domingo, 17 de abril de 2011

O impune pensamento


Ela se via beijando o seu marido na porta de casa antes de ir trabalhar, depois ela voltava terminava de arrumar a mesa, tirava o café da cafeteira colocava delicadamente na mesa ao lado do leite que estava perto dos pães fresquinhos que seu marido comprou antes de sair, depois ia até o quarto chamava sua filhinha que se espreguiçava antes de abrir os olhinhos, se levantava comportada, depois vinha para a mesa sorridente para ir mais um dia á escola com a mãe...

Ela se viu e só. O sonho acabou.
As imagens, digo as ultimas imagens que ela viu não foram estas, foram de gritos, sangue, recheada com cheiro de medo e o pavor do desespero. Infelizmente isto aconteceu em um lugar cheio de brasileirinhos (como disse nossa presidente) que querendo ou não buscavam um futuro melhor.
Parece que temos um mecanismo um tanto quanto repugnante e contraditório a nossa espécie. Amnésia coletiva.
Pouco mais de um mês desde a tragédia do Japão, um pouco mais tempo das mortes de cívis da Líbia, este ano completa uma década do 11/09.
Por mais que saibamos que só o tempo cura, que o tempo nos faz esquecer, temos que nos obrigar a lembrar de certas coisas para que elas não se repitam, afinal de contas evoluimos com este processo de aprender e saber reter e passar adiante o que aprendemos.
Os dias vão passando e vemos as notícias com cada vez mais distanciamento, vemos bebês abandonados pelos pais, avós que acorrentan seus netos. É uma sobreposição de tragédias em nossas cabeças e quando não mais percebermos estaremos na Copa do Mundo (aquela sem aeroportos) nos jogos olímpicos do Rio 2016 e vamos lembrar do “Massacre de Realengo” como o caso deste ano do 11/09 quando completar uma década. Ou então até acontecer uma outra tragédia.
Deveríamos fazer uma campanha com a hashtag Não a amnésia coletiva em pról de uma sociedade um pouco, um pouquinho melhor.
Quanto ao texto termino com as imagens de um sonho interrompido.
... pela rua ela via sua filha brincar, via ela ir para escola feliz, ensaiando músicas que cantaria com seus amiguinhos, pensando nas estórias que escutaria até a hora de voltar para casa, jantar, dormir no colo do pai e ser levada para cama.
*A foto é do quadro de Salvador Dalí "A persistência da memória"

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