domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz Fim do Mundo Pra você!


Ele não era objetivo.

Final de ano era algo quase insuportável para um cara tímido como ele, todas aquelas festas para ir, era empresa, faculdade, família. Muitas pessoas celebrando, expondo suas emoções ao extremo, tudo para mais uma noite como todas. Exceto pelo fato de ser fim de ano. Enfim, mesmo pensando que as pessoas que ele iria encontrar ou não falaram com ele o ano todo ou não sabiam quem era ele. Lá ia ele participar das festividades. Pelo menos, a bebida era de graça.

Ele era perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu copinho com alguma coisa dentro. Esboçava um sorriso aqui e outro ali. Com o passar das horas e dos copos, ele até tentava mexer o pé uns 5 centímetros acompanhando a música que tocava.

Lá pelas duas da manhã, sempre tinha a mina bêbada que encostava para falar com ele. Ótimo pensava ele, depois de dizer que trabalhava na contabilidade pela terceira vez. Ela não entendia porque sempre lá pelas três todas as mulheres tiravam o sapato para dançar se apoiando nele quase que pedindo para que olhasse o seus decotes, enfim era de praxe e ele já tinha se acostumado, olhava e admirava fazer o quê, ele também era filho de deus, se é que deus existe.

Depois da visão sempre um sorriso safado vinha ao seu rosto e ele pedia o telefone da garota. Bingo. Ela dava. Mais um para a coleção.

No dia seguinte depois de exitar umas quinze vezes, ligava e como de costume, nada, niente, necas de pitibirabas. Mais uma vez não dava certo, elas não se lembravam dele. Mesmo ele se lembrando muito bem.

Ele estava cansado de tudo isso, sempre a mesma coisa. Decidiu pela vigésima vez que mudaria e seria naquele dia, na festa de amigo secreto dos amigos da faculdade.

Já disse que ele era perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu copinho com alguma coisa dentro? Já. Ok, obrigado. Então lá foi ele para o seu lugar característico, dessa vez foi um copo atrás do outro, e quando se deu conta lá estava ela ao seu lado, ela o vestidinho curto, bom pensou ele, lá vou eu de novo...
Duas, três da manhã e ela não tirava o sapato. Pensou então que não teria peitinho aquela noite. Lamentou. Ela interrompeu finalmente o silêncio e perguntou se ele não era ele. Ele até assustou por ela saber seu nome. Sorriu e logo se fechou. Mais alguns minutos para ele puxar um novo assunto e assim foi que a conversa rolou aos trancos. Depois de trocarem meia dúzia de palavras e ele decidiu pedir o telefone, ela deu...

Ele se mostrou educado e se ofereceu para pegar uma bebida, ela aceitou. E partiu para pegar algo mais forte. No caminho foi interrompido pelo...não lembrou o nome, que dizia empolgado que faltava pouco para o fim do mundo segundo o calendário Maia, gritava: - Amanhã, amanhã o mundo acaba...Ele se desculpou e saiu da conversa do maluco. Pegou a bebida e voltou.

Incrível ela estava lá. E ainda o recebeu com um sorriso, algo de muito estranho estava acontecendo, mas ele já não se importava, engrenou uma outra conversa e no meio dela viu que a festa estava acabando. Merda, logo agora pensou alto. Ela riu e se despediu. Quando ia saindo ele perguntou se ele ligasse ela se lembraria dele. Ela riu e pediu o telefone dele caso ele não ligasse, dizendo que mesmo que o mundo acabasse ela ligaria de volta. Ele deu.

Dia seguinte, acordou tarde com a ressaca pós festa. Tomou o café com o sorriso de orelha a orelha. E decidiu ligar, buscou o celular e não achava em lugar nenhum. Como não tinha telefone em casa não podia nem ligar para ele mesmo. Pensou que devia ter perdido no caminho de volta e o problema era que lá estava toda a sua agenda. Revirou a casa. Nada. Mais uma vez se deu mal. Escutou barulhos, gritos, ligou a TV e descobriu o improvável, vários acidentes em inúmeros lugares, era Tsunami aqui outro ali, vulcões... viu que as pessoas estavam nas ruas desesperadas....Pensou na sua mãe...e que morreria sem ter conquistado nada. Se trocou e disse que não veria o fim do mundo da sua casa. Quando ia fechando a porta escutou o celular tocar.

- Mãe?

- Não. Sou eu, lembra? Feliz Fim do Mundo pra você, viu eu liguei...

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