sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Crítica - Rota Irlandesa

Por Alex Constantino



realismo social é um movimento artístico que privilegia a substância acima do estilo e que enfatiza o valor do realismo como ferramenta de protesto político e social. Ele valoriza os esforços da classe operária que, além das injustiças sociais, enfrenta a crueldade e dureza de se situar na base da pirâmide econômico-social.
No cinema, sua principal forma de expressão foi o neorrealismo italiano através dos filmes de Roberto Rosselini e Vittorio de Sica. Além disso, é um estilo que tem sido um dos preferidos do cinema britânico desde sua origem, como demonstra o filme realizado, em 1902, pelo escocês James Williamson chamado A Reservist Before the War, and After the War
Seguindo essa tradição, o diretor Ken Loach, filho de operários ingleses, tem dedicado sua filmografia a tratar de problemas sociais de sua terra natal e, em especial, das questões envolvendo as mazelas da classe operária.
Seus dramas políticos, frequentemente, examinam grandes questões políticas e sociais dentro de uma trama mais intimista, focando seus efeitos nas relações pessoais.
Em Rota Irlandesa, filme de 2010, seu exame recai sobre os contratos de empresas privadas de segurança trabalhando na ocupação do Iraque. Fergus (Mark Womack) convence Frankie (John Bishop), seu inseparável amigo desde a infância, a se juntar à sua equipe de segurança em Bagdá, já que o retorno financeiro é muito atraente, apesar do periculosidade do serviço.
Quando Frankie morre na Rota Irlandesa, estrada iraquiana mais perigosa do mundo, Fergus, em Liverpool, cidade natal de ambos, não se convence com a explicação oficial e inicia sua própria investigação sobre a morte do amigo. Em sua busca ele se aproxima de Rachel (Andrea Lowe), esposa de Frankie, enquanto relembra a felicidade que dividia na companhia do amigo.
Com a colaboração de seu costumeiro parceiro criativo, o roteirista Paul Laverty (com quem realizou 9 filmes), Loach apresenta seu manifesto sobre o que ele entende como uma crescente privatização da guerra e as consequências da ganância desenfreada do mundo corporativo.
Em sua particular visão da realidade, ele demonstra como nessa busca  cega pelo lucro existe um descaso humano que deixa marcas físicas e psicológicas nos jovens de origem humilde (filhos da classe operária) que são atraídos com a promessa de uma recompensa que não encontrariam em sua própria terra. É o caso do jovem Jamie (Jamie Michie) - amigo de Fergus que ficou cego trabalhando no Iraque - e do próprio protagonista que tem um gênio irascível, moldado pelo que vivenciou, assim como se ressente, junto com a família e esposa de Frankie, pela perda do grande amigo.
Esse descaso deixa marcas mais profundas ainda na população iraquiana, que sofre com a brutalidade desses operários bélicos, tanto quanto da máquina de guerra norte-americana, cuja violência desta é retratada por imagens reais que pontuam a trama.
De certa maneira, um descaso compartilhado pelo protagonista (e porque não pelo próprio diretor), que através de um personagem iraquiano lembra a si próprio que a morte do inglês é retratada como uma tragédia, enquanto pouca importância é dada ao massacre promovido ao povo iraquiano pelas mãos desses mesmos homens da classe operária.
Talvez por isso, lá pelas tantas, a preocupação de Fergus de se comunicar com a mãe dos jovens iraquianos assassinados no evento que foi o estopim para a morte de Frankie, seja uma mea culpa do próprio diretor.
Como de costume, Loach enfatiza uma interação mais genuína entre os atores para que as cenas pareçam que tenham sido improvisadas. Através desse artifício ele aponta a grande questão social através do esforço do protagonista, uma pessoa ordinária, tendo que lidar com seu próprio dilema.
Existe algum diálogo expositivo que enfatiza pontos da trama já revelados pelas imagens ou necessários para a descoberta do mistério sobre a morte de Frankie, como a explicação dada pela família deste sobre a amizade com Fergus para justificar o comportamento deste na reunião com os representantes da empresa que deram a versão oficial da morte.
No entanto, de maneira geral, a trama é bem construída e o realismo  e a dimensão pessoal dada à grande questão social enriquecem nossa experiência com a história, enquanto fortalecem nossa identificação com a aflição causada pelo problema.

Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty
Elenco: Mark Womack, John Bishop, Andrea Lowe, Geoff Bell, Najwa Nimri, Stephen Lord, Jack Fortune, Jamie Michie, Trevor Williams, Ranj Hawya e outros.
Diretor de Fotografia: Chris Menges
Edição: Jonathan Morris
Duração: 109 min
País: Reino Unido
Ano: 2010
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 05 de outubro de 2012

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