trama, tornando-a, já a partir da metade da película, muito previsível.
É estranho que um diretor que é também um roteirista experiente no ofício, faça escolhas que revelam certa insegurança. Ou talvez seja fraqueza ao permitir a ingerência de interesses mais comerciais, incluindo um epílogo para amenizar o clima deixado pelo final.
No fim, o que seria um retrato da dura rotina da polícia e poderia valorizar seu trabalho, parece mais uma imagem com fartas doses de retocagem no photoshop e, portanto, repleta de desconfiança.

Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Anna Kendrick, Natalie Martinez, David Harbour, Frank Grillo, America Ferrera, Cody Horn e outros.
Diretor de Fotografia: Roman Vasyanov
Edição: Dody Dorn
Trilha Sonora: David Sardy
Duração: 109 min
País: USA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 09 de novembro de 2012

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