Por Alex Constantino
Quando
exploradores descobrem em registros de civilizações antigas pistas
daquela que pode ser a origem da vida na Terra, uma equipe
científica, financiada por uma megacorporação, é enviada a bordo
da espaçonave Prometheus em busca dos possíveis criadores da
espécie humana.
E esta
missão pode reservar um destino perigoso à humanidade, assim como
aquele do titã da mitologia grega (que empresta seu nome à nave)
que foi punido pelos deuses por ousar roubar o fogo divino e
entregá-lo aos homens.
Com essa
premissa Ridley Scott retorna, depois de mais de três décadas, ao
universo de Alien, o 8º passageiro, retomando a inovadora mistura de
ficção científica com horror e tentando expandir a mitologia da
série contando a origem de alguns elementos apresentados no filme de
1979.
O filme
possui um objetivo audacioso tentando desenvolver o tema da história
em duas linhas distintas que se entrelaçam.
A
primeira delas diz respeito aos humanos em sua busca por conhecer
seus criadores e a segunda trata da origem da mitologia criada em
Alien. É interessante como em ambas o diretor tenta explorar o tema
através da dinâmica entre criatura e criador em diversos níveis,
representando o conhecimento de que existem padrões que se replicam
na natureza, distinguindo-se apenas em seu grau de manifestação.
Isso fica
evidente quando no prólogo Scott apresenta sua versão adâmica do
ancestral do homem, numa mistura místico-religiosa com pitadas de
Nietzsche e uma boa dose de literatura pseudocientífica do naipe de
Eram os Deuses Astronautas? de Erich Von Daniken.
Porém, a
grande promessa dessa abordagem, que acaba não se concretizando no
decorrer da película, é a tentativa de reproduzir
no microcosmo da relação entre os humanos da nave e o
androide David (Michael Fassbender) a relação destes mesmos humanos
com seus supostos criadores, chamados no filme de engenheiros
(macrocosmo).
O que
seria uma correspondência inspirada que permitiria ao espectador
conhecer a relação maior observando a relação menor, acaba se
esvaindo na última metade do filme que se preocupa mais em enquadrar
a obra dentro da mitologia da famosa série de cinema do que contar
uma história autossuficiente e dramaticamente recompensadora. Com
isso, o diretor volta a insistir na mesma analogia empregando a
condição feminina da protagonista (Noomi Rapace) já utilizada em
Alien, repetindo uma simbologia gasta ao invés de apresentar novos
símbolos mais adequados à amplitude da premissa do filme.
Poderia o
diretor ter se apropriado mais da lenda do titã, que tão se amolda
à premissa maior da película como uma alegoria do esforço da
humanidade desde tempos remotos em decifrar o propósito de sua
existência e os perigos de alcançar tal conhecimento sem a
sabedoria para compreender e enfrentar a verdade quando finalmente
for encontrada.
E é
exatamente a tentativa de encaixar a história como um prelúdio que
acaba enfraquecendo o filme por conta da necessidade de incluir na
trama e na narrativa visual os elementos que justificassem essa
opção. É por causa dela que vemos soluções de roteiro pouco
inventivas e, algumas vezes, desconcertantemente inconsistentes,
ainda mais quando se tem em mente que o filme é obra de um cineasta
que tanto influenciou o gênero no cinema.
Há
personagens mal caracterizados e com comportamento conflitante com a
função que deveriam exercer na equipe/história, como o geólogo
brucutu (?!) que se acovarda inesperadamente e sendo o mais preparado
para se locomover na estrutura geológica que exploram acaba se
perdendo ou o biólogo que toma a atitude mais temerária (e menos
científica possível) ao se deparar com uma nova forma de vida.
Outros personagens sequer deveriam estar ali, como os dois pilotos da nave que não possuem qualquer relevância para a trama e não há justificativa para a existência de papéis redundantes. Infelizmente, nessa categoria se encontra também a personagem Vickers, interpretada por Charlize Theron, desperdiçada como uma fonte de contratempos menores na trama.
Há
pistas incluídas de maneira formulaica, cujas soluções
apresentadas são enfadonhas e previsíveis. É nesse sentido a
conversa da Dra. Shawn (Noomi Rapace) com o capitão da nave para
justificar a atitude deste no clímax ou a reprodução holográfica
da ação passada dos engenheiros como recurso que os roteiristas
utilizaram para forçar a apresentação de alguns pontos da trama
que eram necessários para o desenvolvimento da história.
Que dizer
então das falas desnecessárias e redundantes que explicitam fatos
já mostrados visualmente. Comete-se o pecado narrativo de contar ao
invés de mostrar, ou pior, contar depois de já ter mostrado, como o
desnecessário diálogo em que o capitão da nave (Idris Elba)
explica o que é a misteriosa instalação alienígena que
encontraram e que já tinha ficado evidente através da construção
narrativa tão bem desenvolvida até aquela cena.
O mesmo
ocorre no epílogo em que torna visualmente explícito algo que já
tinha ficado subentendido pela narrativa e que teria maior impacto se
permanecesse assim.
No fim, o
próprio diretor padece do mesmo destino de seus personagens ao ousar
desenvolver uma premissa tão grandiosa, ficando apenas a promessa
que não se concretiza numa grande história.
Ficha Técnica
Direção:
Ridley Scott
Roteiro:
Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco:
Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize
Theron, Idris Elba, Guy Pierce, Sean Harris, Rafe Spall, Emun
Elliott, Benedict Wong, Kate Dickie, Patrick Wilson, Lucy Hutchinson
e outros.
Direção
de Fotografia: Dariusz Wolski
Edição:
Pietro Scalia
Trilha
Sonora: Marc Stritenfeld
Duração:
124 min
País:
EUA
Ano:
2012
Gênero:
Drama – Ficção Científica
Lançamento:
15/06/2012
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