domingo, 29 de janeiro de 2012

Crítica - J.Edgar


Divulgação


Clint Eastwood, é uma lenda viva do cinema mundial por sua carreira como ator e também por sua brilhante carreira como diretor, apenas para ilustrar e talvez relembrar alguns, são direção de Eastwood, Sobre meninos e Lobos, Menina de Ouro, Gran Torino, direções notáveis na última década. Agora também como todo ser humano cometeu alguns erros como o último filme dele Além da vida que é um acumulo de clichês, digo isso como fã da direção do senhor Eastwood. Logo, J.Edgar...



Leonardo Dicaprio vem construindo uma carreira respeitável ao trabalhar com grandes diretores, basta olhar para os últimos que ele atuou, citando alguns exemplos vale ressaltar a parceria com Scorcese em Gangues de Nova York, O Aviador que lhe deu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar Os Infiltrados e Ilha do Medo, a atuação em A Origem de Christopher Nolan, então por que não trabalhar com Clint Eastwood? Sem contar outros bons trabalhos como por exemplo Diamantes de Sangue que lhe rendeu uma nova indicação ao Oscar como melhor ator e do ótimo filme Foi apenas um Sonho. Logo, J.Edgar...

Dustin Lance Black foi o escolhido para fazer o roteiro, para quem não se lembra Blake foi o responsável e vencedor da estatueta por Milk – A voz da igualdade. Logo, J.Edgar...

Quem foi J.Edgar Hoover?

No filme que entra em cartaz este fim de semana, Clint Eastwood e sua equipe nos mostra um Hoover (Di Caprio) e sua briga para a criação do FBI (Federal Bureau of Investigation). Nesta guerra particular ele enfrentou, chantagens, politicagens, muitas vezes de maneira dura. Deixando assim de ser um jovem funcionário determinado para se tornar diretor do hoje tão famoso FBI.

O roteiro de Black também focou na vida pessoal, de Hoover, sua relação com a mãe e com o segundo em comando do FBI e amigo Clide Tolson. E é justamente através de Tolson interpretado por Armie Hammer (Rede Social) que é mostrada a relação homossexual e conflitos pessoais de Edgar Hoover.

Não achei boa direção de Clint Eastwood, mais uma vez, talvez porque o roteiro é muito arrastado, muito longo e repetitivo.

Com relação a pergunta quem foi J. Edgar Hoover? Para nós brasileiros que pouco conhecemos a história dessa personalidade marcante do século XX, deixou a desejar. Justamente porque o roteiro fica na superfície, seja na carreira como na vida pessoal de J.Edgar Hoover.


O ponto forte é a interpretação de Leonardo DiCaprio e mesmo de Judi Dench . No caso de Di Caprio vale valorizar independente de ter sido ou não indicado ao Oscar.

Por ser um Clint Eastwood vale conferir de perto para falar bem ou mal depois.



J.Edgar

Diretor/Produtor/Compositor - Clint Eastwood                    
Roteirista- Dustin Lance Black
Elenco - Leonardo DiCaprio, Armie Hammer. Naomi Watts, Josh Lucas e Judi Dench        
Produtores - Brian Grazer e Robert Lorenz              
Produtores Executivos - Tim Moore e Erica Huggins          
Diretor de Fotografia - Tom Stern, AFC, ASC            
Diretor de Arte - James J.Murakami                          
Editor - Joel Cox, A.C.E e Gary D. Roach  
Figurinista - Débora Hopper    

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Crítica - Os Descendentes




Honesto. Esta é a palavra que define "Os Descendentes" novo filme de Alexander Payne (Sydeways – Entre umas e outras) que tem estréia prevista para este fim de semana.

Como Payne já havia feito em Sideways, ele vai apresentando os personagens aos poucos, quase como se o público fosse personagens coadjuvantes do roteiro. E é nessa condição que todos se aproximam de Matt King (George Clooney) e vê ao seu lado o sofrimento pelo acidente de barco sofrido pela esposa em Waikiki, Havaí. Assistem também a dificuldade que ele tem ao se relacionar com suas filhas, e de uma negociação complicada relacionada a terras que pertencem a sua familia desde a época que a realeza controlava o Havaí.

Nesta toada, um roteiro preciso, ora dramático, ora cômico, e quando você se dá conta já se está totalmente envolvido, com os personagens, com a cidade, com um Havaí longe do que é normalmente apresentado nos filmes.




Outro ponto forte do filme são as interpretações de George Clooney e Shailene Woodley, Clooney como costumeiramente nos últimos filmes não tem deixado a desejar. Já Woodley me surpreendeu e também foi muito bem.





Se o roteiro é ótimo, as interpretações boas, não tinha como não elogiar a direção de Alexander Payne que também co-escreveu o roteiro ao lado de Nat Faxon e Jin Rash. Mais uma vez ele consegue impor o seu ritmo e mostrar a vida como muitas vezes ela é, cômica, dramática, cheia de confusões, revelações, emoções e decisões, enfim, real e intensa como ela deve ser.

Um filme que consegue agradar e ficar acima da média em roteiro, atuações e direção, não tem como não ser bom. Deve sim, ser conferido para ver se merece todos os prêmios que vem recebendo.



Os Descendentes

Direção: Alexander Payne
Roteiro: Alexander Payne, Nat Faxon e Jin Rash
Elenco: George Clooney, Amara Miller, Shailene Woodley, Mathew Lillard, Beua Bridges, Robert Forester, Judy Greer, Nick Krause, Rob Huebel, Patricia Hastie.
Produção: Jim Burke, Alexander Payne e Jim Taylor.
Fotografia: Phedon Papamichael.
Duração: 110 minutos
Ano: 2011
País: Eua
Distribuição: Fox Film

domingo, 22 de janeiro de 2012

Crítica - As Mulheres do 6° Andar




Era um biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho...

"As Mulheres do 6° andar é uma comédia francesa, elegante, deliciosa, daquelas que não se pode perder.
Philippe Le Guay diretor e roteirista ao lado de Jérôme Tonnerre, nos apresenta personagens simpáticos, reais, cativantes e vai nos envolvendo desde a primeira cena, mostrando uma Paris como sempre bela, na década de 60.





No início acompanhamos Jean-Louis Joubert um homem de meia-idade que trabalha em negócio da própria família e que adora um ovo esquentado por três minutos e meio, algo que determina o seu humor durante o dia. É casado com uma mulher pra lá de madame.




A vida deles começa a mudar quando a empregada da família que estava com eles a mais de 25 anos pede as contas e eles buscam substituí-la e se dão conta que empregadas domésticas francesas  estão em extinção. Sem ter para onde correr, recorrem as empregadas domésticas espanholas que tentam sobreviver em Paris, e contratam Maria.




Com este novo elemento passamos a conhecer um pouco mais das mulheres espanholas que vivem justamente no 6° andar do prédio onde o senhor Joubert vive com sua família. É em um destes momentos que conhecemos um pouco mais destas mulheres.




A trilha sonora de José Arriagada nos proporciona um ótimo momento quando vemos essas distintas senhoras cantando em francês "Biquini de bolinhas amarelinha". Simplesmente encantador.


Ressalto o roteiro simples e incrível, interpretações ótimas de Fabrice Luchini como Joubert, das ótimas como sempre, e desta vez, sem Almodóvar, Carmen Maura (Matador, Mulheres a beira de um ataque de nervos, Volver) e Lola Dueñas (Fale com ela,Volver, Abraços Partidos) além é claro de Natalia Verbecke (O filho da noiva) que está muito bem no papel de Maria.

Um filme gostoso de se ver e que não deixa de mostrar e cutucar como era a França antes de 1968.
Se eu fosse você ficaria na fila na estréia no dia 27 de janeiro ou até mesmo iria na pré-estréia que já está rolando em alguns cinemas para acompanhar esta excelente comédia. Garanto que você vai gostar e vai cantar biquíni de bolinha amarelinhas junto com as espanholas.



As Mulheres do 6° Andar

Diretor: Philippe Le Guay
Elenco: Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain, Natalia Verbeke, Carmen Maura, Lola Dueñas, Berta Ojea, Nuria Solé, Concha Galán, Marie-Armelle Deguy, Muriel Solvay
Produção: Etienne Comar, Philippe Rousselet
Roteiro: Philippe Le Guay, Jérôme Tonnerre
Fotografia: Jean-Claude Larrieu
Trilha Sonora: Jorge Arriagada
Duração: 104 min.
Ano: 2010
País: França
Gênero: Comédia

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crítica - As Aventuras de Tintim



Como é que um repórter que agora no último dia 10 de janeiro completou 83 anos pode ser tão cheio de vida, tão perspicaz e agradar tanto crianças e adultos?
É isso que se verá nos cinemas a partir do próximo dia 20 de janeiro, próxima sexta, quando estréia "As Aventuras de Tintim" -  dirigido por Steven Spielberg que também assina a produção ao lado de Peter Jackson. Filme que leva as telas o quadrinho criado por Hergé que já vendeu mais de 230 milhões de exemplares e foi traduzido para mais de 80 idiomas.



Spielberg e Jackson optaram em fazer uma animação onde atores usam trajes que reproduzem digitalmente seus movimentos. Técnica conhecida e usada por Jackson na Trilogia Senhor dos anéis e King Kong. A animação, diga-se de passagem, ficou lindíssima, tenho que concordar.





Os roteiristas Steven Moffat, Edgar Wright, Joe Cornish, fizeram um bom trabalho com os cativantes personagens criados por Hergé, como o caso de Dupont e Dupond a dupla de detetives, com o capitão Haddock vivido por Andy Serkis (Trilogia Senhor dos Anéis e King Kong)  e claro com grande cão Milu amigo fiel de Tintim (Jamie Bell). Ainda fazem parte do elenco Daniel Craig e Simon Pegg. Com tudo isso e com um fã assumido da série, Spielberg, esse projeto não tinha como dar errado.

Desde os primeiros minutos a aventura não para, queremos descobrir cada segredo que aparece, desde o momento em que Tintim compra uma maquete da embarcação Licorne numa feira de antiguidades e descobre que existe um grande mistério a rondando. É tanta aventura, perseguições, correrias que não tem como não lembrar do clássico Indiana Jones.

A qualidade digital com certeza é um ponto alto do filme, mas desta vez a favor da proposta e do roteiro.

Vale comentar que me incomodei com o movimento de câmera escolhido por Spielberg, que em muitas partes é excessivo, o que incomoda para ler as legendas. Sendo assim você tem duas opções, não prestar atenção nas legendas ou assistir a uma cópia dublada. Agora não deixe de ver em IMAX, vale a pena!

Veja esse filme, não porque o filme acabou de ganhar o Globo de Ouro por animação e provavelmente faturará o Oscar, mas sim porque vale a pena acompanhar um velhinho de 83 anos que ainda tem muita lenha para queimar, além dos quadrinhos.


As Aventuras de Tintim 

País: EUA/ Nova Zelândia
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Vozes na versão original de: Daniel Craig, Simon Pegg, Jamie Bell, Andy Serkis, Cary Elwes, Toby Jones, Nick Frost, Tony Curran, Sebastian Roché, Mackenzie Crook
Produção: Peter Jackson, Kathleen Kennedy, Steven Spielberg
Roteiro: Steven Moffat, Edgar Wright, Joe Cornish
Fotografia: Janusz Kaminski
Trilha Sonora: John Williams
Duração: 108 min.
Ano: 2011
Gênero: Animação


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crítica - A Hora da Escuridão

Foto Divulgação/Fox Film do Brasil

Amanhã estréia no Brasil o filme a Hora da Escuridão, semana passada tive a oportunidade de assistir ao filme em uma sala 3D e comento um pouco com vocês.

Emile Hirsh (Na Natureza Selvagem, Milk) e Max Minghella (Tudo pelo Poder, Rede Social e Syriana) dirigidos Chris Gorak em sua segunda direção e com trabalhos no departamento de artes de Minority Report e Clube da Luta. Os três com bons filmes na bagagem.

A sinopse: Dois amigos vividos por Hirsh e Minghella estão de passagem por Moscou e são surpreendidos por nada mais nada menos que um ataque alienígena que causa pane nos aparelhos eletrônicos. Interessante é que estes invasores não são como os mais conhecidos verdes ou cabeçudos com grandes olhos, eles são constituídos por uma forma de eletricidade e são quase invisíveis e que transformam qualquer um toca em poeira.

Atores e diretor com filmes bons na bagagem, uma sinopse diferente e o gênero colocado como terror, e ainda é feito com a mais nova técnologia 3D. Será?

Foto Divulgação/Fox Film do Brasil

Bastou poucos minutos, para que alguns poréns começassem a aparecer. Efeitos visuais para todo lado, alienígenas caindo do céu e policiais atirando a esmo em uma coisa que obviamente balas não poderiam atingir, correria e cabelinhos sempre arrumados. Ou seja roteiro indo para lugar nenhum coisa que infelizmente vem se tornando cada vez mais comum. Tudo em nome das impressionantes imagens produzidas em 3D.

Acho demais os recursos e as imagens que são conseguidas através das novas tecnologias cinematograficas, o que penso é que tais recursos precisam ser a favor do roteiro como por exemplo foi feito de maneira brilhante em A Origem, Batman Cavaleiro das Trevas e na revolução tecnológica Matrix voltando um pouco mais no tempo e tantos outros.

Roteiro fraco, direção como tantas outras, apenas em prol da tecnologia, desnecessária a presença de Emile Hirsh e Max Minghella  neste filme.

Um filme esquecível de férias, mas quem curte o gênero pode arriscar!



Diretor: Chris Gorak
Elenco: Emile Hirsch, Olivia Thirlby, Rachael Taylor, Joel Kinnaman, Max Minghella
Produção: Timur Bekmambetov, Tom Jacobson
Roteiro: Leslie Bohem, M.T. Ahern e Jon Spaihts
Fotografia: Scott Kevan
Trilha Sonora: Tyler Bates
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Terror
Cor: Colorido
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: Regency Enterprises


domingo, 8 de janeiro de 2012

Textos internos 6

Foto do Filme "Conta Comigo"

Deveria, o Homem, estar acostumado com a perda. Isso é o que mais acontece em toda sua vida, desde o nascimento, mesmo esta hora tão maravilhosa é iniciada por uma perda. A da aconchegante proteção que se recebe da mãe, e ela é feita de maneira abrupta, se é jogado do espaço quentinho e gostoso para um lugar barulhento e posso dizer um pouco complicado. Se não bastasse isso, ainda cortam o tal do cordão que ainda o une a mãe. Pronto. Já era, está declarada a estação das perdas.

A cada segundo que passa se perde algo,  seja um dente, um pouco do cabelo, sexo casuais até coisas simples como uma inspiração genial, amores,  uma palavra certa para um texto, juventude,  a mãe, si mesmo e a vida em si.

Estes dias estava mudando de canal e estava passando o filme “Stand By me” (Conta Comigo), antigo já, lá da década de 80, como de costume não consegui mudar de canal, coisa que normalmente me acontece quando vejo filmes que remetem a minha infância. Pois bem, além do filme inteiro, e da descoberta que o Will Wheaton do atual Big Bang Theory está no filme o que me chamou a atenção, foi uma frase, que diz mais ou menos assim: “ Muitas vezes a vida passa muito rápido e grandes amigos acabam passando em nas nossas vidas como garçons e que os nossos melhores amigos são aqueles que tivemos quando tínhamos 12 anos.”

Confesso que realmente os amigos que tive aos 12 são inesquecíveis ainda mais aqueles que estão comigo até hoje. Mas, os que conheci aos 16 não são menos importantes. Do mesmo jeito que aqueles que conheci aos 25, são extremamente importantes no meu dia a dia. E espero que continue assim aos 40, 50 e quem sabe mais pra frente.

Com relação aos amigos que passam como “garçons” certa vez li por ai que as pessoas que passam pela minha vida, pela sua vida mesmo que seja por 2 minutos e trocam algumas palavras com você fazem parte da sua árvore da vida, como se cada pessoa que você conhece fosse um galho de sua grande árvore. Seja para esta ou para outras tantas vidas que você teve ou venha ter (mesmo você acreditando nisso ou não).

Obviamente que existe também o lado prático das coisas que nos mostra que muitos deles se afastam por coisas da vida.

Eu sou romântico demais para sofrer com o mundo e romântico de menos para conseguir mudar alguma coisa, de qualquer forma, apenas colaboro com a minha parte. E esta parte me cabe sentir e muito a partida daqueles que amo por doença, por acidente, nestes casos a saudade só aumenta, já aqueles que perdi por meia dúzia de palavras mal trocadas ou por distâncias criadas pela vida sinto saudade e tristeza por não caminharmos juntos a metade do caminho para nos reaproximarmos.

Bato na tecla de que o maior objetivo do Homem está nas coisas mais simples, basta ver a felicidade de um casal que se ama por mais de 50 anos ao se reencontrarem no amanhecer do dia ou a felicidade de um jovem casal ao ver seu filho todo sujo por ter nascido a poucos segundos.

Sim, somos complexos demais, contraditórios demais, sonhadores demais e muitas vezes só isso.

Já disse que sou romântico? Talvez por isso sinto tanto as perdas daqueles que de alguma maneira amo...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dos Mendigos



A mão estava suja, de uma sujeira que não sai em um banho só. Nem com aqueles que se faz com tijolos raspando até sair sangue como diria meu avô. A mão pegou um tomate lindo daquela caixa de fim feira. Percebi então que olhos dele pararam nos meus e sem desviar atenção com convicção mordeu o fruto e deixou escorrer o caldo pelo queixo e pescoço. Não menos limpos que sua mão.
Algo me chamou atenção naquela convicção e no prazer daquela mordida e sem perceber salivei de tanta água na boca.
Só me dei conta que não foi só para mim quando vi o braço estendido me oferendo um pedaço. Sem saber como reagir olhei para o lado e para outro e me dei conta que estávamos sozinhos, eu, ele e o fim da feira.
Neguei, claro. Ele insistiu. Salivei. E na terceira vez nem cristo negaria e mesmo sem acreditar no que fazia, aceitei. Mordi e enquanto mordia, vi de perto aqueles olhos se desviarem como se reprovasse a mordida. Agradeci e ameacei partir, não consegui. Ficamos parados por alguns segundos nos olhando.
Não aguentei e perguntei o porquê da reprovação enquanto mais caldo escorria por seu pescoço. Mais uma vez aqueles olhos me encararam e tive a certeza que eles não eram estranhos.
Se aproximou, o cheiro não era bom, definitivamente nada bom. Percebi que só restavam alguns dentes quando sorriu. Um sorriso mesmo assim encantador e não menos conhecido.
Se voltou para a caixa e procurou outro tomate, achou. Limpou. Ou mais sujou. Estendeu o braço, o olhar e o sorriso em minha direção. Esperou. Reparei o jeito que me oferecia. Aquele jeito...
Peguei, mordi, dessa vez mordi e senti o caldo escorrer até chegar ao meu peito.
Ele sorriu para mim e comigo com uma linda satisfação que me era familiar.
Sentamos na calçada, me sentia tão bem, podia ficar ali por horas. Sem dizer uma única palavra.
Ele não. Se levantou, esfregou as mãos, encolheu os ombros...
Pensei que ele faria uma reverência, não fez. Apenas me olhou e partiu.
Fiquei ali. E lembrei das lições de vida que meu pai me deu antes de partir. Lembrei que ele não me dizia uma única palavra. Me aplicava sermão com aqueles olhos...
E se quem amamos morre e reencarna em mendigos?

domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz Fim do Mundo Pra você!


Ele não era objetivo.

Final de ano era algo quase insuportável para um cara tímido como ele, todas aquelas festas para ir, era empresa, faculdade, família. Muitas pessoas celebrando, expondo suas emoções ao extremo, tudo para mais uma noite como todas. Exceto pelo fato de ser fim de ano. Enfim, mesmo pensando que as pessoas que ele iria encontrar ou não falaram com ele o ano todo ou não sabiam quem era ele. Lá ia ele participar das festividades. Pelo menos, a bebida era de graça.

Ele era perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu copinho com alguma coisa dentro. Esboçava um sorriso aqui e outro ali. Com o passar das horas e dos copos, ele até tentava mexer o pé uns 5 centímetros acompanhando a música que tocava.

Lá pelas duas da manhã, sempre tinha a mina bêbada que encostava para falar com ele. Ótimo pensava ele, depois de dizer que trabalhava na contabilidade pela terceira vez. Ela não entendia porque sempre lá pelas três todas as mulheres tiravam o sapato para dançar se apoiando nele quase que pedindo para que olhasse o seus decotes, enfim era de praxe e ele já tinha se acostumado, olhava e admirava fazer o quê, ele também era filho de deus, se é que deus existe.

Depois da visão sempre um sorriso safado vinha ao seu rosto e ele pedia o telefone da garota. Bingo. Ela dava. Mais um para a coleção.

No dia seguinte depois de exitar umas quinze vezes, ligava e como de costume, nada, niente, necas de pitibirabas. Mais uma vez não dava certo, elas não se lembravam dele. Mesmo ele se lembrando muito bem.

Ele estava cansado de tudo isso, sempre a mesma coisa. Decidiu pela vigésima vez que mudaria e seria naquele dia, na festa de amigo secreto dos amigos da faculdade.

Já disse que ele era perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu copinho com alguma coisa dentro? Já. Ok, obrigado. Então lá foi ele para o seu lugar característico, dessa vez foi um copo atrás do outro, e quando se deu conta lá estava ela ao seu lado, ela o vestidinho curto, bom pensou ele, lá vou eu de novo...
Duas, três da manhã e ela não tirava o sapato. Pensou então que não teria peitinho aquela noite. Lamentou. Ela interrompeu finalmente o silêncio e perguntou se ele não era ele. Ele até assustou por ela saber seu nome. Sorriu e logo se fechou. Mais alguns minutos para ele puxar um novo assunto e assim foi que a conversa rolou aos trancos. Depois de trocarem meia dúzia de palavras e ele decidiu pedir o telefone, ela deu...

Ele se mostrou educado e se ofereceu para pegar uma bebida, ela aceitou. E partiu para pegar algo mais forte. No caminho foi interrompido pelo...não lembrou o nome, que dizia empolgado que faltava pouco para o fim do mundo segundo o calendário Maia, gritava: - Amanhã, amanhã o mundo acaba...Ele se desculpou e saiu da conversa do maluco. Pegou a bebida e voltou.

Incrível ela estava lá. E ainda o recebeu com um sorriso, algo de muito estranho estava acontecendo, mas ele já não se importava, engrenou uma outra conversa e no meio dela viu que a festa estava acabando. Merda, logo agora pensou alto. Ela riu e se despediu. Quando ia saindo ele perguntou se ele ligasse ela se lembraria dele. Ela riu e pediu o telefone dele caso ele não ligasse, dizendo que mesmo que o mundo acabasse ela ligaria de volta. Ele deu.

Dia seguinte, acordou tarde com a ressaca pós festa. Tomou o café com o sorriso de orelha a orelha. E decidiu ligar, buscou o celular e não achava em lugar nenhum. Como não tinha telefone em casa não podia nem ligar para ele mesmo. Pensou que devia ter perdido no caminho de volta e o problema era que lá estava toda a sua agenda. Revirou a casa. Nada. Mais uma vez se deu mal. Escutou barulhos, gritos, ligou a TV e descobriu o improvável, vários acidentes em inúmeros lugares, era Tsunami aqui outro ali, vulcões... viu que as pessoas estavam nas ruas desesperadas....Pensou na sua mãe...e que morreria sem ter conquistado nada. Se trocou e disse que não veria o fim do mundo da sua casa. Quando ia fechando a porta escutou o celular tocar.

- Mãe?

- Não. Sou eu, lembra? Feliz Fim do Mundo pra você, viu eu liguei...