Ele não
era objetivo.
Final de
ano era algo quase insuportável para um cara tímido como ele, todas
aquelas festas para ir, era empresa, faculdade, família. Muitas
pessoas celebrando, expondo suas emoções ao extremo, tudo para mais
uma noite como todas. Exceto pelo fato de ser fim de ano. Enfim,
mesmo pensando que as pessoas que ele iria encontrar ou não falaram
com ele o ano todo ou não sabiam quem era ele. Lá ia ele participar
das festividades. Pelo menos, a bebida era de graça.
Ele era
perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu copinho com
alguma coisa dentro. Esboçava um sorriso aqui e outro ali. Com o
passar das horas e dos copos, ele até tentava mexer o pé uns 5
centímetros acompanhando a música que tocava.
Lá pelas
duas da manhã, sempre tinha a mina bêbada que encostava para falar
com ele. Ótimo pensava ele, depois de dizer que trabalhava na
contabilidade pela terceira vez. Ela não entendia porque sempre lá
pelas três todas as mulheres tiravam o sapato para dançar se
apoiando nele quase que pedindo para que olhasse o seus decotes,
enfim era de praxe e ele já tinha se acostumado, olhava e admirava
fazer o quê, ele também era filho de deus, se é que deus existe.
Depois da
visão sempre um sorriso safado vinha ao seu rosto e ele pedia o
telefone da garota. Bingo. Ela dava. Mais um para a coleção.
No dia
seguinte depois de exitar umas quinze vezes, ligava e como de
costume, nada, niente, necas de pitibirabas. Mais uma vez não dava
certo, elas não se lembravam dele. Mesmo ele se lembrando muito bem.
Ele estava
cansado de tudo isso, sempre a mesma coisa. Decidiu pela vigésima
vez que mudaria e seria naquele dia, na festa de amigo secreto dos
amigos da faculdade.
Já disse
que ele era perito em arrumar um cantinho e lá ficar com o seu
copinho com alguma coisa dentro? Já. Ok, obrigado. Então lá foi
ele para o seu lugar característico, dessa vez foi um copo atrás do
outro, e quando se deu conta lá estava ela ao seu lado, ela o
vestidinho curto, bom pensou ele, lá vou eu de novo...
Duas, três
da manhã e ela não tirava o sapato. Pensou então que não teria
peitinho aquela noite. Lamentou. Ela interrompeu finalmente o
silêncio e perguntou se ele não era ele. Ele até assustou por ela
saber seu nome. Sorriu e logo se fechou. Mais alguns minutos para ele
puxar um novo assunto e assim foi que a conversa rolou aos trancos.
Depois de trocarem meia dúzia de palavras e ele decidiu pedir o
telefone, ela deu...
Ele se
mostrou educado e se ofereceu para pegar uma bebida, ela aceitou. E
partiu para pegar algo mais forte. No caminho foi interrompido
pelo...não lembrou o nome, que dizia empolgado que faltava pouco
para o fim do mundo segundo o calendário Maia, gritava: - Amanhã,
amanhã o mundo acaba...Ele se desculpou e saiu da conversa do
maluco. Pegou a bebida e voltou.
Incrível
ela estava lá. E ainda o recebeu com um sorriso, algo de muito
estranho estava acontecendo, mas ele já não se importava, engrenou
uma outra conversa e no meio dela viu que a festa estava acabando.
Merda, logo agora pensou alto. Ela riu e se despediu. Quando ia
saindo ele perguntou se ele ligasse ela se lembraria dele. Ela riu e
pediu o telefone dele caso ele não ligasse, dizendo que mesmo que o
mundo acabasse ela ligaria de volta. Ele deu.
Dia
seguinte, acordou tarde com a ressaca pós festa. Tomou o café com o
sorriso de orelha a orelha. E decidiu ligar, buscou o celular e não
achava em lugar nenhum. Como não tinha telefone em casa não podia
nem ligar para ele mesmo. Pensou que devia ter perdido no caminho de
volta e o problema era que lá estava toda a sua agenda. Revirou a
casa. Nada. Mais uma vez se deu mal. Escutou barulhos, gritos, ligou
a TV e descobriu o improvável, vários acidentes em inúmeros
lugares, era Tsunami aqui outro ali, vulcões... viu que as pessoas
estavam nas ruas desesperadas....Pensou na sua mãe...e que morreria
sem ter conquistado nada. Se trocou e disse que não veria o fim do
mundo da sua casa. Quando ia fechando a porta escutou o celular
tocar.
- Mãe?
- Não. Sou
eu, lembra? Feliz Fim do Mundo pra você, viu eu liguei...
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