quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Crítica - Os Mercenários 2

Por Alex Constantino



O primeiro Os Mercenários trouxe novamente a ação desenfreada, descabida e descompromissada com qualquer coerência ou apuro artístico que marcou os filmes do gênero nos anos 80.
Ele tinha um público muito específico: os fãs do cinema de ação feito naquela época, principalmente aqueles que cresceram dividindo sua atenção entre os grandes astros da telona: Sylvester Stallone  e Arnold Schwarzenegger.
Esses fãs puderam ver, finalmente, o aguardado encontro deles na tela, que juntamente com Bruce Willis - outro grande expoente do cinema testosterona - protagonizaram a cena mais comentada da película, com diálogos recheados de referências e deixando um desejo nostálgico por mais.
E como a ideia é emular aquele tipo de cinema e, continuação naquela época significava dobrar o número de mortes e a sanguinolência, em Mercenários 2 foram buscar os então reis das locadoras Chuck Norris e Jean-Claude Van Damme para auxiliar nessa empreitada.
A história (que história?) continua a mesma, uma desculpa para que você veja sangue jorrando em profusão enquanto acompanhamos bonecos travestidos de capangas tendo suas cabeças explodidas e capotando em carros, tudo por terem se atrevido a ficar no caminho de vingança dos heróis.
A desculpa da vez ocorre logo depois dos mercenários voltarem da frenética missão que acompanhamos no início do filme. Mr. Church (Bruce Willis), descontente com o resultado da aventura mostrada no filme anterior, em compensação, pede que os mercenários busquem um certo artefato em território hostil. As coisa acabam não dando certo quando eles cruzam o caminho do grupo liderado pelo vilão Villain(!?) (Jean-Claude Van Damme), e agora além de se vingar pelo que o terrível bando fez, ainda precisam impedir que eles alcancem uma reserva de 5 toneladas de plutônio, que se cair em mãos erradas pode levar o mundo a um colapso.
E com esse fiapo de justificativa, acompanhamos os heróis numa viagem que replica/homenageia a substância, forma e estilo característicos dos filmes da época. Ah, e como os fãs adoraram a breve cena com nossos queridos brucutus, o filme é praticamente uma grande extensão dela, repleta de diálogos e imagens referenciais.
Assim, a tosqueira, mais do que defeito, está ali a serviço desse propósito, permitindo mostrar todas as idiossincrasias dos filmes de ação dos anos 80.  Os diálogos estão recheados de referências a personagens e à própria carreira dos atores, incluindo a mítica criada sobre a figura de alguns deles (sim, você verá a versão Chuck Norris Facts do ator!).
E um dos seus maiores trunfos é que em momento algum ele se leva a sério porque sabe muito bem qual era a qualidade dos filmes do gênero naquela época. Então, dá-lhe a menção a frases de efeito icônicas em contextos hilários e a apresentação de novas pérolas da sabedoria brucutu, tudo temperado por cenas de ação inverossímeis e igualmente divertidas. Até a introdução de publicidade descarada como o modelo de caneta Montegrappa do Stallone consegue arrancar risadas, ou ainda uma referência ao mundo real como o mestrado em engenharia química do personagem Gunnar, vivido por Dolph Ludgren (que realmente possui o tal mestrado e largou a vida acadêmica por causa de uma garota).
Como é um filme voltado a um nicho muito específico pode não agradar a plateia mais jovem, mas para quem possui essa bagagem cultural dos anos 80 ou tem contato com ela, certamente sucumbirá à nostalgia. Dito isso, para esse público, mais do que um filme de ação, é uma grande comédia que presta a melhor homenagem possível, rir da ingenuidade e descompromisso daquele cinema.
Portanto, se você se enquadra na categoria mencionada acima, deixe de lado nossos critérios costumeiros de avaliação e a nota final dada. Substitua-os pelo item diversão/nostalgia e sinta-se à vontade para somar a nota dada neles!

Direção: Simon West
Roteiro: Richard Wenk e Sylverter Stallone
Elenco: Sylverter Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme, Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Terry Crews, randy Couture, Liam Hemsworth, Scott Adkins, Nan Yu e outros.
Direção de Fotografia: Shelly Johnson
Edição: Todd E. Miller
Trilha Sonora: Brian Tyler
Duração: 103 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Ação
Previsão de Lançamento: 31 de Agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crítica - A Casa Silenciosa


Por Alex Constantino




A Casa Silenciosa é uma refilmagem do suspense uruguaio A Casa (La Casa Muda) que, supostamente, se baseou em fatos verídicos que teriam ocorrido numa pequena vila uruguaia no final da década de quarenta.
Na versão americana, Sara (Elizabeth Olsen), acompanhada de seu pai (Adam Trese) e de seu tio (Eric Sheffer Stevens), retornam à antiga casa no lago para retirar seus pertences, já que pretendem vender o imóvel da família.
Quando seu tio sai em busca de um eletricista ela começa ouvir estranhos sons no interior da casa e, juntamente com seu pai, são atacados por alguém ou alguma coisa. Agora, enquanto lutam por sua sobrevivência ela deve lidar com alguns segredos obscuros que ficaram encerrados no local.
A partir dessa premissa somos apresentados a uma história que não é muito original, uma vez que os principais elementos da trama já foram vistos em outros filmes recentes. Dois deles vem imediatamente a mente, mas não seria interessante mencioná-los porque certamente estragaria sua experiência com o filme, uma vez que eles utilizam a mesma solução narrativa quanto a identidade daquilo que assombra a protagonista.
No primeiro terço do filme já é possível ter uma boa ideia de qual é o grande mistério (que só deveria ser descoberto no final), tornando-o bastante previsível e decepcionante quando no momento da reviravolta ele se confirma. Os diretores até tentam incutir certa dúvida incluindo algumas pistas falsas, mas são tão formulaicas e banais que fica difícil ser enganado por elas.
Isso sem contar o fato de que pecam em desenvolver a história até essa previsível revelação, que não se sustenta ou se justifica pelos elementos que foram apresentados até ali.
Além disso, o fraco desempenho dos atores e a inconsistência das ações dos personagens não colaboram para estabelecer o clima apropriado para filmes do gênero.
E fica muito claro que os diretores privilegiaram a forma ao invés da substância, uma vez que o marketing do filme destaca a opção por contar a história sem cortes ou edições, num longo plano sequência que compõe todos os 85 minutos de duração da película.
Confesso que tenho minhas dúvidas a respeito de terem realizado o que alardeiam, pois em mais de um momento existe a forte impressão de que houve um pequeno corte que foi camuflado para que pudesse passar despercebido, como ocorre no momento em que a protagonista está abrindo a porta do porão.
No fim das contas, é bom não depositar muitas expectativas no filme porque é o mesmo conteúdo de sempre e na mesma embalagem, ainda que se esforcem para dizer o contrário em relação à última.

Direção: Laura Lau e Chris Kentis
Roteiro: Laura Lau
Elenco: Elizabeth Olsen, Eric Sheffer Stevens, Adam Trese, Julia Taylor Ross, Adam Barnett e Haley Murphy.
Direção de Fotografia: Igor Martinovic
Trilha Sonora: Nathan Larson
Duração: 85 min
País: EUA/França
Ano: 2011
Gênero: Drama/Suspense
Previsão de Lançamento: 24 de Agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Crítica - Rock of Ages


Por Alex Constantino



Geralmente, eu começo minhas resenhas tentando situá-lo a respeito de alguns pontos essenciais sobre a produção e, principalmente, sobre a história do filme, tomando o cuidado de não apresentar algum detalhe que possa estragar sua experiência.
Assim, eu teria iniciado esta resenha mencionando que o filme é uma nova adaptação de um musical, realizada por Adam Shankman, que já possui experiência neste tipo de projeto, tendo dirigido Hairspray – Em Busca da Fama.
Continuaria informando que narra a história de Sherrie (Julianne Hough) e Drew (Diego Boneta), dois jovens que se conhecem na Sunset Strip da Hollywood de 1987 e acabam se apaixonando. Através de canções de bandas de rock dos anos oitenta, como Def Lepard, Twisted Sister, Journey, Poison, entre outras, acompanhamos a dificuldade do casal de conciliar seu romance com o sonho de conquistar uma carreira musical.
Normalmente,  a partir deste ponto, expandiria as informações sobre a trama para dar alguns exemplos que poderiam sustentar minha opinião sobre a película.
Ocorre que, não há muito o que se falar a respeito da história além do que já foi mencionado, uma vez que o filme é um amontoado de esquetes musicais, pontuados por algumas piadas, e que não se preocupa de maneira alguma em desenvolver uma trama coerente ou minimamente interessante.
Nem a subtrama, capitaneada  por Patrícia Whitmore (Catherine Zeta-Jones),  envolvendo uma cruzada de mulheres conservadoras, que queriam extirpar a influência perniciosa do rock nos jovens, torna a história interessante. Aliás, é melhor assistir ao telefilme Warning: Parental Advisory, que trata sobre o mesmo tema (em voga naquela época) e de maneira bem mais divertida, com direito a uma participação inusitada do próprio vocalista da banda Twisted Sister.
Portanto, tirando o fato de que o filme possui um fiapo (roto e desfiado) de história ( o que é muita coisa já que estamos falando de cinema), não há como ficar indiferente em relação a algumas músicas escolhidas, ainda que você não tenha muito apreço pelo rock farofa daquela época.
Além disso, Tom Cruise, assim como interpretou uma caricatura muito divertida de um produtor de cinema em Trovão Tropical,  mais uma vez surpreende na pele de Stacee Jaxx, um amálgama de vocalistas de várias bandas da época, com uma boa predominância de Axel Rose.
Com suas esquitices é quase uma versão roqueira do próprio Cruise e é muito interessante como ele traz a única discussão interessante sobre a fetichização (ou objetificação sexual) do personagem, que de certa maneira espelha a própria história artística do ator. Repare como os próprios ângulos de câmera buscam enfatizar essa premissa quando o personagem está em cena (prepare-se para ver a bunda cinquetona de Cruise em primeiro plano algumas vezes)
Existem outros personagens divertidos como aqueles vividos por Alec Baldwin e Russel Brand (que está se especializando em ser uma versão branca e com sotaque britânico do Chris Rock), mas que aparecem mais como curiosidade do que emprestam qualquer relevância à trama.
No fim, quando aparecer alguma cena com o pretexto de querer desenvolver a história é melhor começar a protestar batendo na poltrona e gritando: I Wanna Rock!
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Direção: Adam Shankman
Roteiro: Justin Theroux, Chris D’Arienzo e Allan Loeb.
Elenco: Diego Boneta, Julianne Hough, Tom Cruise, Alec Baldwin, Russel Brand,Mary J. Blige, Chaterine Zeta Jones, Bryan Cranston, Paul Giamatti, Malin Akerman e outros.
Direção de Fotografia: Bojan Bazelli
Edição: Emma E. Hickox
Duração: 123 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Musical

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crítica - Vingador do Futuro


Por Alex Constantino




Após um cataclismo químico, a população remanescente da Terra foi confinada nos poucos territórios ainda habitáveis. Num deles, foi criada a F.U.B – Federação Unida da Bretanha, onde se concentra a elite social e econômica dessa realidade, que é comandada pelo chanceler Cohaagen (Bryan Cranston).
No outro extremo do planeta se localiza a Colônia, onde vivem os menos abastados que, diariamente, utilizam a Queda - um elevador gigantesco que une os dois territórios numa viagem através do centro da Terra - para servir como força de trabalho nas indústrias da F.U.B.
Douglas Quaid (Colin Farrell) é um desses operários que, apesar de sua bela e amorosa esposa Lori (Kate Beckinsale), é um homem descontente com sua realidade e que tem a impressão de que não está vivendo a vida que deveria. Seu ressentimento se acentua com os constantes sonhos em que se encontra na companhia de uma misteriosa mulher vivenciando situações muito mais excitantes do que sua enfadonha rotina.
Para escapar de sua frustração Quaid procura a empresa Rekall, onde deseja implantar memórias de uma vida como superespião. Porém, quando o procedimento parece dar errado, ele se torna um homem procurado e acaba se envolvendo com membros de uma força rebelde que contesta a dominância da F.U.B., onde encontra Melina (Jessica Biel), a misteriosa mulher de seus sonhos.
Agora realidade e fantasia se misturam nesse thriller de ficção científica em que Quaid, enquanto tenta descobrir quem realmente é, enfrentará as forças da F.U.B., que pretende intensificar ainda mais sua supremacia.
Assim como na versão anterior, dirigida por Paul Verhoeven (Robocop, Tropas Estelares) e protagonizada por Arnold Schwarzenegger, a nova adaptação cinematográfica se distancia bastante do conto de Philip K. Dick, We can remember it for you wholesale (Lembramos para você a preço de atacado), mas difere da primeira porque deixa toda a ação na Terra (assim como o conto original), economizando o tempo que seria gasto para explicar a viagem a marte para se concentrar no  tema central que discute a condição humana e a própria natureza da realidade, embora sejam adotadas algumas opções mais literais que acabam esvaziando a força provocada pela dúvida do espectador se de fato o protagonista está vivenciando aquilo ou se é fruto do implante de memória.
Outro ponto de destaque vai para a criatividade na direção de arte que conseguiu criar uma visão de futuro que seja reconhecível diante de nossa realidade atual e que aponta para  uma versão perturbadora e possível.
Nota-se uma preocupação em distinguir visualmente os dois territórios, como se fossem mundos diferentes. Enquanto o tom estéril e de luminosidade asséptica da F.U.B. apresenta uma visão utópica,  o tom sépia e a constante chuva da amontoada Colônia reflete uma versão distópica daquele mesmo futuro, onde o último tem influências visuais inegáveis de Blade Runner.
Porém, a inclusão de algumas cenas icônicas  da versão anterior, como aquela do disfarce ou sobre a tentativa de convencimento de que o protagonista está numa fantasia, parecem que foram forçosamente incluídas para angariar um pouco mais de simpatia da audiência, já que suas novas roupagens são bem menos interessantes e impactantes do que as originais.
Outro ponto negativo fica para a motivação de vários personagens em que fica difícil de se convencer das razões que os fizeram tomar certas decisões ou agir da maneira apresentada, como é o caso da perseguição obstinada e raivosa de Lori ao protagonista ou  a justificativa bem clichê para os planos do vilão.
Existe ainda um subtexto a respeito do imperialismo que se evidencia na própria escolha dos nomes dos territórios, sua localização (um nas ilhas britânicas e o outro na Oceania) e a relação mantida entre eles, que reproduz quase literalmente o histórico colonialismo britânico.
Isso soa estranho quando se pensa que a ficção científica, geralmente utiliza a alegoria de um futuro distante para discutir questões presentes e não revisitar reminiscências históricas. Talvez seria mais interessante se essa alegoria fosse utilizada para discutir uma forma mais atual de dominância, como por exemplo, a  cultural.
Apesar disso, o filme é uma fonte interessante de entretenimento que agradará bastante aos fãs das cenas de ação.
ATUALIZAÇÃO: Aproveitando o lançamento do filme a Editora Aleph acabou de lançar o livro Realidades Adaptadas que reúne alguns contos do autor que foram adaptados ao cinema, incluindo o conto mencionado na crítica e que deu origem ao Vingador do Futuro. Vocês poderão conferir mais detalhes sobre a obra na página da editora clicando sobre o nome do livro.
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Direção: Len Wiseman
Roteiro: Kurt Wimmer e Mark Bomback
Elenco: Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bryan Cranston, Bokeem Woodbine, Bill Nighy, John Cho e outros.
Direção de Fotografia: Paul Cameron
Edição: Alexander Hall e Anne McCabe
Trilha Sonora: Harry Gregson-Williams
Duração: 118 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Ficção Científica/Ação
Previsão de Lançamento: 17 de Agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Festival Varilux de Cinema Francês


Em sua edição de 2012 o Festival Varilux de Cinema Francês exibirá em 33 cidades brasileiras o que há de mais recente na cinematografia francesa. O evento acontece de 15 a 23 de agosto e apresentará filmes franceses inéditos no Brasil, em mais de 45 salas de cinema.
Segundo o material de divulgação do evento, sua programação será simultânea e conta com uma seleção de longas dos mais variados gêneros, da comédia ao thriller. Além disso, no Rio de Janeiro, sede do Festival, e em São Paulo, além dos filmes haverá encontros entre artistas convidados e o público.
Nomes importantes estarão presentes em São Paulo e no Rio de Janeiro, como a diretora e atriz franco-libanesa Nadine Labaki que vem ao país para divulgar o seu novo filme, “E agora, aonde vamos?”. Além de Nadine, as atrizes Agathe Bonitzer, protagonista de "Uma garrafa no mar de Gaza", Isabelle Candelier, de “Adeus Berthe o enterro da vovó”, e Astrid Bergès- Frisbey, protagonista de "A filha do Pai".
Moussa Touré, diretor senegalês de "O barco da esperança" (La Pirogue), Thierry Binistri diretor de “Uma garrafa no mar de Gaza”, Jean-Pierre Denis, diretor de “Aqui embaixo”, e Khaled Mouzanar, compositor da trilha sonora de “E agora, aonde vamos?”, também foram confirmados.
E para quem é do Rio poderá participar ainda da primeira "Oficina Franco-Brasileira de Roteiro Audiovisual" – “A Dramaturgia na Ficção Televisiva”, que se focará no desenvolvimento de roteiros para séries de TV e longas-metragens e contará com nomes do mercado audiovisual francês como François Sauvagnargues (especialista de ficção e delegado geral do FIPA/Festival Internacional de Programas Audiovisuais de Biarritz) e os roteiristas François Uzan, Pascale Rey e Marie du Roy.
Na abertura do Festival será exibido simultaneamente em todas as cidades o filme Intocáveis,cuja crítica você poderá conferir no Narratividade clicando no nome dele.  Não deixe de ler também nossas críticas aos filmes Um Evento Feliz e O Monge que também integram o evento.
Maiores informações e a programação completa poderá ser conferida na página do evento em http://www.variluxcinefrances.com.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crítica - O Monge


Por Alex Constantino




Baseado no romance gótico de mesmo nome, lançado pelo inglês Matthew Gregory Lewis, em 1796, o filme narra a ascensão e queda de um monge.
Em 1580, um bebê é deixado às portas de um monastério capuchinho nos arredores de Madri. A criança é adotada pelos monges e recebe o nome de Ambrósio (Vincent Cassel).
Desde cedo demonstra sua vocação religiosa e, ao completar seu trigésimo aniversário, Ambrósio se junta à ordem que o criou e se torna um modelo de virtude e retidão para seus companheiros e para a população que vem prestigiar seus inspirados sermões.
Crente de que seja imune à tentação, o monge tem suas qualidades e devoção desafiadas com a chegada de um misterioso noviço que esconde seu rosto desfigurado sob uma máscara.
A partir de então acompanhamos a queda de Ambrósio, que trava uma árdua luta entre sua disciplina religiosa e o desejo reprimido.
Essa dualidade é reforçada por outros elementos e personagens que destacam a ambiguidade da condição humana que tenta subjugar seus anseios egoístas por trás  de regras morais e sociais.
Temos a personagem casta e ingênua e sua contraparte insidiosa e sensual e, o interessante, é que ambas, à sua maneira, contribuem para levar o protagonista à sua perdição.
A apresentação de estereótipos católicos como demônios, procissões religiosas e madres superioras rigorosas reforçam não só a ambiguidade das pessoas como dos próprios valores em questão.
A fotografia compõe esse quadro alternando cenas entre a claridade fustigante do sol sobre o deserto com  a escuridão claustrofóbica e conspiratória dentro dos muros do mosteiro.
A opção por uma estrutura episódica (algumas vezes sem relação direta entre as cenas) e a transição entre elas escurecendo a tela acabam destoando um pouco dessa proposta, ainda que, talvez, tenham sido pensadas para destacar a estranheza dessa fantasia gótica.
As reviravoltas também não surpreendem e talvez a falha não seja da trama, mas de uma melhor decupagem da história em cenas com menos diálogos expositivos e pistas e recompensas tão óbvias, como aquela envolvendo a estranha cicatriz de nascença do protagonista.
O filme está longe de causar o furor e inspiração da obra original quando foi lançada, mas, apesar disso, não será pecado algum se você cair na tentação e se entreter com ele.


Direção: Dominik Moll
Roteiro: Dominik Moll e Anne-Louise Trividic
Elenco: Vincent Cassel, Déborah François, Joséphine Japy, Sergi López, Catherine Mouchet, Jordi Dauder, Geraldine Chaplin e outros.
Direção de Fotografia: Patrick Blossier
Edição: François Gédigier e Sylvie Lager
Trilha Sonora: Alberto Iglesias
Duração: 101 min
País: França/Espanha
Ano: 2011
Gênero: Thriller

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Crítica - Um Evento Feliz


Por Alex Constantino



A maternidade é um tema recorrente no cinema e, geralmente, quando é explorada explicitamente apresenta uma visão idealizada de um evento abençoado que transforma o mundo a seu redor, trazendo completude e propósito a seus protagonistas.
Um Evento Feliz apresenta uma visão que não nega esse poder emocional e transformador da maternidade, mas que tenta desmitifica-la através de uma versão mais íntima e sincera.
Adaptado do romance homônimo de Eliette Abécassis ele discute o tabu de que ter um filho é algo maravilhoso e ponto. Num tom tragicômico confronta o que é dito (e se espera) sobre a maternidade com aquilo que a protagonista sente (ou vive) a respeito dela.
Durante a gravidez Bárbara (Lousie Borgouin) sente uma perturbação pessoal e em seu relacionamento com Nicolas (Pio Marmai) e, diante da diferença entre a visão romanceada arraigada no senso comum e a realidade, existe um choque emocional que a deixa em dúvida sobre suas próprias capacidades.
Essa dualidade entre a idealização e realidade marca nitidamente as duas metades do filme: durante a gravidez e após o parto. A própria fotografia e direção de arte denotam essa mudança onde na primeira parte temos movimentos mais fluídos de câmera e cores mais vibrantes, enquanto na segunda metade as cores vão se definhando, juntamente com a fantasia de maternidade que a protagonista alimentava.
Ela recebe o choque de realidade tendo dúvida sobre sua aptidão de ser mãe, as noites mal-dormidas e o distanciamento físico e afetivo com Nicolas.
Há uma ótima caracterização da protagonista e ainda que a maternidade seja um assunto feminino, também está em discussão ali o papel da paternidade e da família e como cada um vai moldando (ou reconstruindo) sua identidade para se adequar a uma nova realidade. E muitos não conseguem.
E o filme ainda discute o falso dogma de que um filho pode reaproximar um casal, quando na verdade pode deixar mais expostas as rachaduras no relacionamento.
Os diálogos são francos e a narrativa não subestima a audiência antecipando caminhos, eis que estamos vivenciando a confirmação e quebra de expectativas junto com Bárbara. E assim como ela  é importante quando deixamos de lado algumas certezas para que possamos usufruir verdadeiramente o poder emocional de vivenciar uma experiência.

Direção: Rémi Bezançon
Roteiro: Eliette Abecassis (Romance),  Rémi Bezançon e Vanessa Portal
Elenco: Louise Borgouin, Pio Marmai, Josiane Balasko, Thierry Frémont, Gabrielle Lazure e outros.
Direção de Fotografia: Antoine Monod
Edição: Sophie Reine
Trilha Sonora: Laurent Perez
Duração: 107 min
País: França
Ano: 2011
Gênero: Drama/Comédia

domingo, 12 de agosto de 2012

Crítica - Intocáveis


Por Alex Constantino



Um dos paradigmas da filosofia hermética é o princípio da polaridade que diz que tudo é duplo. Tudo tem polos; tudo tem o seu oposto. Para ele o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza mas diferentes em grau.
E é exatamente sobre essa falsa aparência de inconciliabilidade que trata o filme Intocáveis, escalado para abrir o Festival Varilux de Cinema Francês de 2012.
Philippe (François Cluzet) é um culto e abastado aristocrata que vive confinado em sua mansão devido a um acidente com paraquedas que o deixou tetraplégico.
Por conta de seu gênio irascível, quando vai contratar seu novo enfermeiro acaba encontrando Driss (Omar Sy), um jovem ex-presidiário que não possui qualquer aptidão para a função, mas que chama a atenção de Philippe por também possuir uma personalidade muito forte.
A partir daí acompanhamos o nascimento de uma improvável amizade entre personagens de mundos muito diferentes e aparentemente inconciliáveis.
E é interessante notar que enquanto os elementos exteriores reforçam as diferenças entre os protagonistas (rico e pobre, combalido e saudável, contemplativo e impulsivo, apreciador de Vivaldi e fã de Earth, Wind and Fire), à medida que vão se conhecendo estes homens percebem que em sua natureza são bem semelhantes, moldados principalmente por suas tragédias pessoais.
Ambos estão confinados por sua frágil condição emocional, inclusive Philippe que se ressente mais pela perda anterior da esposa do que por sua limitação locomotora, e isso os afasta de um convívio familiar ou romântico saudável.
A partir do momento que tomam conhecimento, ainda que instintivamente da falsidade dessas diferenças, conseguem não só se entender como se influenciarem, agindo um como agente de transformação do outro, ainda que haja uma mudança mais acentuada em Philipp, como se o filme fosse uma espécie de Rain Man às avessas.
Por falar no Filme estrelado por Tom Cruise e Dustin Hoffman, é interessante perceber, e não sei se foi intencional ou não, como em certos planos há uma grande semelhança física entre o ator François Cluzet e Dustin Hoffman.
Merece um destaque a sinergia entre os atores que colabora  para que olhemos com simpatia para a amizade crescente entre os personagens. E assim como eles, conseguimos nos imaginar por um momento despidos de nossas máscaras sociais e vemos com os personagens que  os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados.

Direção: Eric Toledano e Olivier Nakache
Roteiro: Eric Toledano e Olivier Nakache
Elenco: Fraçois Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot, Clotilde Mollet e outros.
Direção de Fotografia: Mathieu Vadepied
Edição: Dorian Rigal-Ansous
Trilha Sonora: Ludovico Einaudi
Duração: 112 min
País: França
Ano: 2011
Gênero: Drama

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Crítica - À Beira do Caminho


Por Alex Constantino


João (João Miguel) é um caminhoneiro que busca na dura e solitária vida na estrada se redimir da culpa por um acidente que mudou sua vida.
Porém, seu destino muda quando encontra o menino Duda (Vinicius Nascimento) que também vive seu próprio drama pessoal, mas lida com ele de maneira mais esperançosa, sonhando encontrar em São Paulo o pai que nunca conheceu e que agora é seu único parente vivo.
Desse encontro nasce uma comovente relação em que a determinação e paixão do menino leva João a repensar sua trajetória de fuga e autopunição, dando-lhe coragem para enfrentar os fantasmas de seu passado.
Apropriando-se de algumas das principais caraterísticas do gênero “road movie” (filme de estrada) a história se desenvolve ao longo de uma viagem, utilizando-a como uma metáfora da jornada de transformação emocional do protagonista. Ao final dela, o que importa é revelar a ele algo sobre si mesmo, mais do que alcançar o destino almejado.
Por isso, vemos na cena inicial um grande plano geral com o caminhão do protagonista perdido numa paisagem árida que exterioriza aquilo que vai dentro dele.
E a paisagem acompanha sua transformação, tornando-se mais vívida (seja com a natureza ou cidades) conforme João vai rompendo as barreiras que o mantinham aprisionado em sua amargura. Há ainda um uso bem explícito das cores e luzes para reforçar essa opção, como numa cena em que o protagonista tenta afogar  na bebida uma desilusão recente e o local em que se encontra é apresentado com figuras festivas retratadas sob cores quentes, enquanto João se destaca como o único iluminado numa cor fria.
Outra característica importante do gênero é a forte presença da música que serve como trilha da viagem, com canções que se identificam ora com situações vividas, ora com personagens. No filme ela ganha maior relevância já que toda a história foi construída a partir das músicas de Roberto Carlos que pontuam a narrativa.
Na maior parte das vezes elas são inseridas de forma diegética e suas letras também apresentam explicitamente o tema de uma determinada cena ou personagem, como demonstra, por exemplo, a escolha de “A Distância” para a cena de abertura, “Nossa Canção” para a cena de casamento ou “Você Foi” como tema da personagem Rosa (Dira Paes)
Outra característica que  o diretor Breno Silveira (2 Filhos de Francisco) extrai dos roadie movies é a tendência do gênero a uma estrutura episódica. Ela fica bem demarcada na película que se aproveita do caminhão ser um de seus elementos principais para introduzir frases de para-choque que explicitam mais uma vez o tema de cada capítulo e o último deles, de certa maneira, resume a moral da história.
Fica-se a dúvida se toda essa explicitude é uma qualidade ou um defeito do filme. Ao mesmo tempo em que utiliza signos claros que permitem a qualquer espectador identificar sua correspondência com a história narrada, essa opção estilística pode ser tomada como óbvia e burocrática, sem apresentar soluções mais inspiradas e havendo pouco espaço para originalidade ou ousadia artística.
O filme parece bastante preocupado em apelar para elementos populares, desde as músicas de Roberto Carlos que o originaram até  reforçar o estereótipo apresentado em outras películas recentes que  mostram, por exemplo, a pobreza, contradições sociais ou violência como um  “tema brasileiro" ou exótico. E nesse sentido não há como deixar de perceber suas várias semelhanças com Central do Brasil.
Apesar disso, a obra não deixa de ter seu maior valor  nessa tentativa de levar ao grande público uma fonte interessante de catarse.

Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: João Miguel, Dira Paes, Vinicius Nascimento, Ludmila Rosa, Ângelo Antônio, Denise Weinberg, Débora Spadaro e outros.
Direção de Fotografia: Lula Carvalho
Edição: Vicente Kubrusly
Trilha Sonora: Berna Ceppas
Duração: 126 min
País: Brasil
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 10 Agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Crítica - A Tentação


Por Alex Constantino



Quando o detetive Hollis Lucetti (Terrence Howard) atende a um chamado sobre um homem que ameaça se jogar do topo de um edifício, ele acaba conhecendo Gavin Nichols (Charlie Hunnam) que revela estar agindo contra sua vontade.
Ele resolve contar ao policial sobre o trágico triângulo amoroso que o levou àquela situação extrema e sobre a difícil decisão que terá que tomar ao final do tempo que lhe foi dado, que coloca em jogo não só sua vida como seus valores.
Nesse thriller de corrida contra o tempo, o diretor optou por coincidir o prazo que resta ao personagem com a própria duração do filme. As tomadas do relógio na torre deixam não só os personagens cientes do tempo que lhes resta como reforçam o clima de suspense ao transferir ao espectador o senso de urgência, deixando-o ansioso à medida que toma conta de que o desenlace se aproxima.
Enquanto aparecem os créditos acompanhamos o nascer do sol numa tomada da igreja em primeiro plano e tendo ao fundo as indústrias petrolíferas despejando uma densa fumaça no horizonte. Ambos são elementos que caracterizam o antagonista e a forma como estão dispostos revela muito sobre o caráter dele.
Destaque também para a cena inicial em que vemos Gavin à beira do edifício em que as linhas deste tem um ponto de fuga fora da tela, apontando em direção ao vazio, como se o estivessem empurrando em antecipação, rumo a um triste desfecho.
Assim, acompanhamos com Gavin seu drama e, através de um longo flashback, entrecortado por cenas no tempo atual da trama, somos apresentamos, juntamente com o policial Hollis, aos fatos que o levaram àquele ponto.
Ficamos sabendo que, mais do que o amor de Shana Harris (Liv Tyler), está em jogo uma disputa entre a crença de seu marido Joe Harris (Patrick Wilson), um cristão fundamentalista, e o ateísmo convicto (e desiludido) de Gavin.
O choque entre esses valores é o grande tema da história onde o diretor, que também é o roteirista, parece se esforçar para divulgar sua visão cínica sobre a fé.
Para ele a fé serve para produzir deturpações fundamentalistas, o que talvez tenha motivado a inclusão de um discurso moralizante com uma dispensável menção ao atentado de 11 de setembro.
Ou ainda, as crenças religiosas apresentam um discurso hipócrita em que seus valores mudam de acordo com a conveniência, como no caso da subtrama do amigo gay de Gavin, praticante da cabala, uma vertente religiosa judaica, que se frustra em sua tentativa de se casar sob os auspícios de sua religião.
É como se nenhuma fé merecesse crédito e dentro das crenças religiosas não existisse a opção pelo caminho conciliatório do meio.
Apesar desse viés panfletário, é interessante como a verdadeira trama principal ocorre paralelamente, envolvendo o drama do policial Hollis.
Logo no início acompanhamos que ele descobriu sobre sua infertilidade e, por conta disso, chega a triste conclusão de que foi traído por sua esposa e possui dois filhos que não são seus.
Com sua vida em pedaços ele tem que lidar com a situação suicida. Porém, aos poucos, a história e os atos de Gavin vão transformando Hollis profundamente, assim como seu entendimento sobre a situação em que se encontra.
Enquanto no triângulo amoroso a situação é muito polarizada, na história de Hollis vê-se que há muitos tons de cinza entre o preto e o branco. Os interlúdios com cenas mostrando  a história do policial são as mais interessantes, uma vez que na suposta trama principal existem personagens com caracterizações e motivações pouco inspiradas, como a do próprio Gavin sobre sua desilusão com a fé.
No final a grande expectativa já não se encontra em qual decisão Gavin tomará, mas em saber qual será a resolução de Hollis sobre sua vida.

Direção: Matthew Chapman
Roteiro: Matthew Chapman
Elenco: Charlie Hunnam, Liv Tyler, Patrick Wilson, Terrence Howard, Christopher  Gorham e outros.
Direção de Fotografia: Bobby Bukowski
Edição: Alexander Hall e Anne McCabe
Trilha Sonora: Nathan Barr
Duração: 101 min
País: EUA/Alemanha
Ano: 2011
Gênero: Drama/Thriller
Previsão de Lançamento: 10 de Agosto de 2012