sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica - Além das Montanhas

Por Alex Constantino




O diretor romeno Cristian Mungiu, assim como fez no excelente 4 meses, 3 semanas e 2 dias,  trata novamente em Além das Montanhas da relação entre duas amigas que tem os limites de sua amizade testados quando se veem envolvidas numa situação extrema em decorrência do contexto opressor em que vivem.
Desta vez, com base em fatos verídicos, o filme conta a história de Alina (Cristina Flutur) que retorna à sua terra natal para reencontrar sua grande amiga de infância  Voichita (Cosmina Stratan), com quem cresceu num orfanato. Seu plano de leva-la para a Alemanha é frustrado pela resistência da jovem em abandonar o modesto convento romeno em que vive, onde as freiras seguem com devoção o regime estrito de vida imposto pela visão rígida e particular de fé de seu líder católico ortodoxo.
Nas palavras do diretor, o filme é sobre o amor e o livre-arbítrio: principalmente sobre como o amor pode converter os conceitos de bom e mau em algo bem relativo.
E por isso não há a personificação do mal em qualquer personagem,  sendo que todos, intrinsicamente, são pessoas boas, onde os atos de vilania são praticados em nome da fé e com uma convicção absoluta de que atendem a uma boa causa.
Todos os personagens são vítimas das circunstâncias e da própria apatia, ignorância e subserviência com que se apegam  à instituição religiosa representada no filme, usando sua conduta inerte como mecanismo de sobrevivência  em consequência de uma sucessão de agruras a que foram submetidos .
Há uma despersonalização em que, quanto mais arraigada  a crença naquela instituição e modo de vida, mais apagada se torna a individualidade. E aí temos todas as freiras em hábitos negros num cenário asséptico e sempre se manifestando em murmúrios coletivos. O líder, como a figura mais entranhada institucionalmente, é o que está mais degrado, tendo lhe sido tolhido até mesmo o maior sinal de individualidade, eis que no filme é chamado apenas de Padre; sua função não seu nome.
E não deixa de ter razão o diretor quando afirma que Além das montanhas é também sobre certa maneira de experimentar a religião, onde há uma opção equivocada na quantidade de atenção dispensada pelos que têm fé no esforço de seguir hábitos e regras de uma religião ao invés da dedicação à essência e sabedoria dela no dia-a-dia de suas vidas.
O roteiro é muito bem construído e a opção por planos longos valoriza sua proposta, nos recompensando com a entrega dos atores, que submetidos à cenas externas em condições extremas e repletas de exigências físicas, conseguem  transmitir todas as ideias acima sem ter que recorrer a muletas ou diálogos expositivos.
Não à toa que as intérpretes das duas amigas dividiram o prêmio de melhor atriz em Cannes neste ano, assim como o roteiro saiu premiado do festival. Por essa razão também que foi a escolha oficial da Romênia para representa-la na seleção dos filmes estrangeiros a concorrer ao Oscar 2013.
O filme não tem previsão de estreia no circuito comercial nacional, mas consta na programação da Mostra Internacional de Cinema que está ocorrendo e é uma opção imperdível.
ATUALIZAÇÃO: A Califórnia Filmes acabou de divulgar que o filme estreará no dia 14 de dezembro de 2012. Fiquem atentos, pois é uma oportunidade de assistir essa grande obra.

Direção: Cristian Mungiu
Roteiro: Cristian Mungiu e Tatiana Niculescu
Elenco: Cosmina Stratan, Cristina Flutur, Valeriu Andriuta, Dana Tapalaga, Catalina Harabagiu, Gina Tandura, Vica Agache, Nora Covali, Dionisie Vitcu, Ionut Ghinea, Liliana Mocanu, Doru Ana e outros.
Diretor de Fotografia: Oleg Mutu
Edição: Mircea Olteanu
Duração: 150 min
País: Romênia, Bélgica e França
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 14 de dezembro de 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crítica - 007 - Operação Skyfall

Por Alex Constantino



No ano em que a franquia cinematográfica inspirada na obra do escritor Ian Fleming  completa seu 50º aniversário, é lançado seu 23º filme, mais uma vez contando com Daniel Craig como o agente inglês.
No 3º capítulo dessa nova encarnação do personagem, é deixada de lado a continuidade estabelecida nos 2 filmes anteriores e acompanhamos o fatídico desfecho de uma missão de James Bond, que é dado como morto e, em consequência de seu fracasso, é revelada a identidade de vários agentes secretos do MI6 espalhados pelo mundo.
Concomitantemente,  a sede do serviço secreto inglês sofre um atentado e M (Judi Dench) vê sua posição ameaçada pela ingerência de Mallory (Ralph Fiennes), o novo presidente da Comissão de Inteligência e Segurança.
Com o MI6 sob ameaça externa e interna, M só pode contar com Bond, que retornando dos mortos, pretende auxiliá-la contra o misterioso Silva (Javier Bardem), um vilão do passado da chefe da agência que voltou para assombrá-la.
E com essa premissa, Operação Skyfall marca um certo distanciamento do tom “realista” que havia sido estabelecido nos capítulos anteriores dessa nova versão.
Se nos 2 filmes anteriores tínhamos um homem mais real numa situação mais real, agora vemos o retorno do personagem a um terreno mais fantasioso, mais próximo das histórias do Bond apresentadas anteriormente.
Por isso, as motivações e ações do vilão são mais cartunescas, assim como sua caracterização, que nas palavras de seu intérprete, possui uma mistura de perversidade e afetação.
Ele é tão afetado quanto seu próprio plano de vingança pessoal, que faz uso malsucedido de uma quantidade inimaginável de recursos e planejamento, sendo que haveria opções menos dispendiosas e muito mais simples e efetivas.
Visualmente a história é muito bem apresentada e as cenas de ação continuam bem realizadas, mas é um show de pirotecnia que se desenrola na superfície de um pires.
A reintrodução de alguns personagens e elementos clássicos não é lá muito inspirada, aparecendo mais como um afago aos fãs, como a apresentação do passado do protagonista e de sua relação com M, realizada de maneira formulaica e muito superficial.
É o que ocorre também com a simpática aparição do Aston Martin DB5 onde, toda vez que o veículo entra em ação, temos o retorno de uma trilha clássica.
Assim, para quem tinha gostado da versão mais realista pode ficar um pouco decepcionado, mas ainda continua sendo uma fonte divertida de entretenimento e um prato cheio para quem adora os personagens extravagantes que povoam as películas antigas.
Ah, e para os fãs da cantora Adele tem sua canção gravada especialmente para o filme e que embala os créditos iniciais.  Aliás, créditos estes que parecem um verdadeiro videoclipe da música e que é um resumo estilizado de toda a história que está prestes a ser assistida.

Direção: Sam Mendes
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade e John Logan
Elenco: Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ralph Fiennes, Naomie Harris, Ben Whishaw, Helen Mccrory, Bérénice Marlohe, Albert Finney e outros.
Diretor de Fotografia: Roger Deakins
Edição: Stuart Baird
Trilha Sonora: Thomas Newman
Duração: 143 min
País: Reino Unido/USA
Ano: 2012
Gênero: Ação
Previsão de Lançamento: 26 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crítica - Os Candidatos

Por Alex Constantino



O congressista Cam Brady (Will Ferrell) está concorrendo ao quinto mandato consecutivo para representar seu distrito na Carolina do Norte. Porém, uma grande gafe pública, às vésperas da eleição, pode atrapalhar sua candidatura e, principalmente, os interesses dos poderosos irmãos Motch (John Lithgow e Dan Aykroyd) que pretendem transformar o distrito em sua central de manufatura chinesa com mão-de-obra barata e, desta vez, sem o inconveniente dos custos com frete para transportar mercadorias da China.
Assim,  os inescrupulosos lobistas escolhem Marty Huggins (Zach Galifianakis), o inocente diretor do Centro de Turismo local, para representar seus interesses e, com a ajuda de Tim Wattley (Dylan McDermott), seu arrojado gerente de campanha, inicia-se uma acirrada disputa em que os candidatos mergulham cada vez mais fundo nas baixarias que fazem parte do circo político.
O diretor Jay Roach (Entrando numa Fria, série Austin Powers) que já havia criticado o sistema político americano através dos dramas da HBO “Recount” e “Game Change”, desta vez, resolveu abordar o tema sobre o nível ético das campanhas eleitorais sob um viés cômico, que o permitiu confrontar a questão de forma direta, ainda que elevando situações corriqueiras que presenciamos no espetáculo eleitoral a um  alto nível de absurdo.
Segundo os produtores a intenção era apresentar uma crítica que não se foca nos políticos e, sim, no processo, destacando o fato de que muitas das campanhas tem pouca relação com os partidos, problemas ou ideologias,  e mais com gastar, brigar e vencer.
Apesar disso, soa estranho que a intenção seja se concentrar na situação, mas tenham exagerado na dose de absurdo na caracterização dos personagens, ainda mais ao colocar Will Ferrell e Zach Galifianakis para interpretar seus tipos costumeiros.
Sim, está ficando repetitivo mencionar que os comediantes estão se especializando em representar um mesmo personagem em todos os seus filmes, assim como comentado em relação a Vizinhos Imediatos de 3º Grau e Hotel Transilvânia. Bem, esta falta de originalidade repete no texto a própria falta de versatilidade dos comediantes americanos.
E é interessante como isso compromete o discurso proposto pelo filme, pois assim como na maioria das comédias e comediantes provenientes do Saturday Night Live, há uma transferência para  a grande tela do mesmo humor precário e esquemático.
Basta constatar que a história foi criada a partir de uma ideia do produtor Adam McKay, conhecido pelo programa humorístico mencionado acima, onde colaborou com Ferrell durante anos, escrevendo muitas das esquetes para Will como George Bush e para Darrell Hammond como Bill Clinton.
Portanto, é uma colagem de esquetes fantasiadas bem porcamente com farrapos de uma trama para dar a impressão de conter uma história.
Não que o filme não tenha situações engraçadas, principalmente porque sabendo antecipadamente da classificação que o filme obteria, não houve a preocupação de restringir o limite das piadas.
E a graça está também no fato de que, apesar dos absurdos, nós conseguimos identificar uma boa parte do que se encontra ali com sua contraparte nas campanhas eleitorais reais, ainda que isso seja mais mérito do espectador ao fazer essa relação do que uma qualidade do filme.
Porém, pensando melhor,  para nós brasileiros, fica difícil nos impressionarmos com a comédia, porque temos uma rica tradição cômica na política nacional. Os slogans absurdos dos candidatos do filme soam pálidos e sem graça quando lembramos do conhecido bordão: “rouba mas faz”.
Vamos valorizar o horário político: o pior da política e o melhor da comédia nacional. O absurdo da vida real, oferecido ao povo de graça e com classificação livre. Isso sim é arrojado.

Direção: Jay Roach
Roteiro: Chris Henchy e Shawn Harwell
Elenco: Will Ferrell, Zach Galifianakis, Jason Sudeikis, Dylan McDermott, Katherine LaNasa, Sarah Baker, John Lithgow, Dan Aykroyd, Brian Cox, Karen Maruyama  e outros.
Diretor de Fotografia: Jim Denault
Edição: Craig Alpert e Jon Poll
Trilha Sonora: Theodore Shapiro
Duração: 85 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Previsão de Lançamento: 19 de outubro de 2012

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Crítica - Ruby Sparks - A Namorada Perfeita

Por Alex Constantino



No texto sobre Os Acompanhantes  dizia que Paul Dano interpretava Louis Ives, um jovem professor de inglês, que fora demitido por conta de um incidente embaraçoso envolvendo sua fascinação por lingeries e,  diante desse revés, resolvera se mudar para Nova Iorque para perseguir seu sonho de se tornar um escritor.
Além de sua predileção por roupas íntimas femininas, possuía um gosto pelo escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald e, o grande dilema que enfrentava,  tinha relação com sua inibição e inadequação sexual e social. Fora preciso o contato com uma figura pitoresca (e surreal), vivida por Kevin Kline, para que pudesse, lentamente, lidar com suas deficiências.
Assim, soa interessante como, de certo modo, Ruby Sparks – A Namorada Perfeita, é quase uma sequência espiritual da vida daquele personagem, sendo que os filmes compartilham várias características, a começar pelo fato de serem dirigidos por um casal de diretores, desta vez Jonathan Dayton e Valerie Faris de Pequena Miss Sunshine.
No filme, numa versão em que Louis tivesse concretizado seu sonho, Paul Dano vive o escritor Calvin Weir-Fields, um jovem prodígio literário, cujo primeiro romance foi aclamado pela crítica. Passados quase dez anos, ele sofre de um bloqueio mental, vivendo mais dos méritos passados do que de conquistas atuais.
Porém, assim como Louis, Calvin é um personagem que possui dificuldade de interação com as pessoas e que se ressente da completa inaptidão para lidar com o sexo oposto.
Sua maior companhia é seu irmão Harry (Chris Messina) e seu cachorro Scotty, batizado em homenagem ao escritor F. Scott Fitzgerald (como uma verdadeira reminiscência de sua vida passada como Louis) que foi adotado, a conselho de seu psiquiatra (Elliot Gould), como uma tentativa malsucedida de servir como desculpa para interagir com mulheres.
E, assim como o protagonista de Os Acompanhantes, novamente surge uma personagem fantasiosa, desta vez criada literalmente pela mente de Calvin para servir como agente de transformação em sua vida. Como na lenda de Pigmalião, Ruby Sparks (Zoa Kazan) era uma protagonista que imaginou e, de repente, surge realmente em sua vida.
Ela vai aparecendo aos poucos, através de uma ou outra roupa íntima que surge misteriosamente na casa de Calvin e são guardadas diligentemente numa gaveta (outra reminiscência passada), até que se mostra por inteiro em sua sala de estar.
Porém, ao contrário de seu xará nos cartuns que possui um tigre que é vivo e verdadeiro somente para ele, a criação de Calvin é vista pelos demais personagens, dando à história um ar de realismo fantástico.
Apesar dessa bem intencionada premissa, o filme também compartilha com Os Acompanhantes de suas deficiências, já que o protagonista, assim como Louis, não é muito ativo em seu comportamento e o enredo é povoado de personagens pitorescos sem grande função na trama, cuja reticência de Calvin em relação a eles não é muito bem desenvolvida. É o que ocorre com sua mãe, Gertrude, vivida por Annete Bening, e seu padrasto Mort (Antonio Banderas), uma versão indie dos Fockers de Entrando numa Fria Maior Ainda.
Vemos uma sucessão de tentativas frustradas de Calvin tentando moldar a personalidade de Ruby através de sua escrita e, como cada uma delas, ao invés de transformá-la no par perfeito acaba afastando-a ainda mais desse ideal.
O filme apresenta uma moral bem batida a respeito da necessidade de aceitar as pessoas como são e não como queremos que elas sejam, algo como concluir que a companhia certa é aquela que você precisa e não aquele que você deseja.
Não que seja ruim insistir numa premissa bem conhecida, mas apesar de possuir alguma simpatia, a forma como ela é apresentada parece um pouco arrastada e sem muita originalidade, haja vista a sua forte inspiração no mito grego mencionado anteriormente.
Daí, imaginar essa pretensa ligação do filme com Os Acompanhantes ou a espirituosa escolha do nome do protagonista como uma alusão a Calvin e Haroldo acaba sendo mais interessante. E isso não é uma qualidade quando pensamos que o filme deveria ser uma obra com seu próprio brilho, como o nome dele (e da personagem de Zoe Kazan) dá a entender.

Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Elenco: Paul Dano, Zoe Kazan, Antonio Banderas, Annete Bening, Steve Coogan, Elliot Gould, Chris Messina, Alia Shawkat, Aasif Mandvi, Toni Trucks, Deborah Ann Woll e outros.
Diretor de Fotografia: Mathew Libatique
Edição: Pamela Martin
Trilha Sonora: Nick Urata
Duração: 104 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Romance

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Crítica - Rota Irlandesa

Por Alex Constantino



realismo social é um movimento artístico que privilegia a substância acima do estilo e que enfatiza o valor do realismo como ferramenta de protesto político e social. Ele valoriza os esforços da classe operária que, além das injustiças sociais, enfrenta a crueldade e dureza de se situar na base da pirâmide econômico-social.
No cinema, sua principal forma de expressão foi o neorrealismo italiano através dos filmes de Roberto Rosselini e Vittorio de Sica. Além disso, é um estilo que tem sido um dos preferidos do cinema britânico desde sua origem, como demonstra o filme realizado, em 1902, pelo escocês James Williamson chamado A Reservist Before the War, and After the War
Seguindo essa tradição, o diretor Ken Loach, filho de operários ingleses, tem dedicado sua filmografia a tratar de problemas sociais de sua terra natal e, em especial, das questões envolvendo as mazelas da classe operária.
Seus dramas políticos, frequentemente, examinam grandes questões políticas e sociais dentro de uma trama mais intimista, focando seus efeitos nas relações pessoais.
Em Rota Irlandesa, filme de 2010, seu exame recai sobre os contratos de empresas privadas de segurança trabalhando na ocupação do Iraque. Fergus (Mark Womack) convence Frankie (John Bishop), seu inseparável amigo desde a infância, a se juntar à sua equipe de segurança em Bagdá, já que o retorno financeiro é muito atraente, apesar do periculosidade do serviço.
Quando Frankie morre na Rota Irlandesa, estrada iraquiana mais perigosa do mundo, Fergus, em Liverpool, cidade natal de ambos, não se convence com a explicação oficial e inicia sua própria investigação sobre a morte do amigo. Em sua busca ele se aproxima de Rachel (Andrea Lowe), esposa de Frankie, enquanto relembra a felicidade que dividia na companhia do amigo.
Com a colaboração de seu costumeiro parceiro criativo, o roteirista Paul Laverty (com quem realizou 9 filmes), Loach apresenta seu manifesto sobre o que ele entende como uma crescente privatização da guerra e as consequências da ganância desenfreada do mundo corporativo.
Em sua particular visão da realidade, ele demonstra como nessa busca  cega pelo lucro existe um descaso humano que deixa marcas físicas e psicológicas nos jovens de origem humilde (filhos da classe operária) que são atraídos com a promessa de uma recompensa que não encontrariam em sua própria terra. É o caso do jovem Jamie (Jamie Michie) - amigo de Fergus que ficou cego trabalhando no Iraque - e do próprio protagonista que tem um gênio irascível, moldado pelo que vivenciou, assim como se ressente, junto com a família e esposa de Frankie, pela perda do grande amigo.
Esse descaso deixa marcas mais profundas ainda na população iraquiana, que sofre com a brutalidade desses operários bélicos, tanto quanto da máquina de guerra norte-americana, cuja violência desta é retratada por imagens reais que pontuam a trama.
De certa maneira, um descaso compartilhado pelo protagonista (e porque não pelo próprio diretor), que através de um personagem iraquiano lembra a si próprio que a morte do inglês é retratada como uma tragédia, enquanto pouca importância é dada ao massacre promovido ao povo iraquiano pelas mãos desses mesmos homens da classe operária.
Talvez por isso, lá pelas tantas, a preocupação de Fergus de se comunicar com a mãe dos jovens iraquianos assassinados no evento que foi o estopim para a morte de Frankie, seja uma mea culpa do próprio diretor.
Como de costume, Loach enfatiza uma interação mais genuína entre os atores para que as cenas pareçam que tenham sido improvisadas. Através desse artifício ele aponta a grande questão social através do esforço do protagonista, uma pessoa ordinária, tendo que lidar com seu próprio dilema.
Existe algum diálogo expositivo que enfatiza pontos da trama já revelados pelas imagens ou necessários para a descoberta do mistério sobre a morte de Frankie, como a explicação dada pela família deste sobre a amizade com Fergus para justificar o comportamento deste na reunião com os representantes da empresa que deram a versão oficial da morte.
No entanto, de maneira geral, a trama é bem construída e o realismo  e a dimensão pessoal dada à grande questão social enriquecem nossa experiência com a história, enquanto fortalecem nossa identificação com a aflição causada pelo problema.

Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Elenco: Mark Womack, John Bishop, Andrea Lowe, Geoff Bell, Najwa Nimri, Stephen Lord, Jack Fortune, Jamie Michie, Trevor Williams, Ranj Hawya e outros.
Diretor de Fotografia: Chris Menges
Edição: Jonathan Morris
Duração: 109 min
País: Reino Unido
Ano: 2010
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 05 de outubro de 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Crítica - Busca Implacável 2

Por Alex Constantino



No primeiro filme vimos um ex-agente da CIA,  Bryan Mills (Liam Neeson), numa busca implacável por sua filha Kim (Maggie Grace), que fora sequestrada em Paris por criminosos albaneses que atuavam no tráfico e prostituição de mulheres na capital francesa.
Depois de deixar um rastro de bandidos mortos em seu caminho, ele conseguiu recuperar sua filha e devolvê-la à convivência da mãe Lenore (Famke Janssen) e do padrasto milionário.
Passado algum tempo, Bryan está mais próximo de Kim, enquanto tenta consolar sua ex-esposa Lenore, recentemente separada do atual marido. Além disso, tem que equilibrar seu excessivo zelo - por conta dos acontecimentos do filme anterior - enquanto deve permitir que sua filha consiga superar o trauma e ter uma vida normal, incluindo seu novo namorado Jamie.
Assim, com a intenção de ficar mais próximo de ambas, ele as convida para encontra-lo em Istambul, onde fará um serviço particular de segurança.
Reunidos na capital turca, Bryan começa a se reaproximar de Lenore  e tudo parece conspirar para que haja uma reunião familiar, até que o casal é sequestrado pelos parentes raivosos dos criminosos mortos por Bryan, já que ele parece ter enlutado boa parte de uma pequena vila na Albânia.
Agora, com a ajuda da filha, ele precisa libertar Lenore e a si mesmo antes que seja tarde e os novos bandidos albaneses consigam concretizar sua vingança.
E daí temos novamente um típico filme de ação com um exército de um homem só. E a primeira vítima do protagonista é o título brasileiro que faz muito menos sentido do que o original Taken ( algo como Sequestrado), eis que desta vez é o próprio herói que se encontra no cativeiro.
Para transformar um ator sexagenário num herói de ação convincente, o diretor francês é tão frenético nos cortes ao exibir a coreografia das cenas de luta  quanto o protagonista em bater em capangas com a metade de sua idade.
É certo que esse fato pode ter servido como desculpa para o exagero natural do diretor, como demonstra a sobrecarregada decupagem da cena inicial, recheada de ângulo estilosos, somente para mostrar um caminhão trafegando por uma tortuosa via num recanto idílico e o subsequente enterro dos criminosos albaneses, onde foi realizado o juramento de vingança de seus parentes.
E esse excesso estilístico se repete durante todo o filme, frequentemente confundindo o espectador a respeito da geografia das cenas.
A trama é inverossímil, mais do que a suspensão da descrença suporta normalmente e tanto quanto a capacidade sobre-humana do protagonista de se localizar, como se fosse um verdadeiro GPS humano.
E colabora para prejudicar a imersão do espectador a indecisão do diretor quanto a alguns parâmetros de sua história. Já estamos acostumados com a mágica de Hollywood em que o planeta todo, quando retratado por suas câmeras, fala em inglês. Agora, não faz sentido algum incluir a premissa de que os bandidos se comunicam em seu próprio idioma, quando eles escolhem momentos aleatórios e inverossímeis para exibir seu inglês, como quando o grande vilão faz seu juramento de vingança perante os aldeões albaneses.
E é incrível o poder de mobilização dos criminosos que possuem contatos e recursos ilimitados, utilizando a polícia turca como massa de manobra barata para seu empreendimento vilanesco.
Bem, a pequena vila albanesa parece ser um próspero polo exportador de criminosos, mas por ter deixado assuntos pessoais se intrometerem nos negócios, deve estar amargando uma escassez de mão-de-obra por ter ousado cruzar novamente o caminho do herói.
Apesar disso, Liam Neeson convence como brucutu, muito por seus méritos e, embora, o filme tenha muitos defeitos, não chega ao ponto de se tornar insuportável. É quase que uma homenagem involuntária ao cinema de ação dos anos 80.
Portanto, não será uma ofensa gostar do filme. Já o contrário tem seus riscos. Se ouvir explosões repentinas perto de sua casa, cuidado! É o método de triangulação de Bryan para localizar você. É bom se preparar porque daqui a pouco ele vai querer saber pessoalmente o que você tem contra a história dele. E acreditem, ele já deu provas de que consegue encontrar qualquer um.

Direção: Olivier Megaton
Roteiro: Luc Besson e Robert Mark Kamen
Elenco: Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Leland Orser, Jon Gries, D. B. Sweeney, Luke Grimes, Rade Serbedzija, Alain Figlarz e outros.
Diretor de Fotografia: Romain Lacoubars
Edição: Camille Delamarre e Vincent Taiballon
Trilha Sonora: Nathaniel Méchaly
Duração: 91 min
País: França
Ano: 2012
Gênero: Ação
Previsão de Lançamento: 05 de outubro de 2012

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Crítica - Hotel Transilvânia

Por Alex Constantino

Na resenha de Vizinhos Imediatos de 3º Grau mencionei que alguns atores de comédia, na oportunidade Ben Stiller e Vince Vaughn, têm repetido à exaustão um certo personagem que se transformou em seu próprio estereótipo. Para aqueles que gostam dessa persona criada por eles é um selo de garantia de diversão e, para aqueles que não curtem muito, a triste previsão de que verão mais do mesmo.
Outro ator que também pode ser incluído nesta lista, ou até mesmo encabeçá-la, é Adam Sandler, já que além de reprisar incansavelmente um mesmo tipo em seus filmes, tem o costume de incluir neles toda sua turma de amigos, igualmente donos de seus próprios personagens estereotipados.
Daí, é interessante verificar que em Hotel Transilvânia, o Drácula de Sandler consegue repetir mais uma vez seu eterno personagem, até mesmo numa animação. Estão ali todas as suas idiossincrasias, para o bem e para o mal.
E é claro que ele deu um jeitinho de incluir toda sua patota, ou quase toda ela, porque, surpreendentemente (e para nós felizmente) não temos Rob Schneider. De todo modo, temos nomes habituais como Steve Buscemi, Kevin James e David Spade.
Ah, e como é uma animação, foi possível incluir boa parte da família, sem que parecesse um ato descarado. Deem uma olhada no elenco de vozes no IMDB e verão nomes como: Jackie Sandler, Sadie Sandler, Judith Sandler e Sunny Sandler. OK, boa parte delas aparecem como vozes adicionais, mas...
Porém, para quem não curte muito um típico Adam Sandler, a boa notícia é que, apesar dele, o talentoso diretor Genndy Tartakovsky (Laboratório de Dexter, Samurai Jack, Star Wars: Clone Wars) consegue apresentar um filme despretensioso, mas divertido.
Na história o Hotel Transilvânia do título é um luxuoso resort onde monstros e suas famílias podem relaxar sem se preocuparem com os humanos por perto para os perturbar. Em um fim de semana especial, Drácula convidou seus amigos, alguns dos mais famosos monstros do mundo para comemorar o aniversário de 118 anos de sua filha Mavis (Selena Gomes).
O problema ocorre quando um rapaz humano (Andy Samberg) aparece no hotel e coloca os olhos em Mavis.
É uma trama bem batida, onde o Drácula é um pai superprotetor que se ressente do fato de que sua filha, ao se tornar adulta, pretende deixar o ninho paterno e ver o mundo. Existe aí um misto de tristeza com a autonomia da filha e de preocupação, pois na história houve um evento especialmente traumático que o tornou rancoroso com a humanidade.
E, portanto, não espere muita originalidade porque a trama acompanhará exatamente a transformação do protagonista que reavaliará seus pontos de vista ao ter contato com o jovem humano.
A animação também não possui nada de inovador, misturando as costumeiras gagues físicas para a criançada com pitadas de referências para divertir os adultos.
Apesar disso, é um feijão com arroz que tem seu frescor, muito dele creditado ao diretor, que fugiu de seu estilo característico de animação, mas sem que seu trabalho perdesse sua  costumeira simpatia.

Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Peter Baynham e Robert Smigel
Elenco: Adam Sandler, Andy Samberg, Kevin James, Selena Gomez, Steve Buscemi, CeeLo Green, David Spade, Molly Shannon, Fran Drescher.
e outros.
Edição: Catherine Apple
Trilha Sonora: Mark Mothersbaugh
Duração: 91 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Animação/Comédia
Previsão de Lançamento: 05 de outubro de 2012