Ela
acordou bem, tinha mais um dia pela frente. Um banho para animar. Um
bom café da manhã. Lá fora o típico calor do inverno paulistano.
Uma regata para sair. Não. Sim. Espelho. No fim a mesma regata. A
saia preferida. O cabelo ainda molhado do banho. Um batom para dar
uma corzinha no rosto. Uma última mordida na torrada, uma última
golada no café. Uma caneca com marca de batom. Uma última olhada no
espelho. Fones para escutar música nas mãos e sai. Volta, pega os
óculos e finalmente vai de vez.
Dia
lindo.
Ponto
de ônibus lotado. Não desanima. Desdenha, é rotina. Coloca os
óculos.
Curte a
música dentro do ônibus. Vaga um lugar, senta. Um homem senta do
lado, digo se esparrama no lugar com as pernas abertas. Ela jurou não
se estressar, levanta-se para não se injuriar. Não olha para trás
para evitar xingar. A música está boa e tem o cara de camiseta
branca. Tinha. Ele desce. Pena.
Chega a
estação de metrô. Vai com a muvuca catraca a dentro. Passa o
primeiro trem. O segundo, quem sabe consegue entrar no próximo. Um
empurrão aqui, outro ali, sem problemas. Lembra que jurou não se
estressar.
Entra
no vagão. Cotovelos, cabelos, bolsas, livros, revistas, música
alta, nenhuma novidade. Lembra é a rotina,
Que
acaba em um segundo, quando alguém segura o seu braço, tira a
música arrancando o fone e diz que se ela fizer alguma coisa ou
esboçar gritar que machucará o seu rosto. A saia preferida é
invadida, o corpo ultrajado, violentado, não consegue fazer nada,
está paralisada. Evita olhar, mas não consegue evitar de sentir.
Enjoo. Ninguém faz nada, a próxima estação não chega nunca,
alguém percebe e traz com a tentativa de ajuda a vergonha para o
pensamento dela, o homem deixa a saia levantada e o vagão. Foge.
Ela
arruma a saia e se vê rodeada pela vergonha, o medo e tudo e todo
turbilhão de pensamentos e não olha para o rosto de quem a ajuda.
O nojo
explode junto com o choro de pânico e o vômito como se quisesse se
livrar de toda a invasão sofrida.
Não
foi a primeira, nem última.Será
esquecida, mas nunca se esquecerá. Desconfiará de cada olhar que
receber, mesmo que seja do cara de camiseta branca.
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