quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crítica - Prometheus


Por Alex Constantino


Quando exploradores descobrem em registros de civilizações antigas pistas daquela que pode ser a origem da vida na Terra, uma equipe científica, financiada por uma megacorporação, é enviada a bordo da espaçonave Prometheus em busca dos possíveis criadores da espécie humana.

E esta missão pode reservar um destino perigoso à humanidade, assim como aquele do titã da mitologia grega (que empresta seu nome à nave) que foi punido pelos deuses por ousar roubar o fogo divino e entregá-lo aos homens.

Com essa premissa Ridley Scott retorna, depois de mais de três décadas, ao universo de Alien, o 8º passageiro, retomando a inovadora mistura de ficção científica com horror e tentando expandir a mitologia da série contando a origem de alguns elementos apresentados no filme de 1979.

O filme possui um objetivo audacioso tentando desenvolver o tema da história em duas linhas distintas que se entrelaçam.

A primeira delas diz respeito aos humanos em sua busca por conhecer seus criadores e a segunda trata da origem da mitologia criada em Alien. É interessante como em ambas o diretor tenta explorar o tema através da dinâmica entre criatura e criador em diversos níveis, representando o conhecimento de que existem padrões que se replicam na natureza, distinguindo-se apenas em seu grau de manifestação.

Isso fica evidente quando no prólogo Scott apresenta sua versão adâmica do ancestral do homem, numa mistura místico-religiosa com pitadas de Nietzsche e uma boa dose de literatura pseudocientífica do naipe de Eram os Deuses Astronautas? de Erich Von Daniken.

Porém, a grande promessa dessa abordagem, que acaba não se concretizando no decorrer da película, é a tentativa de reproduzir no microcosmo da relação entre os humanos da nave e o androide David (Michael Fassbender) a relação destes mesmos humanos com seus supostos criadores, chamados no filme de engenheiros (macrocosmo).

O que seria uma correspondência inspirada que permitiria ao espectador conhecer a relação maior observando a relação menor, acaba se esvaindo na última metade do filme que se preocupa mais em enquadrar a obra dentro da mitologia da famosa série de cinema do que contar uma história autossuficiente e dramaticamente recompensadora. Com isso, o diretor volta a insistir na mesma analogia empregando a condição feminina da protagonista (Noomi Rapace) já utilizada em Alien, repetindo uma simbologia gasta ao invés de apresentar novos símbolos mais adequados à amplitude da premissa do filme.


Poderia o diretor ter se apropriado mais da lenda do titã, que tão se amolda à premissa maior da película como uma alegoria do esforço da humanidade desde tempos remotos em decifrar o propósito de sua existência e os perigos de alcançar tal conhecimento sem a sabedoria para compreender e enfrentar a verdade quando finalmente for encontrada.

E é exatamente a tentativa de encaixar a história como um prelúdio que acaba enfraquecendo o filme por conta da necessidade de incluir na trama e na narrativa visual os elementos que justificassem essa opção. É por causa dela que vemos soluções de roteiro pouco inventivas e, algumas vezes, desconcertantemente inconsistentes, ainda mais quando se tem em mente que o filme é obra de um cineasta que tanto influenciou o gênero no cinema.


Há personagens mal caracterizados e com comportamento conflitante com a função que deveriam exercer na equipe/história, como o geólogo brucutu (?!) que se acovarda inesperadamente e sendo o mais preparado para se locomover na estrutura geológica que exploram acaba se perdendo ou o biólogo que toma a atitude mais temerária (e menos científica possível) ao se deparar com uma nova forma de vida.



Outros personagens sequer deveriam estar ali, como os dois pilotos da nave que não possuem qualquer relevância para a trama e não há justificativa para a existência de papéis redundantes. Infelizmente, nessa categoria se encontra também a personagem Vickers, interpretada por Charlize Theron, desperdiçada como uma fonte de contratempos menores na trama.

Há pistas incluídas de maneira formulaica, cujas soluções apresentadas são enfadonhas e previsíveis. É nesse sentido a conversa da Dra. Shawn (Noomi Rapace) com o capitão da nave para justificar a atitude deste no clímax ou a reprodução holográfica da ação passada dos engenheiros como recurso que os roteiristas utilizaram para forçar a apresentação de alguns pontos da trama que eram necessários para o desenvolvimento da história.

Que dizer então das falas desnecessárias e redundantes que explicitam fatos já mostrados visualmente. Comete-se o pecado narrativo de contar ao invés de mostrar, ou pior, contar depois de já ter mostrado, como o desnecessário diálogo em que o capitão da nave (Idris Elba) explica o que é a misteriosa instalação alienígena que encontraram e que já tinha ficado evidente através da construção narrativa tão bem desenvolvida até aquela cena.

O mesmo ocorre no epílogo em que torna visualmente explícito algo que já tinha ficado subentendido pela narrativa e que teria maior impacto se permanecesse assim.

No fim, o próprio diretor padece do mesmo destino de seus personagens ao ousar desenvolver uma premissa tão grandiosa, ficando apenas a promessa que não se concretiza numa grande história.

Ficha Técnica

Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Guy Pierce, Sean Harris, Rafe Spall, Emun Elliott, Benedict Wong, Kate Dickie, Patrick Wilson, Lucy Hutchinson e outros.
Direção de Fotografia: Dariusz Wolski
Edição: Pietro Scalia
Trilha Sonora: Marc Stritenfeld
Duração: 124 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama – Ficção Científica
Lançamento: 15/06/2012

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