quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crítica - Os Infratores

Por Alex Constantino



A breve filmografia do diretor australiano John Hillcoat parece vir repetindo um certo eixo temático que foi abordado sistematicamente em seus últimos longa-metragens. No faroeste A Proposta (The Proposition) vemos um bando de criminosos, conhecidos como os irmãos Burns, que aterrorizam a Austrália rural do séc. XIX. Eles são perseguidos pelo cometimento de atrocidades com uma família e, após a prisão de Charlie (Guy Pearce) e Mike, ao primeiro é oferecida a proposta de encontrar e matar os outros dois irmãos fugitivos para que obtenha perdão por seus crimes e, principalmente, salve a vida do adorado caçula Mike.
Essa dinâmica familiar, num mundo sem cores, sem vida, sem lei e sem esperança é retomada em A Estrada (The Road), onde um pai tenta sobreviver com seu filho num cenário pós-apocalíptico, embalado pela trilha melancólica de Nick Cave e Warren Ellis.
Em seu novo filme, Os Infratores (Lawless), Hilcoat retoma suas parcerias habituais para explorar mais uma vez um mundo rude e sem lei, onde acompanhamos um núcleo familiar que tenta lidar com a crueza de seu habitat, vivendo à margem da sociedade.
Desta vez, o cenário é o pequeno e miserável condado de Franklin, estado da Virginia, durante a Grande Depressão. Os irmãos Bondurant, Forrest (Tom Hardy), Howard (Jason Clark) e Jack (Shia LaBeouf)  desafiam a Lei Seca com sua operação clandestina de fabricação e venda de bebidas alcoólicas.
Eles estão adaptados àquele humilde cenário, contando com a conivência da inexpressiva representação da lei no local e ainda desfrutam da mítica de invencibilidade em torno de seu sobrenome, principalmente em relação a Forrest, o irmão mais velho, a quem creditam façanhas dignas de um personagem lendário.
Ironicamente, eles serão compelidos a sair de dura zona de conforto quando a “civilização” resolve debruçar suas gananciosas garras sob o árido território dos irmãos Bondurant.
Disposto a abocanhar parte dos lucros pelas operações clandestinas locais, o Secretário de Justiça envia seu homem de confiança, o engomadinho e sádico agente Charles Rakes (Guy Pearce).
A partir de então, a “invencibilidade” dos Bondurant será testada durante a escalada da violência que prenuncia uma sangrenta guerra.
Como em seus filmes anteriores, novamente Hillcoat constrói uma narrativa envolvente e instigante, num mundo de cores e personagens cinzas, onde certo e errado são grandezas bem relativas. A direção de arte, acompanhada pela atuação dos protagonistas  e, outra vez, pela melancólica trilha de Cave e Ellis, criam um arranjo harmonioso, ainda que triste, como um réquiem.
Cada personagem recebe ótima caracterização dos atores que povoam suas personas como cacoetes e manias bem dosados e que lhes empresta maior verossimilhança.
No roteiro, também escrito pelo músico Nick Cave, não há espaço para muitas surpresas e reviravoltas, já que confrontos cada vez maiores e mais sangrentos já indicam que o resultado final será um derradeiro e violento embate.
O grande mérito é que, assim como nos filmes anteriores, o grande interesse se encontra em observar como aqueles personagens lidam e transitam pelo ambiente hostil em que se encontram. Somos cativados e queremos saber mais sobre a rotina dos irmãos Bondurant que, na tentativa de saciar as vítimas da Lei Seca, concomitantemente, tentam saciar nossa curiosidade em relação a dura mas fascinante vida deles.

Direção: John Hillcoat
Roteiro: Nick Cave
Elenco: Tom Hardy, Shia LaBeouf, Jason Clarke, Guy Pearce, Gary Oldman, Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Dane DeHaan, Crhis McGarry e outros.
Direção de Fotografia: Benoît Delhomme
Edição: Dylan Tichenor
Trilha Sonora: Nick Cave e Warren Ellis
Duração: 116 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 21 de Setembro de 2012

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