quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Crítica - Ruby Sparks - A Namorada Perfeita

Por Alex Constantino



No texto sobre Os Acompanhantes  dizia que Paul Dano interpretava Louis Ives, um jovem professor de inglês, que fora demitido por conta de um incidente embaraçoso envolvendo sua fascinação por lingeries e,  diante desse revés, resolvera se mudar para Nova Iorque para perseguir seu sonho de se tornar um escritor.
Além de sua predileção por roupas íntimas femininas, possuía um gosto pelo escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald e, o grande dilema que enfrentava,  tinha relação com sua inibição e inadequação sexual e social. Fora preciso o contato com uma figura pitoresca (e surreal), vivida por Kevin Kline, para que pudesse, lentamente, lidar com suas deficiências.
Assim, soa interessante como, de certo modo, Ruby Sparks – A Namorada Perfeita, é quase uma sequência espiritual da vida daquele personagem, sendo que os filmes compartilham várias características, a começar pelo fato de serem dirigidos por um casal de diretores, desta vez Jonathan Dayton e Valerie Faris de Pequena Miss Sunshine.
No filme, numa versão em que Louis tivesse concretizado seu sonho, Paul Dano vive o escritor Calvin Weir-Fields, um jovem prodígio literário, cujo primeiro romance foi aclamado pela crítica. Passados quase dez anos, ele sofre de um bloqueio mental, vivendo mais dos méritos passados do que de conquistas atuais.
Porém, assim como Louis, Calvin é um personagem que possui dificuldade de interação com as pessoas e que se ressente da completa inaptidão para lidar com o sexo oposto.
Sua maior companhia é seu irmão Harry (Chris Messina) e seu cachorro Scotty, batizado em homenagem ao escritor F. Scott Fitzgerald (como uma verdadeira reminiscência de sua vida passada como Louis) que foi adotado, a conselho de seu psiquiatra (Elliot Gould), como uma tentativa malsucedida de servir como desculpa para interagir com mulheres.
E, assim como o protagonista de Os Acompanhantes, novamente surge uma personagem fantasiosa, desta vez criada literalmente pela mente de Calvin para servir como agente de transformação em sua vida. Como na lenda de Pigmalião, Ruby Sparks (Zoa Kazan) era uma protagonista que imaginou e, de repente, surge realmente em sua vida.
Ela vai aparecendo aos poucos, através de uma ou outra roupa íntima que surge misteriosamente na casa de Calvin e são guardadas diligentemente numa gaveta (outra reminiscência passada), até que se mostra por inteiro em sua sala de estar.
Porém, ao contrário de seu xará nos cartuns que possui um tigre que é vivo e verdadeiro somente para ele, a criação de Calvin é vista pelos demais personagens, dando à história um ar de realismo fantástico.
Apesar dessa bem intencionada premissa, o filme também compartilha com Os Acompanhantes de suas deficiências, já que o protagonista, assim como Louis, não é muito ativo em seu comportamento e o enredo é povoado de personagens pitorescos sem grande função na trama, cuja reticência de Calvin em relação a eles não é muito bem desenvolvida. É o que ocorre com sua mãe, Gertrude, vivida por Annete Bening, e seu padrasto Mort (Antonio Banderas), uma versão indie dos Fockers de Entrando numa Fria Maior Ainda.
Vemos uma sucessão de tentativas frustradas de Calvin tentando moldar a personalidade de Ruby através de sua escrita e, como cada uma delas, ao invés de transformá-la no par perfeito acaba afastando-a ainda mais desse ideal.
O filme apresenta uma moral bem batida a respeito da necessidade de aceitar as pessoas como são e não como queremos que elas sejam, algo como concluir que a companhia certa é aquela que você precisa e não aquele que você deseja.
Não que seja ruim insistir numa premissa bem conhecida, mas apesar de possuir alguma simpatia, a forma como ela é apresentada parece um pouco arrastada e sem muita originalidade, haja vista a sua forte inspiração no mito grego mencionado anteriormente.
Daí, imaginar essa pretensa ligação do filme com Os Acompanhantes ou a espirituosa escolha do nome do protagonista como uma alusão a Calvin e Haroldo acaba sendo mais interessante. E isso não é uma qualidade quando pensamos que o filme deveria ser uma obra com seu próprio brilho, como o nome dele (e da personagem de Zoe Kazan) dá a entender.

Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Zoe Kazan
Elenco: Paul Dano, Zoe Kazan, Antonio Banderas, Annete Bening, Steve Coogan, Elliot Gould, Chris Messina, Alia Shawkat, Aasif Mandvi, Toni Trucks, Deborah Ann Woll e outros.
Diretor de Fotografia: Mathew Libatique
Edição: Pamela Martin
Trilha Sonora: Nick Urata
Duração: 104 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Romance

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