quinta-feira, 28 de junho de 2012

Crítica - A Era do Gelo 4


Por Alex Constantino



A nova tentativa do esquilo pré-histórico Scrat de obter sua tão sonhada noz acaba desencadeando um cataclismo continental que separa Manny de sua família. Agora, o mamute, juntamente com Diego e Sid, corre contra o tempo para se reunir com Ellie e Amora, e para isso, deve enfrentar não só a ameaça global como uma trupe de piratas liderada pelo simiesco e mau-caráter Capitão Entranha.

O novo capítulo da franquia reproduz a fórmula visual e narrativa dos filmes anteriores, portanto, se você já assistiu algum deles sabe muito bem o que esperar: apuro técnico da animação, esquetes repletos de gagues físicas para a criançada e fãs de Zorra Total e uma referência aqui ou acolá para agradar os marmanjos, como por exemplo uma certa “homenagem” a Coração Valente.

Fica a impressão de que se concentraram em repetir, principalmente, a dinâmica vista em A Era do Gelo 3 (a maior arrecadação da franquia até então), substituindo Buck, que faz uma brevíssima aparição no nova aventura, pela avó de Sid que exerce a mesma função de alívio cômico.

A nova personagem, introduzida na história de maneira pouco inventiva, é uma tentativa de buscar repetir o sucesso da doninha caolha do terceiro filme que era obcecada em caçar um certo dinossauro, no melhor estilo Capitão Ahab de Moby Dick. Diante disso, talvez o elemento mais inspirado do filme, seja uma certa referência irônica ao personagem anterior quando se tem em mente o animal de estimação da velinha e sua relação com ele.

O filme também compartilha com o capítulo anterior da franquia o uso eficiente do 3D, embora não com a mesma qualidade artística com que o diretor Carlos Saldanha empregou a ferramenta no terceiro filme.

A novidade fica por conta da inclusão de duas subtramas, a primeira envolvendo o pequeno dilema adolescente de Amora, com direito a todos os clichês do gênero como o amigo apaixonado relegado porque a garota quer se enturmar com o pessoal do galã, um babaca que só ele não enxerga como tal. É uma versão bem menos inspirada de A Garota de Rosa Shocking, clássico oitentista escrito por John Hughes.



A segunda é a inclusão de um interesse romântico para Diego que também peca pela originalidade, com a garota durona e arredia que após o estranhamento inicial com o herói começa a repensar se está do lado certo na briga.



Pouco original também é a tentativa de incluir um certo elemento “piratesco” à história. Some aí mais alguns clichês que parecem estar presentes somente para a certa altura uma personagem soltar a embaraçosa frase de que a pirataria não compensa.

Ok, desta vez dou o braço a torcer, foram originais em retirar aquela propaganda horrorosa e ultrajante sobre a pirataria que infesta DVDs e cinemas e a introduzirem dentro da própria história.


Assim como nos outros filmes, a história tem lá suas inconsistências, afinal, porque o Capitão Entranha se deu ao trabalho de tentar recuperar seu barco, levado pelos protagonistas, quando, logo em seguida, bastou estalar os dedos para conseguir um muito melhor somente para continuar perseguindo os mocinhos?

No fim, dentro de sua proposta, o filme é, digamos, competente em entregar mais do mesmo e se as histórias anteriores te agradaram não se decepcionará com a nova empreitada dos protagonistas.

Ficha Técnica

Direção: Steve Martino e Michael Thurmeier
Roteiro: Michael Berg, Jason Fuchs
Elenco: Ray Romano (Manny), John Leguizamo (Sid), Denis Leary (Diego), Jennifer Lopez (Shira), Queen Latifah (Ellie), Seann William Scott (Crash), John Peck (Eddie), Nicki Minaj (Haley), Drake (Ethan), Peter Dinklage (Entranha), Kunal Nayyar (Texugo) e outros.
Dublagem: Diego Vilela (Manny), Tadeu Mello (Sid), Márcio Garcia (Diego), Andréa Suhet (Shira), Carla Pompílio (Ellie), Bruna Laynes (Amora), Gustavo Nader (Eddie), Nádia Carvalho (Vovó), Jorge Vasconcellos (Capitão Entranha), Mauro Ramos (Flynn), Eduardo Borgeth (Silas), Vinicius Nascimento (Alce Jovem) e outros.
Edição: James Palumbo e David Ian Salter
Trilha Sonora: John Powell
Duração: 94 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Animação/Comédia
Lançamento: 29 de Junho de 2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crítica - Prometheus


Por Alex Constantino


Quando exploradores descobrem em registros de civilizações antigas pistas daquela que pode ser a origem da vida na Terra, uma equipe científica, financiada por uma megacorporação, é enviada a bordo da espaçonave Prometheus em busca dos possíveis criadores da espécie humana.

E esta missão pode reservar um destino perigoso à humanidade, assim como aquele do titã da mitologia grega (que empresta seu nome à nave) que foi punido pelos deuses por ousar roubar o fogo divino e entregá-lo aos homens.

Com essa premissa Ridley Scott retorna, depois de mais de três décadas, ao universo de Alien, o 8º passageiro, retomando a inovadora mistura de ficção científica com horror e tentando expandir a mitologia da série contando a origem de alguns elementos apresentados no filme de 1979.

O filme possui um objetivo audacioso tentando desenvolver o tema da história em duas linhas distintas que se entrelaçam.

A primeira delas diz respeito aos humanos em sua busca por conhecer seus criadores e a segunda trata da origem da mitologia criada em Alien. É interessante como em ambas o diretor tenta explorar o tema através da dinâmica entre criatura e criador em diversos níveis, representando o conhecimento de que existem padrões que se replicam na natureza, distinguindo-se apenas em seu grau de manifestação.

Isso fica evidente quando no prólogo Scott apresenta sua versão adâmica do ancestral do homem, numa mistura místico-religiosa com pitadas de Nietzsche e uma boa dose de literatura pseudocientífica do naipe de Eram os Deuses Astronautas? de Erich Von Daniken.

Porém, a grande promessa dessa abordagem, que acaba não se concretizando no decorrer da película, é a tentativa de reproduzir no microcosmo da relação entre os humanos da nave e o androide David (Michael Fassbender) a relação destes mesmos humanos com seus supostos criadores, chamados no filme de engenheiros (macrocosmo).

O que seria uma correspondência inspirada que permitiria ao espectador conhecer a relação maior observando a relação menor, acaba se esvaindo na última metade do filme que se preocupa mais em enquadrar a obra dentro da mitologia da famosa série de cinema do que contar uma história autossuficiente e dramaticamente recompensadora. Com isso, o diretor volta a insistir na mesma analogia empregando a condição feminina da protagonista (Noomi Rapace) já utilizada em Alien, repetindo uma simbologia gasta ao invés de apresentar novos símbolos mais adequados à amplitude da premissa do filme.


Poderia o diretor ter se apropriado mais da lenda do titã, que tão se amolda à premissa maior da película como uma alegoria do esforço da humanidade desde tempos remotos em decifrar o propósito de sua existência e os perigos de alcançar tal conhecimento sem a sabedoria para compreender e enfrentar a verdade quando finalmente for encontrada.

E é exatamente a tentativa de encaixar a história como um prelúdio que acaba enfraquecendo o filme por conta da necessidade de incluir na trama e na narrativa visual os elementos que justificassem essa opção. É por causa dela que vemos soluções de roteiro pouco inventivas e, algumas vezes, desconcertantemente inconsistentes, ainda mais quando se tem em mente que o filme é obra de um cineasta que tanto influenciou o gênero no cinema.


Há personagens mal caracterizados e com comportamento conflitante com a função que deveriam exercer na equipe/história, como o geólogo brucutu (?!) que se acovarda inesperadamente e sendo o mais preparado para se locomover na estrutura geológica que exploram acaba se perdendo ou o biólogo que toma a atitude mais temerária (e menos científica possível) ao se deparar com uma nova forma de vida.



Outros personagens sequer deveriam estar ali, como os dois pilotos da nave que não possuem qualquer relevância para a trama e não há justificativa para a existência de papéis redundantes. Infelizmente, nessa categoria se encontra também a personagem Vickers, interpretada por Charlize Theron, desperdiçada como uma fonte de contratempos menores na trama.

Há pistas incluídas de maneira formulaica, cujas soluções apresentadas são enfadonhas e previsíveis. É nesse sentido a conversa da Dra. Shawn (Noomi Rapace) com o capitão da nave para justificar a atitude deste no clímax ou a reprodução holográfica da ação passada dos engenheiros como recurso que os roteiristas utilizaram para forçar a apresentação de alguns pontos da trama que eram necessários para o desenvolvimento da história.

Que dizer então das falas desnecessárias e redundantes que explicitam fatos já mostrados visualmente. Comete-se o pecado narrativo de contar ao invés de mostrar, ou pior, contar depois de já ter mostrado, como o desnecessário diálogo em que o capitão da nave (Idris Elba) explica o que é a misteriosa instalação alienígena que encontraram e que já tinha ficado evidente através da construção narrativa tão bem desenvolvida até aquela cena.

O mesmo ocorre no epílogo em que torna visualmente explícito algo que já tinha ficado subentendido pela narrativa e que teria maior impacto se permanecesse assim.

No fim, o próprio diretor padece do mesmo destino de seus personagens ao ousar desenvolver uma premissa tão grandiosa, ficando apenas a promessa que não se concretiza numa grande história.

Ficha Técnica

Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Guy Pierce, Sean Harris, Rafe Spall, Emun Elliott, Benedict Wong, Kate Dickie, Patrick Wilson, Lucy Hutchinson e outros.
Direção de Fotografia: Dariusz Wolski
Edição: Pietro Scalia
Trilha Sonora: Marc Stritenfeld
Duração: 124 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama – Ficção Científica
Lançamento: 15/06/2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ouro Negro




A Arte é viva e se mistura. Uma parceria urbana. 


Acho de extrema importância que as várias expressões artísticas se conversem. Ainda mais quando o assunto é o nosso mundo, a nossa cidade. 
Um bate-papo propiciou uma parceria urbana que muito me agradou. 
Com a junção do talento de William Mophos e algumas palavras minhas nasceu o trabalho que vocês podem conferir abaixo: 


Quadro de William Mophos




Ouro Negro

"A ganância vibra, a vaidade excita..."

Criolo



Red, Black, Blue, Golden Label todos em cima da mesa, pessoas no chão, jogadas a volúpia que o dinheiro traz. Era festa, uma fusão bilionária, tinha que ser comemorada no melhor motel da cidade.

Peitos ao leo, ao Leo, Dinho, Richard, Manuel, Amamoto, Al Sid, El... era uma festa globalizada.
Nada de Whisky caubói, eram gelos para todos os lados, como na geleira que encontraram o ouro negro, tudo era ouro negro, era tudo que importava...

Aquecimento global, vilas, cidades inundadas...pouco interessava,,, Dow Jones em alta, festa na certa. Ferraris, mansões, piscinas aquecidas, cachoeiras artificiais, diamantes, os maiores da Africa, em troca de uma noitada de sexo.

A sigla da nova empresa era gigante e o mundo pequeno para se gastar tanta ganância.

Mundo este também com uma validade já quase expirada, quase respirando por aparelho, como se os seus pulmões estivessem cheios de fumaça de refinarias.

A festa acaba, a ressaca levanta com os sócios da mais nova maior petrolífera do mundo. O trânsito em SP não anda, eles riem, também pudera, destes sócios o que importa é dinheiro, porque deles, nenhum, ninguém vai pro céu.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crítica Os Acompanhantes


 Por Alex Constantino





Adaptado do romance homônimo de Jonathan Ames, o filme é a terceira incursão no cinema do casal de diretores Robert Pulcini e Shari Springer Berman (Anti-herói Americano, Diário de uma Babá), que juntos com o autor original da estória também são os roteiristas.

Nele, Louis Ives (Paul Dano), um jovem professor de inglês, é demitido por conta de um incidente embaraçoso na escola envolvendo sua fascinação por lingeries e, diante deste revés, resolve se mudar para Nova Iorque para perseguir seu sonho de se tornar um escritor.

Chegando na cidade consegue uma vaga no departamento de vendas de uma revista ambiental, onde desenvolve um interesse romântico por sua colega de trabalho, a vegan Mary Powell (Katie Holmes). Ao mesmo tempo aluga um quarto no apartamento do excêntrico Henry Harrison (Kevin Kline) que busca participar da glamorosa vida social da metrópole servindo como acompanhante de viúvas velhas e milionárias.

O resumo acima transmite a falsa impressão de que acompanharemos o protagonista somente superando os percalços para alcançar a desejada carreira profissional, mas a principal questão dramática repousa na tentativa de mostrar uma típica jornada de autodescoberta, em que os obstáculos externos representam uma ameaça menor quando comparados com o grande conflito interno que enfrenta o personagem.

E é nesse ponto que o filme deixa a desejar porque a própria estória, a seu modo, compartilha com o protagonista de uma certa crise de identidade.

Embora ambos os objetivos sejam claramente definidos desde o início e alcançar qualquer deles seja difícil, mas ao alcance das capacidades do protagonista, os realizadores pecam em demonstrar que eles sejam realmente importantes ao personagem e que ele esteja disposto a alcançá-los a qualquer custo, pois do contrário haveria consequências graves.




Nem se pode dizer que o primeiro objetivo é a forma como o segundo é exteriorizado pelo personagem porque não é apresentada qualquer correlação direta, uma vez que a dúvida enfrentada pelo protagonista tem ligação com sua inibição e/ou inadequação sexual e social.

Além disso, sua fascinação por lingeries, assim como sua admiração pelo autor americano F. Scott Fitzgerald e pela época em que este viveu (cerca de 1920), mais do que ferramentas para impulsar a trama ou dar profundidade ao personagem, funcionam como pretextos para os elementos utilizados em sua caracterização (fala, comportamento, roupas) e recursos adotados na narrativa, como o uso excessivo e desnecessário de um narrador, uma fotografia competente, mas monocromática e asséptica, transições com fade-ins e fade-outs, etc.

Isso faz com que o protagonista tenha características mais pitorescas do que interessantes e também não se revela muito ativo em seus comportamentos. Por exemplo, nenhum avanço dele rumo a concretizar a meta de ser escritor é resultado direto de uma ação concreta e consciente tomada nesse sentido, sendo que os próprios realizadores sequer se preocupam em desenvolver muito essa vertente da trama.

Estranhamente, ele é mais ativo quando se trata da subtrama envolvendo seu interesse romântico, mas mesmo ela tem uma importância circunstancial na transformação do personagem, embora sinta depois os efeitos desta.

A própria mudança de cidade, é mais uma desculpa para fazer o protagonista se deparar com figuras igualmente pitorescas do que colocá-lo em movimento rumo a seu destino.

O próprio personagem vivido por Kevin Kline é a expressão da excentricidade, muito mais colorido do que profundo, cuja piada mais inspirada diz respeito a um grito off-screen chamando-o de “Asshole” enquanto dirige loucamente seu carro enferrujado, uma referência à expressão frequente utilizada pelo personagem Otto (também interpretado por Kline) enquanto dirigia por Londres no filme Um Peixe Chamado Wanda.



Os demais personagens também representam um apanhado caricato definido por seus comportamentos exageradamente extravagantes, como o hirsuto “ermitão urbano” Gershon Gruen (John C. Reilly) ou a boêmia e bilionária octogenária Vivian Cudlip (Marian Celdes), que, assim como Henry estão ali só para fazer com que o protagonista aceite que todos têm suas próprias idiossincrasias.

A película mistura uma estória de comédia, por onde transita um protagonista de melodrama, cercado por um punhado de personagens provenientes de uma farsa. Portanto, quando o personagem de Kevin Kline exprime sua frase emblemática: “So here we are, where are we? (aqui estamos nós, onde estamos?), não dá para deixar de se imaginar retrucando, uma vez que se trata de um filme de autodescoberta: Okay, but who are you? Why are you there? (Tudo bem, mas quem é você? E porque está aí?


Ficha Técnica

Direção: Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Roteiro: Robert Pulcini, Shari Springer Berman e Jonathan Ames
Produção: Anthony Bregman e Stephanie Davis
Elenco: Paul Dano, Kevin Kline, John C. Reilly, Katie Holmes, Marian Seldes, Celia Weston, Patti D’Arbanville, dan Hedaya, Jason Butler Harner, Jonathan Ames e outros.
Fotografia: Terry Stacey
Edição: Robert Pulcini
Trilha Sonora: Klaus Badelt
Duração: 108 min
País: EUA
Gênero: Comédia