quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Crítica - À Beira do Caminho


Por Alex Constantino


João (João Miguel) é um caminhoneiro que busca na dura e solitária vida na estrada se redimir da culpa por um acidente que mudou sua vida.
Porém, seu destino muda quando encontra o menino Duda (Vinicius Nascimento) que também vive seu próprio drama pessoal, mas lida com ele de maneira mais esperançosa, sonhando encontrar em São Paulo o pai que nunca conheceu e que agora é seu único parente vivo.
Desse encontro nasce uma comovente relação em que a determinação e paixão do menino leva João a repensar sua trajetória de fuga e autopunição, dando-lhe coragem para enfrentar os fantasmas de seu passado.
Apropriando-se de algumas das principais caraterísticas do gênero “road movie” (filme de estrada) a história se desenvolve ao longo de uma viagem, utilizando-a como uma metáfora da jornada de transformação emocional do protagonista. Ao final dela, o que importa é revelar a ele algo sobre si mesmo, mais do que alcançar o destino almejado.
Por isso, vemos na cena inicial um grande plano geral com o caminhão do protagonista perdido numa paisagem árida que exterioriza aquilo que vai dentro dele.
E a paisagem acompanha sua transformação, tornando-se mais vívida (seja com a natureza ou cidades) conforme João vai rompendo as barreiras que o mantinham aprisionado em sua amargura. Há ainda um uso bem explícito das cores e luzes para reforçar essa opção, como numa cena em que o protagonista tenta afogar  na bebida uma desilusão recente e o local em que se encontra é apresentado com figuras festivas retratadas sob cores quentes, enquanto João se destaca como o único iluminado numa cor fria.
Outra característica importante do gênero é a forte presença da música que serve como trilha da viagem, com canções que se identificam ora com situações vividas, ora com personagens. No filme ela ganha maior relevância já que toda a história foi construída a partir das músicas de Roberto Carlos que pontuam a narrativa.
Na maior parte das vezes elas são inseridas de forma diegética e suas letras também apresentam explicitamente o tema de uma determinada cena ou personagem, como demonstra, por exemplo, a escolha de “A Distância” para a cena de abertura, “Nossa Canção” para a cena de casamento ou “Você Foi” como tema da personagem Rosa (Dira Paes)
Outra característica que  o diretor Breno Silveira (2 Filhos de Francisco) extrai dos roadie movies é a tendência do gênero a uma estrutura episódica. Ela fica bem demarcada na película que se aproveita do caminhão ser um de seus elementos principais para introduzir frases de para-choque que explicitam mais uma vez o tema de cada capítulo e o último deles, de certa maneira, resume a moral da história.
Fica-se a dúvida se toda essa explicitude é uma qualidade ou um defeito do filme. Ao mesmo tempo em que utiliza signos claros que permitem a qualquer espectador identificar sua correspondência com a história narrada, essa opção estilística pode ser tomada como óbvia e burocrática, sem apresentar soluções mais inspiradas e havendo pouco espaço para originalidade ou ousadia artística.
O filme parece bastante preocupado em apelar para elementos populares, desde as músicas de Roberto Carlos que o originaram até  reforçar o estereótipo apresentado em outras películas recentes que  mostram, por exemplo, a pobreza, contradições sociais ou violência como um  “tema brasileiro" ou exótico. E nesse sentido não há como deixar de perceber suas várias semelhanças com Central do Brasil.
Apesar disso, a obra não deixa de ter seu maior valor  nessa tentativa de levar ao grande público uma fonte interessante de catarse.

Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: João Miguel, Dira Paes, Vinicius Nascimento, Ludmila Rosa, Ângelo Antônio, Denise Weinberg, Débora Spadaro e outros.
Direção de Fotografia: Lula Carvalho
Edição: Vicente Kubrusly
Trilha Sonora: Berna Ceppas
Duração: 126 min
País: Brasil
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 10 Agosto de 2012

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