quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crítica - Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Por Alex Constantino




A morte de Harvey Dent culminou com a aprovação de uma lei anticrime mais severa que minou a criminalidade em Gotham City.
Porém, após oito anos, a paz na cidade é novamente ameaçada com o aparecimento de Bane e a deflagração de seu plano terrorista. Agora, cabe ao Batman retornar do exílio auto-imposto para enfrentar um vilão mais forte do que ele, enquanto tem que lidar com as consequências de ter se tornado um fugitivo da lei e com as artimanhas de uma misteriosa ladra.
Desafiando a sina do terceiro filme, O Cavaleiro das Trevas Ressurge consegue estabelecer um ótimo equilíbrio apresentando uma boa história autônoma, além de funcionar como um desfecho digno para uma grande trilogia.
Como é corrente na indústria de cinema hollywoodiana, o filme reproduz fórmulas, mas ao contrário de outras obras, elas são apresentadas de uma maneira engenhosa permitindo reconhecer sua relevância.
Nesse sentido, assim como o fez no Cavaleiro das Trevas, o filme começa apresentando o vilão da vez numa ação que serve para deixar claro para a audiência o nível da ameaça que ele representa. E novamente essa introdução é bem realizada apresentando um ótimo trabalho de direção e atuação na composição do personagem.
Além disso,  assim como na primeira trilogia de Star Wars, as etapas da jornada do herói  presentes no monomito de Joseph Campbell estão bem demarcadas tanto em cada filme isoladamente quanto no conjunto deles que formam a saga, em que este último filme apresenta os últimos passos da jornada do protagonista.
E igualmente, como na obra seminal de George Lucas, cada passo é muito bem trabalhado para que o expectador sinta que esteja acompanhando o desfecho de uma trama maior, com o diretor tendo o cuidado de retomar elementos e personagens dos filmes anteriores, que ainda que em participações breves, conferem continuidade e organicidade à sua grande história. Além disso, dão vida à Gotham que existe além da figura e das aventuras do Batman.
O medo é o grande tema e inimigo que o herói encontra durante sua jornada e que o confronta  externamente através de seus agentes nos filmes, mas que age com maior força em seu interior.
E, portanto, foi muito acertada a escolha de Bane como adversário no terceiro filme, que assim como nos quadrinhos, é o verdadeiro nêmesis do herói, semelhante em capacidade com ele, mas oposto em seus métodos e objetivos.
Ambos compartlham o mesmo inimigo em suas respectivas jornadas, mas o vilão está ali para mostrar ao herói e aos espectadores qual o destino dele se falhar, se tornando um servo do medo ao invés de um senhor dele.
E para fugir desse destino, para demonstrar os últimos passos da jornada  o diretor é bem literal em sua escolhas, embora se revelem opções bem apropriadas àquele universo. É por isso que o herói, literalmente, na etapa nomeada por Joseph Campbell como aproximação da caverna oculta é levado a uma para enfrentar sua maior crise na aventura, de vida ou morte.
Nessa parte Nolan também resolveu ser bem explícito sobre o tema, onde acompanhamos o embate final através do diálogo de personagens coadjuvantes que narram o dilema do herói e os passos para sua superação.
Ainda que presentes muitos diálogos expositivos – e cinema deve mostrar e não contar – dada a natureza abstrata do vilão compreende-se o uso de tal artifício. Além disso, existe uma representação visual por meio da superação de um obstáculo físico que marca a vitória definitiva do protagonista.
Superado o grande inimigo o protagonista emerge, metafórica e fisicamente,  à luz para levar o elixir que salvará seu mundo, destacando-se o inspirado uso do Poço de Lázaro, local conhecido de quem acompanha os quadrinhos.
Agora o herói volta a seu mundo e utiliza o que aprendeu para superar Bane e salvar Gotham. Ele é ajudado mais uma vez pelos aliados que o acompanharam por toda sua jornada e que retomam novamente sua participação e caracterização do universo do Homem-Morcego criada por Nolan.
E desta vez, foi ótima a opção de mostrar o confronto final à luz do dia, porque o herói, superado seu medo, não precisa mais agir sob às sombras.
Um pequeno ponto negativo é que a reviravolta ocorrida no clímax, apesar de muito condizente com toda a trama, acaba enfraquecendo a figura de Bane que até ali havia sido construída muita bem. Porém, isso não consegue apagar o ótimo desempenho de Tom Hardy ainda que limitado pela máscara utilizada por seu personagem.
As subtramas são igualmente envolventes e conseguem o feito de se encaixar não só no filme como na trama maior.  Numa delas, que afinal tem muita relevância para a trama principal, vemos o desenvolvimento da figura do Batman como um símbolo mais importante do que quem enverga a fantasia e, como todo grande mito, é cíclico (se repete em locais e épocas diferentes). Vemos aos poucos a dissociação da jornada do Batman daquela de Bruce Wayne. E aqui o diretor comete sua fanfarronice, descumprindo a promessa de que um certo elemento não seria incluído no universo que estava criando. E o melhor é que conseguiu fazer isso maravilhosamente, ainda que a menção literal no epílogo tenha sido desnecessária.
Prestem atenção ao personagem John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e como lhe são transmitidos engenhosamente os valores que a figura do Batman representa, possuindo dois mentores no filme, o próprio herói através de seus atos e o Comissário Gordon (Gary Oldman).
Nas tramas paralelas vemos também o desenvolvimento de outros temas, como a retomada da discussão sobre a dualidade entre ordem e caos.
Ou a discussão sobre máscaras, que no filme além da representação explícita nos personagens, possui uma simbologia com os diversos comportamentos que assumimos durante nossa relações. E aqui podemos incluir a figura de Selina Kyle (o nome Mulher-Gato não é mencionado qualquer vez no filme) que também merece destaque na interpretação de Anne Hathaway.
Por fim, o diretor consegue a proeza de superar as expectativas negativas que sempre giram em torno do terceiro filme de uma franquia e entrega uma obra envolvente. Além disso não decepciona os fãs do personagem nos quadrinhos, mostrando um grande respeito por elementos que o tornaram um ícone da cultura mundial.

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan e David S. Goyer
Elenco: Cristian Bale, Tom Hardy, Gary Oldman, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Joseph Gordon-Levitt, Morgan Freeman, Michael Caine, Matthew Modine e outros.
Direção de Fotografia: Wally Pfister
Edição: Lee Smith
Trilha Sonora: Hans Zimmer
Duração: 164 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama/Ação

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