sábado, 28 de julho de 2012

Notícia - Semana de Cinema e Mercado


Semana que vem a partir do dia 30 a AIC -
Academia Internacional de Cinema promoverá a "Semana de Cinema e Mercado"  que dia nos encontramos por lá?  Segue abaixo todas informações.



SEMANA DE CINEMA E MERCADO” COMEÇA NA PRÓXIMA SEGUNDA

AIC promove semana de palestras abertas e gratuitas com profissionais de ponta do mercado cinematográfico

Além disso, blogueiros e administradores de sites especializados fecham a semana com palestra sobre esta nova linguagem

De 30 de julho a 4 de agosto, a AIC - Academia Internacional de Cinema - promove a primeira edição daSemana de Cinema e Mercado, que acontece no estúdio da Academia.

Durante uma semana intensa de palestras gratuitas e abertas ao público, profissionais de ponta em diferentes posições do mercado vão colocar em discussão o universo cinematográfico.
Para o encerramento do evento, no dia 4 de agosto, haverá uma palestra especial com três dos mais importantes blogueiros e administradores de sites especializados na área de cultura, que irão discutir sobre a importância deste novo canal de comunicação na palestra “Blogueiros como Críticos e Difusores e Cinema: Uma Nova Linguagem”.
Veja abaixo mais sobre os palestrantes e os temas que serão abordados:
- MINI KERTI discute os processos e os diferentes tipos de linguagem na Direção de Publicidade e Paralelos.

- DANIELA PFEIFFER e LAURA FAZOLI exploram As Oportunidades Do Produtor Independente: Nova Lei, Coproduções Internacionais e TV Digital. Por cinco anos, Daniela trabalhou no acompanhamento de projetos da ANCINE e gerenciou durante dois anos a área de mídias digitais da distribuidora Elo Company. Laura coordenou diversas mostras e festivais, entre elas, a “Mostra Internacional de Cinema de São Paulo” e o festival “É Tudo Verdade”. Atua no mercado de mídias tradicionais integrando a equipe da ELO Company e é diretora da Minhavó Produções, que atualmente finaliza o documentário “Reciclando o Olhar – O Arquiteto do Papelão”.
ANDRÉ STURM ministra a palestra sobre Mercado Internacional (Co-Produções, Festivais e Mercados).Atualmente é Diretor Executivo do MIS (Museu da Imagem e do Som - São Paulo) e presidente do programa Cinema do Brasil. Foi Coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural (Secretaria de Estado da Cultura – São Paulo, de 2007 a 2011) e presidente do SICESP (Sindicato da Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo ), além de exercer em paralelo as funções de distribuidor, cineasta e produtor. Participou de diversos cineclubes. Foi diretor de varias associações de cineastas. Criou a Pandora Filmes, distribuidora de destaque na área dos filmes independentes. Foi programador e responsável pelo Cine Belas Artes em São Paulo. Em 2002, dirigiu o seu primeiro longa-metragem, Sonhos Tropicais, que deu a Carolina Kasting o prêmio de melhor atriz no Festival de Recife, e em 2008 dirigiu Bodas de Papel.
CLÁUDIO AVINO e CARLOS PAES apresentam o tema O Som do Cinema: Da Captação a Master.  Há mais de 15 anos no mercado de áudio, Cláudio é o gerente responsável pelos estúdios de som da Cinecolor Digital. Carlos, formado pela SAE – Londres, atua como engenheiro de áudio, na mixagem de longas-metragens e séries para TV nos estúdios da Cinecolor Digital.
REGINALDO VELOSO analisa A Evolução do Cinema Digital. Coordenador na área de Máster Digital, opera nas áreas de edição, editoração, composição e transfer óptico há 9 anos, utilizando softwares como “ Adobe”, “Cinema 4D”e 3D Max.
LÚCIO KODATO fala sobre Câmeras: Inovações e as Atualizações do Mercado Nacional, de acordo com as necessidades, finalidades e disponibilidades financeiras, além de apresentar o que há de mais novo no mercado. Com uma carreira de mais de 40 anos, Lúcio já atuou ao lado do famoso diretor francês de fotografia Philippe Rousselot e recebeu diversos prêmios, entre eles o de Melhor Fotografia no Festival do Rio, por seu trabalho “Maré”, dirigido por Lúcia Murat. Além do cinema, fotografou filmes publicitários e videoclipes premiados. Além dos projetos pessoais e do trabalho, também dividirá seu tempo com a AIC, coordenando o curso de Direção de Fotografia Avançado.
JULIANO VASCONCELLOS, THIAGO BORBOLLA E DANIEL LOPES compõem a mesa que apresentará o temaBlogueiros como Críticos e Difusores e Cinema: Uma Nova Linguagem. Juliano, mais conhecido por Jotacê, é arquiteto e professor universitário e desde 2008 é responsável pelo site Blog do Jotacê, principal veículo de comunicação voltado para colecionadores de itens da cultura pop no Brasil. Thiago, o Borbs que já foi VJ e repórter na MTV, lidera a equipe do site Judão, no ar desde julho de 2000. Especializados em cinema, quadrinhos, games, televisão, música e comportamento, o site publica resenhas, entrevistas, artigos, colunas, liveblogs, promoções e vídeos, utilizando linguagem leve e bem humorada. Daniel, graduado em Ciências Econômicas pela Unesp, estudou a fundo o mercado editorial de quadrinhos e de distribuição de filmes e hoje é  apresentador e editor do site Pipoca e Nanquim, no qual discorre sobre seus temas favoritos. Co-autor do livro Quadrinhos no Cinema (2011, Ed. Generale), atualmente é um dos editores da DC Comics no Brasil.
PROGRAMAÇÃO

30.07 – SEGUNDA-FEIRA
TEMA: “Direção de Publicidade e Paralelos”
Palestrante: Mini Kerti
Horário: 19h30 às 21h30
31.07 – TERÇA-FEIRA
TEMA: “As Oportunidades do Produtor Independente: Nova Lei, Coproduções Internacionais e TV Digital”
Palestrante: Daniela Pfeiffer e Laura Fazoli
Horário: 19h30 às 21h30

01.08 – QUARTA-FEIRA
TEMA: “Mercado Internacional (Co-Produções, Festivais e Mercados)”
Palestrante: André Sturm
Horário: 19h30 às 21h30

02.08 – QUINTA-FEIRA
Parte 1
TEMA: “O Som do Cinema: Da Captação a Master”
Palestrante: Claudio Avino e Carlos Paes
Parte 2
TEMA: “A Evolução do Cinema Digital”
Palestrante: Reginaldo Veloso
Horário: 19h30 às 21h30

03.08 – SEXTA-FEIRA
TEMA: “Câmeras: Inovações e as Atualizações do Mercado Nacional”
Palestrante: Lúcio Kodato
Horário: 19h30 às 21h30
04.08  –  SÁBADO
TEMA: “Blogueiros como Críticos e Difusores de Cinema: Uma Nova Linguagem”
Palestrantes: Juliano Vasconcellos, Tiago Borbolla e Daniel Lopes
Horário: 14h

SERVIÇO:
SEMANA DE CINEMA E MERCADO
DE 30 DE JULHO A 04 DE AGOSTO
Estúdio da AIC
Das 19h30 às 21h30
AIC - ACADEMIA INTERNACIONAL DE CINEMA
Rua Dr. Gabriel dos Santos, 142, Santa Cecília, São Paulo, SP
Tel. 11 3826-7883 - Próximo ao metrô Marechal Deodoro
SOBRE A AIC - A Academia Internacional de Cinema é hoje uma das mais conceituadas escolas de cinema do país, reconhecida pelo mercado por sua excelência demonstrada em mais de 1500 filmes produzidos por seus alunos, em seus sete anos de atividades. Com programas diferenciados e inovadores, unimos sólida base teórica à intensa atividade prática para formar profissionais criativos e preparados para atuar em todos os campos e níveis da produção. Nosso corpo docente é formado por professores experientes e cineastas com trajetórias de destaque no mercado nacional e internacional.
Além de uma grade composta por mais por 30 cursos livres, que cobrem todo o processo de produção audiovisual, da idéia à distribuição de filmes, desenvolvemos na AIC um curso de formação profissional que não encontra paralelo no Brasil, o Filmworks – curso técnico em Direção Cinematográfica, reconhecido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, e cujo diploma possibilita a aquisição do registro profissional DRT.
Estabelecemos parcerias com importantes empresas e instituições da área audiovisual, proporcionando oportunidades e visibilidade aos trabalhos dos nossos alunos através de oportunidades de treinamento em algumas das maiores produtoras do país, mostras, festivais, canais de distribuição e participação ativa na comunidade nacional e internacional de cinema.
Todos os anos, a AIC realiza diversas exibições e palestras abertas ao público, bem como aulas especiais com reconhecidos cineastas nacionais e internacionais, dando continuidade a uma série de discussões sobre o cinema contemporâneo, sobre o fazer cinema.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crítica - Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Por Alex Constantino




A morte de Harvey Dent culminou com a aprovação de uma lei anticrime mais severa que minou a criminalidade em Gotham City.
Porém, após oito anos, a paz na cidade é novamente ameaçada com o aparecimento de Bane e a deflagração de seu plano terrorista. Agora, cabe ao Batman retornar do exílio auto-imposto para enfrentar um vilão mais forte do que ele, enquanto tem que lidar com as consequências de ter se tornado um fugitivo da lei e com as artimanhas de uma misteriosa ladra.
Desafiando a sina do terceiro filme, O Cavaleiro das Trevas Ressurge consegue estabelecer um ótimo equilíbrio apresentando uma boa história autônoma, além de funcionar como um desfecho digno para uma grande trilogia.
Como é corrente na indústria de cinema hollywoodiana, o filme reproduz fórmulas, mas ao contrário de outras obras, elas são apresentadas de uma maneira engenhosa permitindo reconhecer sua relevância.
Nesse sentido, assim como o fez no Cavaleiro das Trevas, o filme começa apresentando o vilão da vez numa ação que serve para deixar claro para a audiência o nível da ameaça que ele representa. E novamente essa introdução é bem realizada apresentando um ótimo trabalho de direção e atuação na composição do personagem.
Além disso,  assim como na primeira trilogia de Star Wars, as etapas da jornada do herói  presentes no monomito de Joseph Campbell estão bem demarcadas tanto em cada filme isoladamente quanto no conjunto deles que formam a saga, em que este último filme apresenta os últimos passos da jornada do protagonista.
E igualmente, como na obra seminal de George Lucas, cada passo é muito bem trabalhado para que o expectador sinta que esteja acompanhando o desfecho de uma trama maior, com o diretor tendo o cuidado de retomar elementos e personagens dos filmes anteriores, que ainda que em participações breves, conferem continuidade e organicidade à sua grande história. Além disso, dão vida à Gotham que existe além da figura e das aventuras do Batman.
O medo é o grande tema e inimigo que o herói encontra durante sua jornada e que o confronta  externamente através de seus agentes nos filmes, mas que age com maior força em seu interior.
E, portanto, foi muito acertada a escolha de Bane como adversário no terceiro filme, que assim como nos quadrinhos, é o verdadeiro nêmesis do herói, semelhante em capacidade com ele, mas oposto em seus métodos e objetivos.
Ambos compartlham o mesmo inimigo em suas respectivas jornadas, mas o vilão está ali para mostrar ao herói e aos espectadores qual o destino dele se falhar, se tornando um servo do medo ao invés de um senhor dele.
E para fugir desse destino, para demonstrar os últimos passos da jornada  o diretor é bem literal em sua escolhas, embora se revelem opções bem apropriadas àquele universo. É por isso que o herói, literalmente, na etapa nomeada por Joseph Campbell como aproximação da caverna oculta é levado a uma para enfrentar sua maior crise na aventura, de vida ou morte.
Nessa parte Nolan também resolveu ser bem explícito sobre o tema, onde acompanhamos o embate final através do diálogo de personagens coadjuvantes que narram o dilema do herói e os passos para sua superação.
Ainda que presentes muitos diálogos expositivos – e cinema deve mostrar e não contar – dada a natureza abstrata do vilão compreende-se o uso de tal artifício. Além disso, existe uma representação visual por meio da superação de um obstáculo físico que marca a vitória definitiva do protagonista.
Superado o grande inimigo o protagonista emerge, metafórica e fisicamente,  à luz para levar o elixir que salvará seu mundo, destacando-se o inspirado uso do Poço de Lázaro, local conhecido de quem acompanha os quadrinhos.
Agora o herói volta a seu mundo e utiliza o que aprendeu para superar Bane e salvar Gotham. Ele é ajudado mais uma vez pelos aliados que o acompanharam por toda sua jornada e que retomam novamente sua participação e caracterização do universo do Homem-Morcego criada por Nolan.
E desta vez, foi ótima a opção de mostrar o confronto final à luz do dia, porque o herói, superado seu medo, não precisa mais agir sob às sombras.
Um pequeno ponto negativo é que a reviravolta ocorrida no clímax, apesar de muito condizente com toda a trama, acaba enfraquecendo a figura de Bane que até ali havia sido construída muita bem. Porém, isso não consegue apagar o ótimo desempenho de Tom Hardy ainda que limitado pela máscara utilizada por seu personagem.
As subtramas são igualmente envolventes e conseguem o feito de se encaixar não só no filme como na trama maior.  Numa delas, que afinal tem muita relevância para a trama principal, vemos o desenvolvimento da figura do Batman como um símbolo mais importante do que quem enverga a fantasia e, como todo grande mito, é cíclico (se repete em locais e épocas diferentes). Vemos aos poucos a dissociação da jornada do Batman daquela de Bruce Wayne. E aqui o diretor comete sua fanfarronice, descumprindo a promessa de que um certo elemento não seria incluído no universo que estava criando. E o melhor é que conseguiu fazer isso maravilhosamente, ainda que a menção literal no epílogo tenha sido desnecessária.
Prestem atenção ao personagem John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e como lhe são transmitidos engenhosamente os valores que a figura do Batman representa, possuindo dois mentores no filme, o próprio herói através de seus atos e o Comissário Gordon (Gary Oldman).
Nas tramas paralelas vemos também o desenvolvimento de outros temas, como a retomada da discussão sobre a dualidade entre ordem e caos.
Ou a discussão sobre máscaras, que no filme além da representação explícita nos personagens, possui uma simbologia com os diversos comportamentos que assumimos durante nossa relações. E aqui podemos incluir a figura de Selina Kyle (o nome Mulher-Gato não é mencionado qualquer vez no filme) que também merece destaque na interpretação de Anne Hathaway.
Por fim, o diretor consegue a proeza de superar as expectativas negativas que sempre giram em torno do terceiro filme de uma franquia e entrega uma obra envolvente. Além disso não decepciona os fãs do personagem nos quadrinhos, mostrando um grande respeito por elementos que o tornaram um ícone da cultura mundial.

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer
Elenco: Cristian Bale, Tom Hardy, Gary Oldman, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Joseph Gordon-Levitt, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine e outros.
Direção de Fotografia: Wally Pfister
Edição: Lee Smith
Trilha Sonora: Hans Zimmer
Duração: 164 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama/Ação

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Crítica - 13 Assassinos


Por Alex Constantino



No Japão, do final da era feudal, o nobre samurai Shinzaemon Shimada (Kôji Yakusho) é incumbido secretamente por um alto oficial do governo para uma missão suicida: assassinar o Lorde Naritsugu Matsudaira (Gorô Inagaki), dando fim às crueldades do sádico meio-irmão do shogun antes que ele ocupe seu elevado posto no shogunato e ameace levar o país a um novo período de guerra civil.
Shinzaemon reúne um grupo de elite de samurais, e, juntamente com o homem das montanhas Koyata (Yûsuke Iseya), formam os 13 assassinos do título que, para cumprir seu objetivo, devem enfrentar o pequeno exército, liderado por Hambei Kitou (Masachika Ichimura), que protege o vilão.
Esta refilmagem do filme homônimo de Eichi Kudo, de 1963, marca a incursão do do diretor Takashi Miike no gênero Jidaigeki, os tradicionais dramas de época envolvendo samurais. Talvez por isso, o prolífico cineasta japonês, que desde sua estreia em 1991 acumula mais de 80 filmes em seu currículo, tenha deixado de lado sua linguagem estilizada habitual e seu característico humor negro, optando por um estilo mais sóbrio, sem contudo, comprometer a energia e dinamismo recorrentes em sua filmografia.
É interessante como o filme de Miike se apropria com desenvoltura das características do gênero, revelando  também um belo trabalho de direção de arte na recriação do período histórico.
Além disso, o filme guarda certa afinidade com a grande obra de Akira Kurosawa, Os 7 Samurais,  com a qual compartilha o desafio à tradição social, discutindo as rígidas regras da sociedade japonesa e a perseverança resignada com a qual o japonês aceita cumprir o papel a que foi destinado exercer dentro dela.
No filme de Miike, Shinzaemon e seu principal rival, Hambei, nutrem uma admiração velada, mas estão fadados a um confronto mortal por conta do estrito código samurai, numa situação claramente desvantajosa para ambos, e de certo modo não querida, mas inevitável de acordo as regras de conduta que lhe são impostas.
Miike não deixa dúvidas quanto ao caráter odioso de Lorde Naritsugu, retratando sua vilania de forma quase caricatural. Porém, aqui, essa abordagem empresta força à trama, acentuando o dilema moral, cujo verdadeiro debate não é sobre o caráter de cada pessoa, mas o papel de cada um na sociedade.
A palavra samurai significa aquele que serve e enquanto Shinzaemon acredita que seu dever é servir a causa que lhe foi confiada, Hambei é mais estrito em sua interpretação deste código moral porque acredita que deve proteger seu mestre, independentemente do caráter da figura a que serve.
A linha que separa a retidão das ações de Shinzaemon e Hambei é muito mais tênue do que aparenta, pois ambos são, antes de tudo, vítimas inexoráveis de seus destinos.
Esse debate se expande também para os diálogos e fotografia, onde, na primeira parte do filme, os personagens são vistos quase sempre sob a luz fraca e tremeluzente de velas gastas. O mesmo ocorre em relação ao figurino de cores sóbrias. E não apenas porque estão tramando secretamente, mas também porque  sua verdadeira natureza sempre é filtrada em camadas de códigos morais e sociais.
Enquanto isso, o vilão é mostrado sem sombras e em vestes leves e brancas, talvez porque ainda que tenha uma personalidade ignóbil, é o único que não se preocupa em mascará-la em convenções.
Assim como no filme de Kurosawa, onde o ato de rebeldia contra a tradição era representado pelo amor proibido entre o jovem samurai Katsushiro e uma camponesa e também pelo orgulhoso e exibicionista samurai Kikuchiyo,  de origem camponesa, Miike introduz personagens parecidos na figura do jovem sobrinho de Shinzaemon, Shinrokuro (Takayuki Yamada), reticente em assumir sua condição e que se voltou para os jogos de azar,  e o montanhês Koyata que livre das amarras sociais é a única figura que escolhe seu caminho. Talvez por isso, são os únicos personagens em que há a preocupação de se mostrar a existência de um interesse romântico, demonstrando que muito mais está em jogo quando se privilegia a postura samurai de concordância e conformismo.
Destaca-se também a opção do diretor de mostrar a sangrenta luta final em planos mais fechados que emula muito bem o caráter opressor de um combate com tamanha desigualdade numérica. Ele consegue ainda desenvolver um bom ritmo à sequência, mantendo uma narrativa fluída que não torna cansativo o longo terceiro ato.
Aliás, o clímax é apoiado no seguro desenvolvimento da história nos atos anteriores, cuja trama lembra, propositalmente, a dinâmica dos filmes de assalto (escolha da equipe, criação do plano, treinamento, imprevistos e improvisação), porque foi buscar essa fórmula diretamente na fonte destes em Os 7 Samurais.
Apesar de alguns excessos (ou recaídas) do diretor, como a cascata de sangue de um inimigo explodido que desce por um dos telhados ou uma descontextualizada corrida de touros em chamas, é um ótimo filme de ação que demonstra que pode surgir muito mais (e melhor) conteúdo numa luta de espadas ou num tiroteio do que somente o sangue computadorizado que jorra em profusão na tela em produções atuais muito mais pobres artisticamente.

Direção: Takashi Miike
Roteiro: Daisuke Tengan, baseado na história original de Shoichirô Ikemiya
Elenco: Kôji Yakusho, Takayuki Yamada, Yûsuke Iseya, Gorô Inagaki, Masachika Ichimura, Mikijiro Hira, Hiroki Matsukata, Ikki Sawamura,  Arata Furuta, Tsuyoshi Ihara, Masakata Kubota, Sôsuke Takaoka, Seiji Rokkaku, Yûma Ishigaki, Kôen Kondô e outros.
Direção de Fotografia:
Edição: Kenji Yamashita
Trilha Sonora: Koji Endo
Duração: 126 min
País: Japão
Ano: 2010
Gênero: Drama

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Crítica - Espetacular Homem-Aranha


Por Alex Constantino




Transcorridos apenas 5 anos desde o lançamento do último filme da trilogia de Sam Raimi chega aos cinemas o reinício da franquia estrelada pelo popular personagem da Marvel.
Na nova reencarnação dirigida por Marc Weber (500 Dias com Ela) é recontada a origem do herói, onde encontramos novamente Peter Parker (Andrew Garfield) sob os cuidados de seus tios e tendo que enfrentar os dilemas de um estudante colegial, sendo alvo  das brincadeiras dos colegas mais populares e sonhando com o amor de Gwen Stacy (Emma Stone).
Sua rotina é alterada quando encontra uma antiga maleta, cujo conteúdo misterioso o leva até o laboratório na Oscorp do Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), um antigo parceiro de pesquisa de seu pai. A partir daí, o jovem Peter terá que lidar com grandes mudanças em sua vida que o levarão ao inevitável confronto com o vilão Lagarto, alter-ego do Dr. Connors, e com sua própria busca por identidade.
Como o filme marca o retorno do herói teioso aos cinemas, grande parte de sua história foi reprisada, principalmente os tão conhecidos elementos de sua origem que foram responsáveis por definir sua personalidade e motivações nos quadrinhos.
Você encontrará, em novas roupagens, um certo evento familiar trágico e frase sobre responsabilidade que moldaram a carreira do aracnídeo. Porém, apesar do esforço bem-intencionado, não espere uma abordagem muito criativa.
No cinema, como em algumas outras artes, fala-se em “suspensão da descrença”, onde há uma troca em que o espectador, em nome do entretenimento, aceita como verdadeiras certas premissas de uma história ficcional, ainda que fantásticas ou improváveis.
É por esse motivo que o espectador pode até aceitar e se divertir com um ser humano de colante colorido saindo por aí para combater o crime depois de ganhar poderes ao ser picado por uma aranha. Ainda mais levando-se em conta o esforço do diretor de aproximar o visual e clima da história com aqueles encontrados nos quadrinhos, com direito a utilização do 3D (real e não convertido) para valorizar as poses clássicas vistas nas revistas do herói. Some-se ainda como ponto positivo a interpretação de Garfield que conseguiu capturar muito bem o jeitão tragicômico do amigão da vizinhança.
A trama, por outro lado, padece de originalidade quanto a abordagem dada à origem do herói,  e quando introduz conceitos novos,  como a ligação dos poderes do Homem-Aranha com o trabalho do pai de Peter, apenas cria conexões forçadas entre personagens e levanta questões que poderão levar a franquia a um rumo  que desagrade alguns fãs do personagem.
Aliás, forçar a barra é a expressão de ordem em relação ao roteiro de James Vanderbilt, onde a trama é impulsionada por um amontado de casualidades providenciais que parecem demonstrar a deficiência do roteirista em justificar alguns elementos e levar a história adiante.
Tome como exemplo uma cena de salvamento que serve, mais adiante, como justificativa para uma ajuda inesperada ao herói no clímax da história, ajuda esta completamente desnecessária dramaticamente.  Outro exemplo desse uso pobre ocorre na cena em que o protagonista tem o insight sobre sua máscara.
Lembra-se da tal suspensão da descrença vista ainda há pouco? No caso deste filme considere ser bem generoso ao barganhar em busca de entretenimento porque terá que relevar a grande quantidade de coincidências que acabam esvaziando  a força dramática daquela ligada ao tio Ben, a única que tem um papel fundamental na vida do herói.
Se você é fã do personagem encontrará uma caracterização honesta, mas não espere nenhuma obra-prima da sétima arte, nem mesmo quando comparada com outros filmes de super-heróis que vem invadindo a tela grande ultimamente.
E atenção para a cena entre os créditos finais!


Direção: Marc Webb
Roteiro: James Vanderbilt
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Campbell Scott, Irrfan Khan, Martin Sheen, Sally Field e outros.
Direção de Fotografia:  John Schwartzman
Edição: Pietro Scalia
Trilha Sonora: James Horner
Duração: 136 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Ação
Lançamento: 06/07/2012