segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Crítica - Cosmópolis

Por Alex Constantino



Um jovem resolve atravessar sua cidade e, enquanto realiza sua jornada de 24 horas, se depara com eventos e personagens que estabelecem um paralelo com a trajetória do herói grego Odisseu (Ulisses para os romanos).
A descrição acima faz alusão a Ulisses, romance seminal de James Joyce, mas poderia muito bem descrever o novo filme de Cronenberg.
Baseado no romance homônimo de Don DeLillo, é livremente inspirado na história de Leonard Bloom. Em seu lugar temos Eric Packer (Robert Pattinson), um bilionário de 28 anos, que resolve cortar seu cabelo e para isso tem que atravessar Manhattan em sua luxuosa limusine num dia bem tumultuado na cidade.
Um dia tumultuado também em sua vida, uma vez que acompanhamos com ele o colapso de sua fortuna e de sua excêntrica rotina, povoada de personagens e eventos igualmente excêntricos. Assim como vemos ainda o colapso do casamento artificial que mantém com a Mary Bloom/Penélope da vez, uma jovem igualmente bilionária e de personalidade asséptica (Sarah Gadon).
E o filme parece também se inspirar em Joyce ao apresentar uma narrativa estruturada como se estivéssemos acompanhando o fluxo de consciência do protagonista, recheada de diálogos desconexos e fragmentados que mantém com a fauna de coadjuvantes com quem ele se depara durante sua jornada.
Porém, ao contrário da obra do escritor irlandês, que se tornou um marco com  sua técnica de fluxo de consciência, cuidadosamente estruturada e com uma prosa experimental, a ambiciosa tentativa de transportá-la para uma narrativa audiovisual não ressoa com a mesma eficácia.
A atuação de Pattinson contribui para o naufrágio dessa proposta, pois sua figura artificial não empresta força ou carisma ao personagem, diminuindo ainda mais quando contracena com atores de maior calibre. Na cena final, com planos mais longos em que a mise en scene tem total relevância, ele parece só mais um objeto cenográfico ou uma testemunha privilegiada do trabalho de Paul Giamatti.
Mesmo quando o personagem experimenta eventos emocionalmente fortes, qualquer transformação dele fica presa na face de cera do ator que lhe empresta o corpo. Soa até irônico (ou maldoso vindo dos detratores de Pattinson) que o único momento em que parece demonstrar naturalidade e vigor, convencendo na atuação, seja na cena que nos apresenta o exame proctológico diário a que o protagonista se submete. Dentro das cenas de sexo da película, é certamente a mais realista e a que melhor deixa transparecer a sexualidade aflorada que o diretor tenta nos convencer que o protagonista possui.
O grande destaque fica para a ambientação construída, situada num futuro próximo e distópico, que nos deixa bastante curiosos para saber mais sobre aquilo que se passa ao redor da limusine ao invés daquilo que ocorre dentro dela, onde a maior parte da história transcorre.
Temos vontade de abrir a porta e saltar do carro ainda em movimento para saber porque a multidão protesta furiosamente? É um mundo tão perigoso que os ricos têm que viver em suas fortalezas móveis e que coloca em risco a simples visita de um presidente?
Queremos acompanhar o cortejo igualmente mobilizante e apaixonado que acompanha o carro fúnebre de um rapper sufi ou nos juntar ao movimento reacionário que atira ratos em protesto àquele capitalismo de rachaduras mais profundas.
Infelizmente, estamos presos dentro da limusine e na vida entediante do protagonista, assim como ele, ávido por novas emoções (ou sentir alguma de verdade pela primeira vez). Ficamos presos sem explorar todo o verdadeiro potencial daquele universo, assim como a câmera de Cronenberg em sua ambição de ser um Joyce das telas.

Direção: David Cronenberg
Roteiro: David Cronenberg
Elenco: Robert Pattinson, Juliette Binoche, Sarah Gadon, Mathieu Almaric, Jay Baruchel, Kevin Durand, K’Naan, Emily Hampshire, Samantha Morton, Paul Giamatti, Philip Nozuka e outros.
Direção de Fotografia: Peter Suschitzky
Edição: Ronald Sanders
Trilha Sonora: Howard Shore
Duração: 109 min
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama
Previsão de Lançamento: 07 de Setembro de 2012

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