sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica - Além das Montanhas

Por Alex Constantino




O diretor romeno Cristian Mungiu, assim como fez no excelente 4 meses, 3 semanas e 2 dias,  trata novamente em Além das Montanhas da relação entre duas amigas que tem os limites de sua amizade testados quando se veem envolvidas numa situação extrema em decorrência do contexto opressor em que vivem.
Desta vez, com base em fatos verídicos, o filme conta a história de Alina (Cristina Flutur) que retorna à sua terra natal para reencontrar sua grande amiga de infância  Voichita (Cosmina Stratan), com quem cresceu num orfanato. Seu plano de leva-la para a Alemanha é frustrado pela resistência da jovem em abandonar o modesto convento romeno em que vive, onde as freiras seguem com devoção o regime estrito de vida imposto pela visão rígida e particular de fé de seu líder católico ortodoxo.
Nas palavras do diretor, o filme é sobre o amor e o livre-arbítrio: principalmente sobre como o amor pode converter os conceitos de bom e mau em algo bem relativo.
E por isso não há a personificação do mal em qualquer personagem,  sendo que todos, intrinsicamente, são pessoas boas, onde os atos de vilania são praticados em nome da fé e com uma convicção absoluta de que atendem a uma boa causa.
Todos os personagens são vítimas das circunstâncias e da própria apatia, ignorância e subserviência com que se apegam  à instituição religiosa representada no filme, usando sua conduta inerte como mecanismo de sobrevivência  em consequência de uma sucessão de agruras a que foram submetidos .
Há uma despersonalização em que, quanto mais arraigada  a crença naquela instituição e modo de vida, mais apagada se torna a individualidade. E aí temos todas as freiras em hábitos negros num cenário asséptico e sempre se manifestando em murmúrios coletivos. O líder, como a figura mais entranhada institucionalmente, é o que está mais degrado, tendo lhe sido tolhido até mesmo o maior sinal de individualidade, eis que no filme é chamado apenas de Padre; sua função não seu nome.
E não deixa de ter razão o diretor quando afirma que Além das montanhas é também sobre certa maneira de experimentar a religião, onde há uma opção equivocada na quantidade de atenção dispensada pelos que têm fé no esforço de seguir hábitos e regras de uma religião ao invés da dedicação à essência e sabedoria dela no dia-a-dia de suas vidas.
O roteiro é muito bem construído e a opção por planos longos valoriza sua proposta, nos recompensando com a entrega dos atores, que submetidos à cenas externas em condições extremas e repletas de exigências físicas, conseguem  transmitir todas as ideias acima sem ter que recorrer a muletas ou diálogos expositivos.
Não à toa que as intérpretes das duas amigas dividiram o prêmio de melhor atriz em Cannes neste ano, assim como o roteiro saiu premiado do festival. Por essa razão também que foi a escolha oficial da Romênia para representa-la na seleção dos filmes estrangeiros a concorrer ao Oscar 2013.
O filme não tem previsão de estreia no circuito comercial nacional, mas consta na programação da Mostra Internacional de Cinema que está ocorrendo e é uma opção imperdível.
ATUALIZAÇÃO: A Califórnia Filmes acabou de divulgar que o filme estreará no dia 14 de dezembro de 2012. Fiquem atentos, pois é uma oportunidade de assistir essa grande obra.

Direção: Cristian Mungiu
Roteiro: Cristian Mungiu e Tatiana Niculescu
Elenco: Cosmina Stratan, Cristina Flutur, Valeriu Andriuta, Dana Tapalaga, Catalina Harabagiu, Gina Tandura, Vica Agache, Nora Covali, Dionisie Vitcu, Ionut Ghinea, Liliana Mocanu, Doru Ana e outros.
Diretor de Fotografia: Oleg Mutu
Edição: Mircea Olteanu
Duração: 150 min
País: Romênia, Bélgica e França
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 14 de dezembro de 2012

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