quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crítica Os Acompanhantes


 Por Alex Constantino





Adaptado do romance homônimo de Jonathan Ames, o filme é a terceira incursão no cinema do casal de diretores Robert Pulcini e Shari Springer Berman (Anti-herói Americano, Diário de uma Babá), que juntos com o autor original da estória também são os roteiristas.

Nele, Louis Ives (Paul Dano), um jovem professor de inglês, é demitido por conta de um incidente embaraçoso na escola envolvendo sua fascinação por lingeries e, diante deste revés, resolve se mudar para Nova Iorque para perseguir seu sonho de se tornar um escritor.

Chegando na cidade consegue uma vaga no departamento de vendas de uma revista ambiental, onde desenvolve um interesse romântico por sua colega de trabalho, a vegan Mary Powell (Katie Holmes). Ao mesmo tempo aluga um quarto no apartamento do excêntrico Henry Harrison (Kevin Kline) que busca participar da glamorosa vida social da metrópole servindo como acompanhante de viúvas velhas e milionárias.

O resumo acima transmite a falsa impressão de que acompanharemos o protagonista somente superando os percalços para alcançar a desejada carreira profissional, mas a principal questão dramática repousa na tentativa de mostrar uma típica jornada de autodescoberta, em que os obstáculos externos representam uma ameaça menor quando comparados com o grande conflito interno que enfrenta o personagem.

E é nesse ponto que o filme deixa a desejar porque a própria estória, a seu modo, compartilha com o protagonista de uma certa crise de identidade.

Embora ambos os objetivos sejam claramente definidos desde o início e alcançar qualquer deles seja difícil, mas ao alcance das capacidades do protagonista, os realizadores pecam em demonstrar que eles sejam realmente importantes ao personagem e que ele esteja disposto a alcançá-los a qualquer custo, pois do contrário haveria consequências graves.




Nem se pode dizer que o primeiro objetivo é a forma como o segundo é exteriorizado pelo personagem porque não é apresentada qualquer correlação direta, uma vez que a dúvida enfrentada pelo protagonista tem ligação com sua inibição e/ou inadequação sexual e social.

Além disso, sua fascinação por lingeries, assim como sua admiração pelo autor americano F. Scott Fitzgerald e pela época em que este viveu (cerca de 1920), mais do que ferramentas para impulsar a trama ou dar profundidade ao personagem, funcionam como pretextos para os elementos utilizados em sua caracterização (fala, comportamento, roupas) e recursos adotados na narrativa, como o uso excessivo e desnecessário de um narrador, uma fotografia competente, mas monocromática e asséptica, transições com fade-ins e fade-outs, etc.

Isso faz com que o protagonista tenha características mais pitorescas do que interessantes e também não se revela muito ativo em seus comportamentos. Por exemplo, nenhum avanço dele rumo a concretizar a meta de ser escritor é resultado direto de uma ação concreta e consciente tomada nesse sentido, sendo que os próprios realizadores sequer se preocupam em desenvolver muito essa vertente da trama.

Estranhamente, ele é mais ativo quando se trata da subtrama envolvendo seu interesse romântico, mas mesmo ela tem uma importância circunstancial na transformação do personagem, embora sinta depois os efeitos desta.

A própria mudança de cidade, é mais uma desculpa para fazer o protagonista se deparar com figuras igualmente pitorescas do que colocá-lo em movimento rumo a seu destino.

O próprio personagem vivido por Kevin Kline é a expressão da excentricidade, muito mais colorido do que profundo, cuja piada mais inspirada diz respeito a um grito off-screen chamando-o de “Asshole” enquanto dirige loucamente seu carro enferrujado, uma referência à expressão frequente utilizada pelo personagem Otto (também interpretado por Kline) enquanto dirigia por Londres no filme Um Peixe Chamado Wanda.



Os demais personagens também representam um apanhado caricato definido por seus comportamentos exageradamente extravagantes, como o hirsuto “ermitão urbano” Gershon Gruen (John C. Reilly) ou a boêmia e bilionária octogenária Vivian Cudlip (Marian Celdes), que, assim como Henry estão ali só para fazer com que o protagonista aceite que todos têm suas próprias idiossincrasias.

A película mistura uma estória de comédia, por onde transita um protagonista de melodrama, cercado por um punhado de personagens provenientes de uma farsa. Portanto, quando o personagem de Kevin Kline exprime sua frase emblemática: “So here we are, where are we? (aqui estamos nós, onde estamos?), não dá para deixar de se imaginar retrucando, uma vez que se trata de um filme de autodescoberta: Okay, but who are you? Why are you there? (Tudo bem, mas quem é você? E porque está aí?


Ficha Técnica

Direção: Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Roteiro: Robert Pulcini, Shari Springer Berman e Jonathan Ames
Produção: Anthony Bregman e Stephanie Davis
Elenco: Paul Dano, Kevin Kline, John C. Reilly, Katie Holmes, Marian Seldes, Celia Weston, Patti D’Arbanville, dan Hedaya, Jason Butler Harner, Jonathan Ames e outros.
Fotografia: Terry Stacey
Edição: Robert Pulcini
Trilha Sonora: Klaus Badelt
Duração: 108 min
País: EUA
Gênero: Comédia



Nenhum comentário:

Postar um comentário