Por Alex Constantino
Adaptado
do romance homônimo de Jonathan Ames, o filme é a terceira incursão
no cinema do casal de diretores Robert Pulcini e Shari Springer
Berman (Anti-herói Americano, Diário de uma Babá), que juntos com
o autor original da estória também são os roteiristas.
Nele,
Louis Ives (Paul Dano), um jovem professor de inglês, é demitido
por conta de um incidente embaraçoso na escola envolvendo sua
fascinação por lingeries e, diante deste revés, resolve se mudar
para Nova Iorque para perseguir seu sonho de se tornar um escritor.
Chegando
na cidade consegue uma vaga no departamento de vendas de uma revista
ambiental, onde desenvolve um interesse romântico por sua colega de
trabalho, a vegan Mary Powell (Katie Holmes). Ao mesmo tempo aluga um
quarto no apartamento do excêntrico Henry Harrison (Kevin Kline) que
busca participar da glamorosa vida social da metrópole servindo como
acompanhante de viúvas velhas e milionárias.
O resumo
acima transmite a falsa impressão de que acompanharemos o
protagonista somente superando os percalços para alcançar a
desejada carreira profissional, mas a principal questão dramática
repousa na tentativa de mostrar uma típica jornada de
autodescoberta, em que os obstáculos externos representam uma ameaça
menor quando comparados com o grande conflito interno que enfrenta o
personagem.
E é
nesse ponto que o filme deixa a desejar porque a própria estória, a
seu modo, compartilha com o protagonista de uma certa crise de
identidade.
Embora
ambos os objetivos sejam claramente definidos desde o início e
alcançar qualquer deles seja difícil, mas ao alcance das
capacidades do protagonista, os realizadores pecam em demonstrar que
eles sejam realmente importantes ao personagem e que ele esteja
disposto a alcançá-los a qualquer custo, pois do contrário haveria
consequências graves.
Nem se
pode dizer que o primeiro objetivo é a forma como o segundo é
exteriorizado pelo personagem porque não é apresentada qualquer
correlação direta, uma vez que a dúvida enfrentada pelo
protagonista tem ligação com sua inibição e/ou inadequação
sexual e social.
Além
disso, sua fascinação por lingeries, assim como sua admiração
pelo autor americano F. Scott Fitzgerald e pela época em que este
viveu (cerca de 1920), mais do que ferramentas para impulsar a trama
ou dar profundidade ao personagem, funcionam como pretextos para os
elementos utilizados em sua caracterização (fala, comportamento,
roupas) e recursos adotados na narrativa, como o uso excessivo e
desnecessário de um narrador, uma fotografia competente, mas
monocromática e asséptica, transições com fade-ins e fade-outs,
etc.
Isso faz
com que o protagonista tenha características mais pitorescas do que
interessantes e também não se revela muito ativo em seus
comportamentos. Por exemplo, nenhum avanço dele rumo a concretizar a
meta de ser escritor é resultado direto de uma ação concreta e
consciente tomada nesse sentido, sendo que os próprios realizadores
sequer se preocupam em desenvolver muito essa vertente da trama.
Estranhamente,
ele é mais ativo quando se trata da subtrama envolvendo seu
interesse romântico, mas mesmo ela tem uma importância
circunstancial na transformação do personagem, embora sinta depois
os efeitos desta.
A própria
mudança de cidade, é mais uma desculpa para fazer o protagonista se
deparar com figuras igualmente pitorescas do que colocá-lo em
movimento rumo a seu destino.
O próprio
personagem vivido por Kevin Kline é a expressão da excentricidade,
muito mais colorido do que profundo, cuja piada mais inspirada diz
respeito a um grito off-screen chamando-o de “Asshole” enquanto
dirige loucamente seu carro enferrujado, uma referência à expressão
frequente utilizada pelo personagem Otto (também interpretado por
Kline) enquanto dirigia por Londres no filme Um Peixe Chamado Wanda.
Os demais
personagens também representam um apanhado caricato definido por
seus comportamentos exageradamente extravagantes, como o hirsuto
“ermitão urbano” Gershon Gruen (John C. Reilly) ou a boêmia e
bilionária octogenária Vivian Cudlip (Marian Celdes), que, assim
como Henry estão ali só para fazer com que o protagonista aceite
que todos têm suas próprias idiossincrasias.
A
película mistura uma estória de comédia, por onde transita um
protagonista de melodrama, cercado por um punhado de personagens
provenientes de uma farsa. Portanto, quando o personagem de Kevin
Kline exprime sua frase emblemática: “So here we are, where are
we? (aqui estamos nós, onde estamos?), não dá para deixar de se
imaginar retrucando, uma vez que se trata de um filme de
autodescoberta: Okay, but who are you? Why are you there? (Tudo bem,
mas quem é você? E porque está aí?
Ficha Técnica
Direção:
Robert Pulcini e Shari Springer Berman
Roteiro:
Robert Pulcini, Shari Springer Berman e Jonathan Ames
Produção:
Anthony Bregman e Stephanie Davis
Elenco:
Paul Dano, Kevin Kline, John C. Reilly, Katie Holmes, Marian Seldes,
Celia Weston, Patti D’Arbanville, dan Hedaya, Jason Butler Harner,
Jonathan Ames e outros.
Fotografia:
Terry Stacey
Edição:
Robert Pulcini
Trilha
Sonora: Klaus Badelt
Duração:
108 min
País:
EUA
Gênero:
Comédia
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