domingo, 28 de agosto de 2011

Mulheres sem medo



Ela acordou bem, tinha mais um dia pela frente. Um banho para animar. Um bom café da manhã. Lá fora o típico calor do inverno paulistano. Uma regata para sair. Não. Sim. Espelho. No fim a mesma regata. A saia preferida. O cabelo ainda molhado do banho. Um batom para dar uma corzinha no rosto. Uma última mordida na torrada, uma última golada no café. Uma caneca com marca de batom. Uma última olhada no espelho. Fones para escutar música nas mãos e sai. Volta, pega os óculos e finalmente vai de vez.
Dia lindo.
Ponto de ônibus lotado. Não desanima. Desdenha, é rotina. Coloca os óculos.
Curte a música dentro do ônibus. Vaga um lugar, senta. Um homem senta do lado, digo se esparrama no lugar com as pernas abertas. Ela jurou não se estressar, levanta-se para não se injuriar. Não olha para trás para evitar xingar. A música está boa e tem o cara de camiseta branca. Tinha. Ele desce. Pena.
Chega a estação de metrô. Vai com a muvuca catraca a dentro. Passa o primeiro trem. O segundo, quem sabe consegue entrar no próximo. Um empurrão aqui, outro ali, sem problemas. Lembra que jurou não se estressar.
Entra no vagão. Cotovelos, cabelos, bolsas, livros, revistas, música alta, nenhuma novidade. Lembra é a rotina,
Que acaba em um segundo, quando alguém segura o seu braço, tira a música arrancando o fone e diz que se ela fizer alguma coisa ou esboçar gritar que machucará o seu rosto. A saia preferida é invadida, o corpo ultrajado, violentado, não consegue fazer nada, está paralisada. Evita olhar, mas não consegue evitar de sentir. Enjoo. Ninguém faz nada, a próxima estação não chega nunca, alguém percebe e traz com a tentativa de ajuda a vergonha para o pensamento dela, o homem deixa a saia levantada e o vagão. Foge.
Ela arruma a saia e se vê rodeada pela vergonha, o medo e tudo e todo turbilhão de pensamentos e não olha para o rosto de quem a ajuda.
O nojo explode junto com o choro de pânico e o vômito como se quisesse se livrar de toda a invasão sofrida.
Não foi a primeira, nem última.Será esquecida, mas nunca se esquecerá. Desconfiará de cada olhar que receber, mesmo que seja do cara de camiseta branca.

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